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Granjal, excerto 36

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Ercília Elina Emanuel
SurveyALEPG
Survey year1978
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF1 A perna criou o erisipelão todo.
[2]
O homem começou a ficar mal,
[3]
veio para Lisboa
[4]
veio da terra, das férias ,
[5]
veio para Lisboa,
[6]
começou a ficar muito malzinho, muito mal,
[7]
muito mal, foi para o hospital.
[8]
Foi para o hospital,
[9]
não lhe fizeram nada.
[10]
Tornou a [vocalização]
[11]
Disseram-lhe que talvez [pausa] fosse preciso cortar-lhe a perna por aqui, pelo quadril.
[12]
[pausa] Era um marceneiro, mas era um marceneiro!
[13]
Era um santo homem.
[14]
E depois [vocalização], coitadinho, vinha todos os dias o enfermeiro dar uma injecção e e curá-lo, tratá-lo.
[15]
INF2 Cortaram-lhe a perna?
[16]
INF3 Não senhor.
[17]
INF1 Não senhora.
[18]
Depois ele diz que cada vez que estava pior,
[19]
cada vez estava pior.
[20]
INF2 Pois é!
[21]
Estas coisas não lhe vale de nada remédios da farmácia.
[22]
INF1 Eu, um dia
[23]
Quer ver, eu vou-lhe dizer:
[24]
eu, um dia, ia a sair para a venda,
[25]
ia ter com o meu Emanuel que ele tinha ido à Ribeira buscar o peixe
[26]
e eu ia ter com ele, ao encontro dele para o ajudar para.
[27]
Ele pesava e eu levava-o às freguesas,
[28]
que [vocalização] não vêm as freguesas à rua.
[29]
Vai a gente tudo às casas.
[30]
Depois, o meu Emanuel
[31]
[vocalização] Eu ia a sair
[32]
e as, a, a a porteira disse-me assim: "Ó dona Ercília, ó dona Ercília"!
[33]
"Diga, dona Eufêmea"!
[34]
"Olhe, se vossemecê fizesse o favor logo de vir aqui ver o senhor Estevão.
[35]
Está tão malzinho, tão malzinho"!
[36]
"Então o que é que ele tem"?
[37]
Disse-lhe eu: "Que tem ele"?
[38]
INF2 Pois.
[39]
INF1 "Olhe, eu agora não tenho tempo, que vou ao encontro do meu marido para o ajudar".
[40]
"Mas a dona Ercília quando vem vem "?
[41]
"Venho, sim".
[42]
fui.
[43]
Ai, aquilo estava uma miséria!
[44]
Olhe, os médicos
[45]
INF2 Pois, os remédios não, para aqueles males [vocalização], dêem-lhe fogo!
[46]
INF1 Olhe, receitam
[47]
Olhe, olhe, receitaram-lhe banhos de permaganato.
[48]
Aquele permaganato meteu-se naquela pele
[49]
a pele era desta altura, a pele.
[50]
E a perna toda, e tudo [pausa] muito inchado, muito inchado!
[51]
INF2 Os doutores não querem crer nestas coisas.
[52]
INF1 Aquilo metia até metia medo!
[53]
Olhe, eu lhe atalhei o erisipelão.
[54]
[pausa] E fui-lhe cortar umas poucas de folhas de hera ao jardim do Miradoiro umas poucas de folhas de hera, umas poucas de
[55]
É aquelas folhinhas que eu vi que faziam bem.
[56]
INF2 Pois.
[57]
INF1 Cozi-lhas todas.
[58]
Tirei-lhe as peles todas por fora e depois com farinha triga e azeite
[59]
Eu primeiro [vocalização] com uma tesoura que desinfectei, [pausa] cortei-lhe as peles.
[60]
INF2 Cortaste-lhe as peles.
[61]
INF1 Eram lençóis e toalhas a apanhar aquele pus todo.
[62]
[vocalização] Era um pus muito amarelo!
[63]
INF2 Oh, coitadinho!
[64]
Cortavam-no todo!
[65]
INF3 Cortavam-lhe a perna,
[66]
não estavam para lha cortar!
[67]
INF1 E depois apanhei aquilo tudo
[68]
e cu- curei-lha.
[69]
Aquela vez curei-lha assim.
[70]
Pus-lhe [vocalização]
[71]
Ainda não tinha as folhinhas.
[72]
Depois de fazer aquilo é que eu fui apanhar.
[73]
Curei-lha assim.
[74]
Tirei-lhe aquela água toda fora,
[75]
esfreguei-lha com um bocadinho de azeite quente,
[76]
pus-lhe por cima a gaze, assim,
[77]
e à tarde
[78]
Isto foi ao, ao meio-dia.
[79]
À noite tornei com as folhinhas todas cozidas.
[80]
Cobri-lhe tudo, tudo de de azeite;
[81]
depois farinha triga,
[82]
e depois pus-lhe as folhinhas todas, todas por cima;
[83]
e depois embrulhei-o todo num lençol fresco, todo assim.
[84]
Ficou assim com a perninha.
[85]
Quando foi ao fim de oito dias o homem estava quase sarado.
[86]
Foi o enfermeiro.
[87]
Foi o enfermeiro
[88]
e disse assim: "Então [vocalização] "
[89]
Ele dava-lhe a injecção à mesma.
[90]
"Então não não me deixa ver a sua perna"?
[91]
"A minha perna está melhorzinha".
[92]
Ele dizia-lhe sempre que estava melhor mas não lhe dizia ao quem lha andava a tratar.
[93]
Bem, ele andou,
[94]
um dia calhou eu a estar-lha a curar
[95]
e entrou o enfermeiro.
[96]
Entrou o enfermeiro,
[97]
esteve a ver a minha vida.
[98]
Esteve a observar o meu tratamento.
[99]
E no fim, ao outro dia, tornou sozinho,
[100]
esperou a altura que eu não estava,

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