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Granjal, excerto 64

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectO porco e a matança
Informant(s) Élia Ercília Emanuel
SurveyALEPG
Survey year1978
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

Text: -


[1]
INF1 Mas olhe que quem matar um porquinho
[2]
INF2 É para dar aos filhos todos .
[3]
INF1 E aos netos.
[4]
INF2 Chouriças, moiras e .
[5]
INF1 É tudo.
[6]
Nós não comemos nada, a modo de dizer.
[7]
Olhe, mas
[8]
INF3 Olhe, ela não pode comer.
[9]
INF1 Mas, mas quem Mas quem
[10]
INF3 E eu também não.
[11]
INF1 Mas mesmo que seja pequenino
[12]
INF2 Eu também não posso comer.
[13]
INF1 Costuma-se dizer às vezes
[14]
A minha avó que Deus lhe perdoe dizia assim
[15]
[pausa] Ele, às vezes, eu dizia-lhe assim: "Nunca mais matais um porquinho!
[16]
Ponde-vos a matar um porquinho"!
[17]
Dizia-me ela para mim, a minha avó.
[18]
E [vocalização]: "Olha que diz que quando o teu vizinho matar um porco, mata tu um tordo!
[19]
Olha, conheceis a novidade de tudo"!
[20]
E é verdade.
[21]
Nem que seja pequenino, a gente conhece de tod- de tudo.
[22]
E escusa de a gente estar a olhar para as mãos dos outros.
[23]
E a gente nas feiras não sabe o que compra.
[24]
E em casa sabe o que tem.
[25]
[pausa] Pois é.
[26]
Nós estávamos os aninhos todos a matar.
[27]
Eu matava
[28]
Todos os anos matava um para mim e outro para uma minha filha que tenho em Lisboa, para a minha Juvina.
[29]
Ela este ano vai estranhar.
[30]
Mas [vocalização] que o mande comprar à feira.
[31]
Manda-o comprar.
[32]
Ela a mim também mo pagava.
[33]
Eu este ano não pude,
[34]
olha, não posso.
[35]
INF3 Ela manda a massa
[36]
e eu vou comprando
[37]
e mato,
[38]
pronto!
[39]
INF1 Ela manda o dinheiro
[40]
e a gente mata-lho.
[41]
INF3 E mais nada.
[42]
INF1 Vai-lho comprar a Trancoso ou ali em Sernancelhe, ou assim,
[43]
e mata-se-lhe.
[44]
INF2 Pois, eles sabem quem é.
[45]
INF1 Eles não podem fazer estas coisas.
[46]
Não têm adonde fazer estas coisas,
[47]
não
[48]
Nem o sal de
[49]
Não derrega.
[50]
INF3 Nem o sal aguenta a carne.
[51]
INF1 tu, o que faz a diferença às coisas.
[52]
INF3 O sal de Lisboa não derrega a carne.
[53]
INF1 Ó senhora dona Élia olhe que não derrega!
[54]
INF3 Eu vi aqui em Moimenta
[55]
INF1 E o nosso aqui derrega.
[56]
INF3 mais o meu cunhado Eusébio,
[57]
levámos daqui quase um porco inteiro,
[58]
tivemos que o botar quase todo fora.
[59]
INF1 Estragou-se tudo!
[60]
INF3 Estragou-se tudo!
[61]
INF1 Então foi como quando o meu irmão para foi
[62]
INF3 Salgámo-lo nos caixotes,
[63]
viemos [vocalização],
[64]
quando foi ao fim de pouco tempo estava tudo estragado.
[65]
INF1 Cheirava mal, muito mal.
[66]
INF3 Para botar fora.
[67]
INF1 Agora aqui é aqui também é o frio.
[68]
O frio é que ajuda a a fazer os fumeiros bons.
[69]
INF3 E quem derrega o sal?
[70]
É o tempo, a humidade.
[71]
INF1 É o tempo, a humidade.

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