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Vale Chaim de Baixo, excerto 20

LocalidadeVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Corália

Text: -


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[1]
INF Então as senhoras são daonde?
[2]
INF Ah, de Lisboa!
[3]
Ah!
[4]
INF Olhe
[5]
INF Sim.
[6]
Eu Eu sou uma pessoa que sou analfabeta.
[7]
E publiquei dois livrinhos.
[8]
INF Tenho este Tenho este prazer.
[9]
E uma coisa que tenho um grande desgosto
[10]
e gostava de não morrer sem re- ir realizar este sonho: era ir à televisão dizer poesia.
[11]
INF Mas é assim.
[12]
INF E eu como não sei ler, não
[13]
INF Não tenho [vocalização] comunicações nenhumas com pessoa nenhuma,
[14]
estou sozinha.
[15]
INF Assim não
[16]
E então não sei se se
[17]
INF Eu mandei um livrinho para o senhor Marco Paulo,
[18]
mas não sei se ele o recebeu, se não.
[19]
Não sei.
[20]
INF Gostava de ir ao programa dele.
[21]
INF Que ele também é um rapaz do campo e isso.
[22]
INF Mas não tenho direcção,
[23]
não tenho nada.
[24]
INF Não, não.
[25]
Não escrevi.
[26]
INF Mandei por mãos [pausa] porque não sabia a
[27]
INF Havia um senhor que fornece o armazém do meu filho,
[28]
INF e [vocalização] que tem uma irmã que vive perto dele.
[29]
INF Mas não me soube dar a direcção nem nada.
[30]
INF Pois é assim.
[31]
INF Sim.
[32]
INF Pois.
[33]
INF Pois, eu gostava de ir.
[34]
Gostava, pois, eu
[35]
INF Quer dizer, eu vou faço a poesia.
[36]
E depois uma menina, que eu vou
[37]
INF Sim.
[38]
Vou ditando
[39]
e a menina vai escrevendo.
[40]
INF E vou ajuntando.
[41]
E [vocalização] quando assim que tinha que desse [vocalização], e eu mandava para o rádio.
[42]
Para o rádio:
[43]
o rádio [nomepróprio], o rádio Lagoa.
[44]
E depois houve um poeta do Algoz,
[45]
INF que é o Manel Américo dos Santos, [pausa]
[46]
ouviu a [vocalização] minha poesia
[47]
e depois eu f- eu fui fazer entrevistas duas entrevistas ao rádio
[48]
e [vocalização] e depois o senhor disse que eu que era bonito fazer um livrinho,
[49]
INF para deixar para memória, porque era uma pessoa analfabeta,
[50]
e era uma pessoa da terra, nascida da terra,
[51]
INF e que, enfim,
[52]
e que era bonito.
[53]
E então eu, nessa altura, pus assim ideias de fazer o livro.
[54]
Mas pensei: "Não posso [pausa] porque não tenho ajudas,
[55]
nem tenho posses para isso"!
[56]
E depois houve
[57]
O senhor disse-me: "Olhe, , peça ajudas às juntas de freguesia, [pausa] que eles ajudam!
[58]
Que eles ajudam"!
[59]
INF Mas ajudaram poucachinho.
[60]
E eu ali naquela altura, pensei assim: "Eu, calhando, dou feito".
[61]
Mas fui pedir mas não aceitavam.
[62]
Diziam que me davam
[63]
Aquilo a edição era uns, uns tre- uns trezentos contos.
[64]
E então eu não podia.
[65]
E depois eu [pausa] fiquei com pena
[66]
davam-me pouco
[67]
fiquei com pena de não publicar o livro.
[68]
INF E então nessa altura, esse poeta ouvia a minha poesia
[69]
e gostava
[70]
e e ofereceu-se a passar à máquina para ir para o editor.
[71]
INF E então arranjava a poesia aqui no Algarve, em Algoz e ali em Lagoa ,
[72]
e eu ele depois mandava para Lisboa.
[73]
Em Lisboa é que era arranjado.
[74]
INF Pois.
[75]
E então foi assim.
[76]
E eu,
[77]
INF naquela altura que eu
[78]
INF Sim.
[79]
Olhe, desses tenho para dezasseis [pausa] livros.
[80]
Mil livros que eu fiz!
[81]
Tenho dezasseis.
[82]
INF O mais vendi tudo.
[83]
E agora fiz outros mil.
[84]
INF [vocalização] Foi a publicação agora dia 18, [pausa] minha senhora.
[85]
Mas eu naquela fase que eu [pausa] pensava que havia de fazer o livro
[86]
Tinha ideias.
[87]
Pus ideias que ja-
[88]
INF que dava, assim como o senhor dizia, que dava feito;
[89]
e depois vi.
[90]
Aquilo voltou-se,
[91]
o dinheiro era pouco,
[92]
INF não conseguia,
[93]
estava triste,
[94]
sentia-me triste.
[95]
INF Mas depois o meu marido disse assim: "Olha, tu [pausa] que tens tanta pena,
[96]
e eu agora, também tenho pena de não fazeres
[97]
Olha, a gente põe um
[98]
Eu pranto um tanto da minha algibeira, que é a mesma que a tua,
[99]
mas faz falta
[100]
INF para o nosso governo da vida, pronto,

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