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Vale Chaim de Baixo, excerto 20

LocationVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Corália
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF Então as senhoras são daonde?
[2]
INF Ah, de Lisboa!
[3]
Ah!
[4]
INF Olhe
[5]
INF Sim.
[6]
Eu Eu sou uma pessoa que sou analfabeta.
[7]
E publiquei dois livrinhos.
[8]
INF Tenho este Tenho este prazer.
[9]
E uma coisa que tenho um grande desgosto
[10]
e gostava de não morrer sem re- ir realizar este sonho: era ir à televisão dizer poesia.
[11]
INF Mas é assim.
[12]
INF E eu como não sei ler, não
[13]
INF Não tenho [vocalização] comunicações nenhumas com pessoa nenhuma,
[14]
estou sozinha.
[15]
INF Assim não
[16]
E então não sei se se
[17]
INF Eu mandei um livrinho para o senhor Marco Paulo,
[18]
mas não sei se ele o recebeu, se não.
[19]
Não sei.
[20]
INF Gostava de ir ao programa dele.
[21]
INF Que ele também é um rapaz do campo e isso.
[22]
INF Mas não tenho direcção,
[23]
não tenho nada.
[24]
INF Não, não.
[25]
Não escrevi.
[26]
INF Mandei por mãos [pausa] porque não sabia a
[27]
INF Havia um senhor que fornece o armazém do meu filho,
[28]
INF e [vocalização] que tem uma irmã que vive perto dele.
[29]
INF Mas não me soube dar a direcção nem nada.
[30]
INF Pois é assim.
[31]
INF Sim.
[32]
INF Pois.
[33]
INF Pois, eu gostava de ir.
[34]
Gostava, pois, eu
[35]
INF Quer dizer, eu vou faço a poesia.
[36]
E depois uma menina, que eu vou
[37]
INF Sim.
[38]
Vou ditando
[39]
e a menina vai escrevendo.
[40]
INF E vou ajuntando.
[41]
E [vocalização] quando assim que tinha que desse [vocalização], e eu mandava para o rádio.
[42]
Para o rádio:
[43]
o rádio [nomepróprio], o rádio Lagoa.
[44]
E depois houve um poeta do Algoz,
[45]
INF que é o Manel Américo dos Santos, [pausa]
[46]
ouviu a [vocalização] minha poesia
[47]
e depois eu f- eu fui fazer entrevistas duas entrevistas ao rádio
[48]
e [vocalização] e depois o senhor disse que eu que era bonito fazer um livrinho,
[49]
INF para deixar para memória, porque era uma pessoa analfabeta,
[50]
e era uma pessoa da terra, nascida da terra,
[51]
INF e que, enfim,
[52]
e que era bonito.
[53]
E então eu, nessa altura, pus assim ideias de fazer o livro.
[54]
Mas pensei: "Não posso [pausa] porque não tenho ajudas,
[55]
nem tenho posses para isso"!
[56]
E depois houve
[57]
O senhor disse-me: "Olhe, , peça ajudas às juntas de freguesia, [pausa] que eles ajudam!
[58]
Que eles ajudam"!
[59]
INF Mas ajudaram poucachinho.
[60]
E eu ali naquela altura, pensei assim: "Eu, calhando, dou feito".
[61]
Mas fui pedir mas não aceitavam.
[62]
Diziam que me davam
[63]
Aquilo a edição era uns, uns tre- uns trezentos contos.
[64]
E então eu não podia.
[65]
E depois eu [pausa] fiquei com pena
[66]
davam-me pouco
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fiquei com pena de não publicar o livro.
[68]
INF E então nessa altura, esse poeta ouvia a minha poesia
[69]
e gostava
[70]
e e ofereceu-se a passar à máquina para ir para o editor.
[71]
INF E então arranjava a poesia aqui no Algarve, em Algoz e ali em Lagoa ,
[72]
e eu ele depois mandava para Lisboa.
[73]
Em Lisboa é que era arranjado.
[74]
INF Pois.
[75]
E então foi assim.
[76]
E eu,
[77]
INF naquela altura que eu
[78]
INF Sim.
[79]
Olhe, desses tenho para dezasseis [pausa] livros.
[80]
Mil livros que eu fiz!
[81]
Tenho dezasseis.
[82]
INF O mais vendi tudo.
[83]
E agora fiz outros mil.
[84]
INF [vocalização] Foi a publicação agora dia 18, [pausa] minha senhora.
[85]
Mas eu naquela fase que eu [pausa] pensava que havia de fazer o livro
[86]
Tinha ideias.
[87]
Pus ideias que ja-
[88]
INF que dava, assim como o senhor dizia, que dava feito;
[89]
e depois vi.
[90]
Aquilo voltou-se,
[91]
o dinheiro era pouco,
[92]
INF não conseguia,
[93]
estava triste,
[94]
sentia-me triste.
[95]
INF Mas depois o meu marido disse assim: "Olha, tu [pausa] que tens tanta pena,
[96]
e eu agora, também tenho pena de não fazeres
[97]
Olha, a gente põe um
[98]
Eu pranto um tanto da minha algibeira, que é a mesma que a tua,
[99]
mas faz falta
[100]
INF para o nosso governo da vida, pronto,

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