Representação em frases

Lavre, excerto 19

LocalidadeLavre (Montemor-o-Novo, Évora)
AssuntoO porco e a matança
Informante(s) Aramis

Texto: -

[1]
INF Porco.
[2]
INF É uma Isto é uma vara.
[3]
INF Uma vara de porcos, [pausa] quando é na engorda.
[4]
INF Na engorda.
[5]
INF [vocalização] É um rebanho.
[6]
Isso é um rebanho.
[7]
Mas quando é para…
[8]
Perde aí…
[9]
Perde perde o reba- o nome de rebanho para depois ser uma vara de porcos.
[10]
INF Para engordar.
[11]
Que andam a engordar.
[12]
Dentro do campo, andam no campo, nas boletas…
[13]
INF É uma bole- É a boleta.
[14]
Chama-se uma vara de porcos.
[15]
Já deixou de ser um rebanho de porcos para ser uma vara de porcos.
[16]
INF Por causa de ser para engordar.
[17]
INF Pois.
[18]
Que é para isso, mais nada.
[19]
É por isso é que fica com aquele nome diferente.
[20]
INF Não senhora.
[21]
INF Mas isso já não é vara.
[22]
Isso é Isso é um rebanho de porcos.
[23]
INF Ou um rebanho de porcas, vá, vamos lá…
[24]
INF Mas quando é para engordar, que anda que anda um moiral com eles a engordar como eu andei, a engordar porcos…
[25]
O porco ali…
[26]
Começa-se ali a pôr o porco ali [vocalização] em Setembro, [vocalização] na boleta,
[27]
saem gordos.
[28]
Engordam.
[29]
Põem-se lá porcos, por exemplos, com trinta quilos,
[30]
vinte e tal quilos, saem de lá com cento e tal, ali em em Janeiro, quando é nos fins de Janeiro.
[31]
INF Pois, quatro mesezitos.
[32]
A boleta, só a boleta, mais nada!
[33]
Não comem mais nada que é a boleta!
[34]
A boleta.
[35]
INF Oh! É a melhor que há!
[36]
Essa é que era carne!
[37]
Que a gente comprava um porco, uma pá dum porco, punha-a ali dentro duma salgadeira – chamávamos a gente uma salgadeira –, com sal e coiso.
[38]
Tinha toucinho ali do bom, todo o ano, todo o ano!
[39]
Dava para um ano!
[40]
Vá lá agora comprar porcos desses desses de agora brancos e doutras qualidades mais…
[41]
INF Não senhora.
[42]
INF Porcos alentejanos,
[43]
porcos pretos.
[44]
Pretos, também não eram bem pretos!
[45]
Eram ruivos.
[46]
INF Pronto!
[47]
Há o porco preto [pausa] – também saíam alguns pretos, mas isso era .
[48]
INF Mas é o porco ruivo.
[49]
INF Pois.
[50]
E a, e a Porco alentejano, vá.
[51]
Que é mesmo o próprio nome do por- do porco alentejano.
[52]
INF E há outro porco branco, que era o porco o porco que veio aqui do norte.
[53]
Que os do norte é que usavam muito isso desses porcos.
[54]
INF Até lhe digo:
[55]
para usar no chiqueiro, dão talvez mais resultado que davam os outros.
[56]
É que davam mesmo mais resultado!
[57]
Engordavam mais depressa.
[58]
INF Estão mais Os outros estavam mais porcos para andar no campo.
[59]
Durante o Verão, andavam na respiga, que era a comer as respigas de coiso, andavam na relva
[60]
e, chegando o tempo da boleta, começavam a comer boleta, engordavam.
[61]
Quer dizer que só tinham…
[62]
O dono só tinha despesa [pausa] com o moiral durante o ano.
[63]
Não tinha mais despesa nenhuma;
[64]
não lhe dava mais nada durante o ano.
[65]
Pronto.
[66]
INF Era só nos restolhos dos trigos, nos restolhos, nas nas ervas [vocalização]…
[67]
E depois chegava-se o tempo da boleta,
[68]
começávamos nos restolhos – é claro, os restolhos é ali em Agosto, Setembro.
[69]
Assim que começavam a pingar as boletas, o tal bastão começava a aparecer, eles começavam a comer, engordavam os porcos, pronto.
[70]
INF Quando era ali em Janeiro, tinha ali duzentos, ou trezentos, ou isso – conforme fosse a herdade –, porcos gordos,
[71]
e isso estava ali tudo a andar.

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