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Ponta Garça, excerto 3

LocationPonta Garça (Vila Franca do Campo, Ponta Delgada)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Amílcar Aristóbulo Amós
SurveyALEPG
Survey year1996
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF1 Do linho [pausa] ?
[2]
Ai, senhor, do linho, haver de de me dizer
[3]
INF1 Ele semeava-se
[4]
Não senhor.
[5]
INF1 Semeava-se
[6]
Ele as senhoras co- conhecem a semente do linho, não conhecem?
[7]
INF1 É uma sementinha muito miudinha não é?
[8]
INF2 Linhaça.
[9]
INF1 É uma linha-.
[10]
Tratam linhaça, que é a semente que até é muito diz que é muito bom para deitar em vistas quando [vocalização] quando estão inflamadas e que no tempo a gente deitavam.
[11]
Na nossa casa deitava-se.
[12]
Se tinha alguma coisa dentro, aquilo no outro dia
[13]
A gente deitavam um grãozinho daquilo,
[14]
e aquilo limpava a vista.
[15]
Tirava tudo para fora.
[16]
Aquilo semeava-se na terra, um bocadinho de terra daquilo, não é?
[17]
Aquilo crescia, não é?
[18]
Então quando estava assim grandinho, aquilo era mondado:
[19]
[pausa] tirava aquela erva que na- que não era boa para o li- para o linho crescer.
[20]
As mulheres as raparigas iam mondar aquilo.
[21]
Nem sequer os homens mondavam mondavam ele.
[22]
Se tinham tempo, os homens também ajudavam a mondar.
[23]
Mas quase sempre era as raparigas que trabalhavam nisso.
[24]
Ele crescia mais um bocadinho, não é?
[25]
Crescia.
[26]
Ele o linho era com os rapazes, outra vez, e as raparigas , era tudo amaçado, boleado tudo.
[27]
É muito bem ele amaçado.
[28]
INF3 Fica tudo inchadíssimo.
[29]
INF1 Para ele tombar.
[30]
Para ele ficar tombado, a dormir para ali.
[31]
Ficava ali.
[32]
E ele vindo dali é que se põe em outra vez
[33]
chegava a fim de muito tempo,
[34]
ele ia-se pondo em , até ele espigar e dar a semente outra vez.
[35]
Chegava a altura de a semente estar cheia,
[36]
[pausa] as pessoas arrancavam o linho e [vocalização] traziam-lhe para casa.
[37]
Havia um ripanço.
[38]
[pausa] A senhora, eu não sei se sabem o que é um ripanço?!
[39]
INF1 Com uns dentes assim de ferro, sim senhora.
[40]
Encostavam-lhe Encostavam aquilo num banco.
[41]
INF2 Calçavam-lhe uma pedra.
[42]
INF1 Calçavam Calçavam duas pedras aqui gran- pesadas para alevantar o banco;
[43]
calçavam o o ripanço atrás com uma pedra também pesada, não é,
[44]
e as mulheres ripavam aquilo, [pausa] para ele para a semente cair toda, para ele para tirar a semente, para o ano ter semente outra vez.
[45]
Depois de o linho estar ripado, o linho é ali estendido em currales de reses que havia muito curral de reses no outro
[46]
INF2 Ali vinha um pau descaído.
[47]
INF1 Num lugar duro! mesmo quando é na na terra.
[48]
Num lugar firme!
[49]
[vocalização] Chão duro!
[50]
E aquilo estava para ali a secar.
[51]
Acabava de secar
[52]
estava ali uma temporada a secar, não é? ,
[53]
acabava de secar,
[54]
o linho ia para o forno.
[55]
As mulheres coziam pão
[56]
e o linho entrava para o forno e coiso.
[57]
Depois de tirar o pão, e o forno quente, [pausa] aquilo estava tudo em mancheias,, [pausa] para o forno, a secar!
[58]
INF2 Iam as mancheias.
[59]
INF1 Acabava [vocalização] de secar bem quando ele estava bem seco
[60]
havia aqui nesta casa do meu sobrinho, que é aqui nessa entrada dessa canada , havia ali um umas pedras de mármore [pausa] que era de amaçar o linho.
[61]
INF2 Com ajuda
[62]
INF1 As mulheres todas ali, que ele aquilo é:
[63]
estava sempre a pedir-se.
[64]
Quando o linho acabava, entrava outro.
[65]
INF2 À peaça.
[66]
INF1 A casa da minha madrinha tinha um celeiro.
[67]
Era o lugar de onde amaçava o linho.
[68]
INF1 Com uma maça.
[69]
Com uma maça de madeira.
[70]
Ainda te- Ainda tenho uma em casa também.
[71]
As mulheres a- ele amaçavam aquilo muito bem amaçado.
[72]
Acabavam de amaçar o linho,
[73]
o linho entrava outra vez para o forno.
[74]
Ia outra vez ao forno
[75]
e do forno ia para as pastagens.
[76]
Se- [vocalização] Estendiam nas pastagens [pausa] depois de o pasto est-, ta- estar comido.
[77]
Ele não é com a erva grande!
[78]
É quando ele as vacas acabavam de comer o pasto, as mulheres pediam aos lavradores:
[79]
"Eh, meu tio, podes-me deixar estender linho no teu pasto"? e assim, e assim.
[80]
Ele deixava.
[81]
Estendiam aquilo tudo.
[82]
Havia temporadas de vento que, às vezes, enrolava aquilo tudo para os combros, para as barreiras.
[83]
Ele larga-as.
[84]
Era a dizer a elas:
[85]
"O linho que está por , vocês vão ver o linho, que aquilo está ali tudo de lapa".
[86]
Andavam as pobrezinhas a juntar aquilo outra vez para deitar aquilo tudo.
[87]
Quando a erva pegava bem no linho [pausa] é que o vento nunca mais levantava ele.
[88]
INF1 Aquilo estava ali uns tempos outra vez, imenso,
[89]
e traziam o linho para baixo.
[90]
Ala!
[91]
Ele Ele o linho para baixo outra vez para as
[92]
[pausa] Havia três mulheres que trabalhavam o linho,
[93]
que era [pausa] gramar o linho.
[94]
INF2 O linho.
[95]
INF1 Com uma gramadeira, gramar o linho!
[96]
Depois de o linho gramado, ia para o para as costas de uma cadeira [pausa] para a tasquinha, para tasquinhar o linho.
[97]
INF1 [vocalização] Para pôr o linho fine!
[98]
INF2 Pois, o linho fine.
[99]
INF1 A tasquinha é que tirava aquela folhada toda do linho.
[100]
Aquilo tudo que não prestava caía fora.

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