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Ponta Garça, excerto 45

LocalidadePonta Garça (Vila Franca do Campo, Ponta Delgada)
AssuntoO linho, a lã e o tear
Informante(s) Andreia Amílcar

Text: -


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[1]
INF1 A gente, primeiro, a gente temos uma urdideira [pausa] donde a gente levam [vocalização]
[2]
Eu ponho ali na servidão, porque é preciso um campo grande.
[3]
Os rapazes tiram-me a carrinha para fora
[4]
e eu, ali na servidão, eu ponho um [vocalização] , quer dizer, um uma grade.
[5]
Até para se mostrar se [vocalização]
[6]
INF1 Sim senhor.
[7]
INF2 É espécie de grade.
[8]
INF1 É.
[9]
Como uma grade.
[10]
A gente mesmo chamam aquilo a urdideira.
[11]
INF1 Aquilo é a urdideira.
[12]
INF2 [vocalização] Eu começo a urdir
[13]
A gente, antigamente, a gente tinha era um [vocalização] caixote deste tamanho com doze [vocalização] quadradinhos, porque [vocalização] a gente ali punha era [vocalização] cada novelo em si.
[14]
Mas eu [vocalização] nunca quis fazer, porque os fios pegavam muito.
[15]
Eu nunca fiz,
[16]
nunca fiz
[17]
Eu ia urdir para casa da senhora Andrelina.
[18]
Essa senhora morreu,
[19]
vendem o tear,
[20]
e o que é que eu inspirei?
[21]
Eu disse:
[22]
"Ah!
[23]
Vai ser com tigelas"!
[24]
E eu fazia doze tigelas
[25]
e punha ali no chão
[26]
e fazia.
[27]
Agora a gente [vocalização] compram,
[28]
não é
[29]
Porque a gente era meadas que a gente compravam.
[30]
A gente levavam à dobadoura [pausa] que era para dobar
[31]
Fazia os novelos.
[32]
Ele agora vendem é umas cepolas de linha.
[33]
[pausa] E eu, com aquelas cepolas, eu ponho doze,
[34]
[vocalização] às vezes, eu ponho as garrafas de gás, ou coisa.
[35]
E punha-se
[36]
Ah, o restelo também está ali.
[37]
Que eu até pensei [vocalização]
[38]
INF1 Eu ponho o restelo,
[39]
passo o fio
[40]
e começo a urdir com a espadilha que é como uma faca grande, tudo cheio de buraquinhos, aquilo.
[41]
Agora, eu sempre fui puxando, [pausa] quer dizer, não aquilo que me ensinaram porque eu não nasci aprendida, foi uma senhora que me ensinou
[42]
Ela urdia com doze novelos.
[43]
E eu, tu- [vocalização] para ser mais prático para mim, encurtecendo sempre o serviço, eu fui [vocalização]
[44]
Porque o meu pai é que me fez aquela espadilha;
[45]
e ele, quando me fez aquela espadilha, ele pôs mais buraquinhos, mais furinhos.
[46]
E ele [vocalização] E a minha mãe disse assim: "Para que será que estás fazendo isso à rapariga"?
[47]
E ele disse: "Ah, nunca se sabe para o que é que é preciso".
[48]
E eu agora vou-me aumen- fui aumentando sempre um fio, sempre um fio
[49]
Porque a gente temos as nossas contas aqui todas.
[50]
Era doze fios para passar aqui e tudo, pronto.
[51]
[vocalização] E eu fui sempre pondo um fio até que eu vou até [vocalização] dezasseis [vocalização] novelos.
[52]
Em lugar de eu pôr [vocalização] doze, eu ponho dezasseis,
[53]
eu faço três cabrestilhos
[54]
e me reserva um.
[55]
Em lugar de eu fazer quatro cabrestilhos, eu faço três
[56]
e a conta dos fios me [vocalização] aquilo que eu [vocalização]
[57]
Quer dizer, [vocalização] fazendo sempre o serviço, mas [vocalização] 'encurtecendo-me' sempre o serv- o trabalho.
[58]
A gente quando tem o [vocalização], a a [vocalização] teia urdida, [pausa] com a largura da [vocalização] da haste e do liço, eu faço uma meada.
[59]
Ponho numa [vocalização] numa pana ou num saco plástico naquilo que a gente entende
[60]
e [vocalização] trago para aqui.
[61]
Aqui é preciso três pessoas para [vocalização]
[62]
INF1 para carregar.
[63]
Até, noutro dia, eu disse à rapariga: "Tu hás-de ver se me tiras algumas fotografias.
[64]
[pausa] A gente carregando".
[65]
[vocalização] Quer dizer, eu estou a ver que devia ficar sem esse serviço, porque não posso.
[66]
E eu, isto, eu adoro isso.
[67]
INF1 Eu canso muito,
[68]
[pausa] mas [vocalização] aqui o bocadinho que eu estou, eu penso até que não me faz mal.
[69]
Faz-me mal
[70]
mas eu penso que não faz, porque eu gosto muito disso.
[71]
Eu com catorze anos
[72]
A minha vida foi essa.
[73]
Sei fazer os meus pontinhos,
[74]
sei fazer malha,
[75]
sei fazer renda,
[76]
sei marcar,
[77]
bordei à máquina.
[78]
Isto tudo eu sei fazer!
[79]
Mas eu adoro é isso!
[80]
Isso eu adoro!
[81]
E eu não sei se aquele senhor sabe muito bem que a gente tem a nossa vida , trabalhavam muito pelas terras!
[82]
INF2 Então não trabalhavam?!
[83]
[vocalização] Antigamente, as mulheres iam olhando pelas terras.
[84]
INF1 A gente trabalhavam muito pelas terras,
[85]
mas a minha mãe [pausa] sempre nos deixou aprender aquilo que a gente desejavam!
[86]
Tanto eu como as minhas ir-.
[87]
A minha irmã Andresa também sabe tecer.
[88]
INF2 Também sabe tecer.
[89]
INF1 É.
[90]
Também sabe tecer.
[91]
Ela ficou foi doente da coluna
[92]
e deixou porque ela vinha
[93]
INF2 E fiar também?
[94]
INF1 Não, ela não fiava.
[95]
Ela vinha era para aqui.
[96]
Porque ela não sabe muito bem urdir.
[97]
E depois ela não sabe dividir as cores.
[98]
E eu é que dividia.
[99]
Punha tudo à maneira dela [vocalização] de ela tecer.
[100]
E ela, ela ganhou um bom dinheirinho aqui.

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