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São Lourenço da Montaria, excerto 4
Text: -
INF A gente, ele vivemos para trabalhar e para [vocalização] para atender ao que faça falta, não é?
Olhe, vi-me um bocadinho aperreada [pausa] porque quando [vocalização] o meu marido morreu – só estive casada catorze anos –, [pausa] e [vocalização] a mais velha ainda não tinha…
O, o, o ma- A mais novinha, que é esta, tinha dois anos e meio!
O que me vale tinha uma irmã – que também já faleceu, coitada –,
[pausa] e essa ajudava-me muito.
e andava assim a servir sempre pouco.
Pouco, pouca gente… Tra- Trabalhava era de cozinha e assim pelos fidalgos – não é? –
e ganhava um ordenadinho grande.
E ajudou-me muito a criar os filhos.
Isso digo quanto é verdade.
E depois pouco trabalhinho me deu
O bocadinho que tinha deixou-mo a mim.
Nós éramos cinco raparigas e dois rapazes – [vocalização] irmãs minhas.
E ela ficou assim a viver comigo aqui na casa, não é?
e ela ficou a viver comigo.
E depois ajudou-me muito.
E depois, coitada, também teve uma morte muito, muito triste.
Foi para Estava em Lisboa [pausa] –
e eu tenho um sobrinho casado em Leiria –
e [vocalização]: "Vou passar o Carnaval com o sobrinho a Leiria".
Ele a patroa dava-lhe o dinheiro para vir para acá
e ela diz: "Ah, vou onde ao Antenor que eu nunca fui a Leiria e vou a Fátima".
No dia de Carnaval foram para baixo, para a Marinha Grande, ou não sei o quê, e ela muito muito satisfeita.
Depois – segundo contavam – [pausa] veio um [vocalização] um vagabundo que vinha meio bêbedo,
E ele diz que já ia devagar, o meu sobrinho,
atrás matou um homem, que vinha de mota,
veio dar no carro do meu sobrinho
e consoante o carro deu no carro do meu sobrinho, o carro revirou [pausa] e bateu num poste…
Olhe Olhe com que força não bateu no poste que lhe ele deu com força que partiu o poste da luz!
E caiu para baixo para um [vocalização] monte.
O meu sobrinho pouco sofreu e a mulher e um pequenino que traziam com eles.
Mas ela ia [vocalização] era atrás,
deu com a cabeça em cima,
[vocalização] foi logo no crânio.
Ainda esteve Ainda esteve seis semanas em estado comum – comum ou comum, ou não sei quê – no hospital de de Coimbra.
Ali, ali assim, seis semanas!
INF Veja lá, nem nem falar, nem…
INF Depois, lá me faleceu;
depois trouxemo-la para acá.
Foi a que me ajudou, coitada.
INF A vida era assim: dura de de romper com ela.
INF A gente, olhe que íamos…
Eu ia [vocalização] para os lados de lá daquela serra, às Arcas – os senhores não devem saber onde são as Arcas lá do lado dacolá –, ao milho.
A gente colhíamos pouco milho porque havia pouco quem o vendesse.
Eu ia buscar trinta quilos de milho à cabeça [pausa]
INF lá para cima, para detrás daquela serra que se vê acolá.
Tudo para alá, mas muito longe!
Que Que a gente levava-lhe mais [vocalização], a andar [vocalização], duas horas e meia a lá chegar.
E [vocalização] E a gente, ai, custou muito!
Depois, [vocalização] ainda tecia…
A minha falecida mãe tecia;
eu ia levar as coisinhas que ela tecia.
Eu ia ou para os lados de Âncora – que se ande para a banda de lá –, ou para os lados donde tenho as irmãs, para o lado da Arzela [vocalização] para levar a vida, para a gente ganhar u- uns tostõezinhos para poder [pausa] romper com a vida.
Quem encomendava, às vezes, davam até o, a, o [vocalização] a lã e assim [vocalização].
E [vocalização] a gente tecia
Ganhava aquele bocadinho, só.
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