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São Lourenço da Montaria, excerto 4

LocationSão Lourenço da Montaria (Viana do Castelo, Viana do Castelo)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Anselmina
SurveyALEPG
Survey year1981
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo, Ana Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF A gente, ele vivemos para trabalhar e para [vocalização] para atender ao que faça falta, não é?
[2]
INF Para os filhos.
[3]
Olhe, vi-me um bocadinho aperreada [pausa] porque quando [vocalização] o meu marido morreu estive casada catorze anos , [pausa] e [vocalização] a mais velha ainda não tinha
[4]
INF Ah!
[5]
O, o, o ma- A mais novinha, que é esta, tinha dois anos e meio!
[6]
Veja , tudo pequeno.
[7]
A gente viu-se mal.
[8]
O que me vale tinha uma irmã que também faleceu, coitada ,
[9]
[pausa] e essa ajudava-me muito.
[10]
Essa ele estava solteira
[11]
e andava assim a servir sempre pouco.
[12]
Pouco, pouca gente Tra- Trabalhava era de cozinha e assim pelos fidalgos não é?
[13]
e ganhava um ordenadinho grande.
[14]
E ajudou-me muito a criar os filhos.
[15]
Isso digo quanto é verdade.
[16]
Deus a tenha no céu que!
[17]
E depois pouco trabalhinho me deu
[18]
que ela
[19]
O bocadinho que tinha deixou-mo a mim.
[20]
Nós éramos cinco raparigas e dois rapazes [vocalização] irmãs minhas.
[21]
E ela ficou assim a viver comigo aqui na casa, não é?
[22]
A casa ficou para mim
[23]
e ela ficou a viver comigo.
[24]
E depois ajudou-me muito.
[25]
E depois, coitada, também teve uma morte muito, muito triste.
[26]
Foi para Estava em Lisboa [pausa]
[27]
e eu tenho um sobrinho casado em Leiria
[28]
e [vocalização]: "Vou passar o Carnaval com o sobrinho a Leiria".
[29]
Ele a patroa dava-lhe o dinheiro para vir para acá
[30]
e ela diz: "Ah, vou onde ao Antenor que eu nunca fui a Leiria e vou a Fátima".
[31]
Foi para .
[32]
No dia de Carnaval foram para baixo, para a Marinha Grande, ou não sei o quê, e ela muito muito satisfeita.
[33]
Depois segundo contavam [pausa] veio um [vocalização] um vagabundo que vinha meio bêbedo,
[34]
deu uma meia
[35]
E ele diz que ia devagar, o meu sobrinho,
[36]
ia desviar-se.
[37]
Foi contra ele mat-,
[38]
atrás matou um homem, que vinha de mota,
[39]
atirou com o homem
[40]
e matou-o.
[41]
E veio adiante,
[42]
veio dar no carro do meu sobrinho
[43]
e consoante o carro deu no carro do meu sobrinho, o carro revirou [pausa] e bateu num poste
[44]
Olhe Olhe com que força não bateu no poste que lhe ele deu com força que partiu o poste da luz!
[45]
E caiu para baixo para um [vocalização] monte.
[46]
O meu sobrinho pouco sofreu e a mulher e um pequenino que traziam com eles.
[47]
Mas ela ia [vocalização] era atrás,
[48]
deu com a cabeça em cima,
[49]
[vocalização] foi logo no crânio.
[50]
Pronto!
[51]
Ainda esteve Ainda esteve seis semanas em estado comum comum ou comum, ou não sei quê no hospital de de Coimbra.
[52]
Ali, ali assim, seis semanas!
[53]
INF Veja , nem nem falar, nem
[54]
Assim, ali assim.
[55]
INF Depois, me faleceu;
[56]
depois trouxemo-la para acá.
[57]
E E fomos vivendo.
[58]
Mas ela ajudou-me muito!
[59]
Foi a que me ajudou, coitada.
[60]
INF A vida era assim: dura de de romper com ela.
[61]
Trabalhava-se muito!
[62]
INF A gente, olhe que íamos
[63]
Eu ia [vocalização] para os lados de daquela serra, às Arcas os senhores não devem saber onde são as Arcas do lado dacolá , ao milho.
[64]
A gente colhíamos pouco milho porque havia pouco quem o vendesse.
[65]
Eu ia buscar trinta quilos de milho à cabeça [pausa]
[66]
INF para cima, para detrás daquela serra que se acolá.
[67]
Tudo para alá, mas muito longe!
[68]
Que Que a gente levava-lhe mais [vocalização], a andar [vocalização], duas horas e meia a chegar.
[69]
E [vocalização] E a gente, ai, custou muito!
[70]
Depois, [vocalização] ainda tecia
[71]
A minha falecida mãe tecia;
[72]
eu ia levar as coisinhas que ela tecia.
[73]
Eu ia ou para os lados de Âncora que se ande para a banda de , ou para os lados donde tenho as irmãs, para o lado da Arzela [vocalização] para levar a vida, para a gente ganhar u- uns tostõezinhos para poder [pausa] romper com a vida.
[74]
INF Não, não.
[75]
Eu tecia por encomenda.
[76]
Quem encomendava, às vezes, davam até o, a, o [vocalização] a e assim [vocalização].
[77]
E [vocalização] a gente tecia
[78]
e depois ia levar.
[79]
Ganhava aquele bocadinho, .

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