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Melides, excerto 13

LocalidadeMelides (Grândola, Setúbal)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Galiano Graziela Galeno

Text: -


[1]
INF1 O trabalho do rechego é é completamente o contrário do da moreia.
[2]
INF2 Pois.
[3]
INF1 A moreia tinha que ser feita mesmo mesmo de alto a baixo para não ficar torto nem para um lado, nem para o outro mesmo de alto a baixo mesmo.
[4]
Que era para [pausa] o, o a terra segurar dum lado e doutro.
[5]
Se ficasse um bocadinho à meia chapada, o de de baixo não segurava de maneira nenhuma.
[6]
E o rechego era para para se lavrar com o gado.
[7]
para Para se enregar, para se lavrar com o gado,
[8]
calhava era à meia chapada.
[9]
Depois era de atravessado.
[10]
INF1 Pois.
[11]
E então tudo tem tudo tem maneiras, não é?
[12]
INF3 Ainda Ainda me lembro de uma senhora que me deu doze tostões.
[13]
Mil e duzentos, não é?
[14]
Eu andava cuidando nuns porcos,
[15]
e depois ela tinha muito mato na propriedade.
[16]
[pausa] E eu [pausa] aborrecia-me estar assim sozinho não é? ,
[17]
os porcos andavam entretidos a foçar, não é?
[18]
Como diz um alentejano, eu acabei de dizer às senhoras:
[19]
andavam a foçar, não é?
[20]
Eu para ali entretido, vejo aqueles rosmaninhos, tudo por afora,
[21]
por afora, digo eu assim: "Ah, fazer aqui uns recheguinhos"!
[22]
Começo a apanhar mato e a fazer uns recheguinhos [vocalização] assim à minha maneira não é?
[23]
, a ver se aprendia como via os homens fazer, os homens mais antigos, não é? A mulher passa por ,
[24]
uns recheguinhos que eu tinha feito
[25]
INF1 Deu-lhe graça?
[26]
INF3 [vocalização] Achou aquilo bem feitinho.
[27]
E depois para ali com um bocado de pau ou não sei quê, ainda lhe fiz assim uma espécie como quem tinha lavrado aquilo tudo.
[28]
A terra era era uma terra boa de mover,
[29]
era de era de ombria,
[30]
estava quase sempre fresca.
[31]
A mulher passa por ,
[32]
seis ou sete recheguinhos que eu tinha feito,
[33]
diz ela assim a um vizinho: "Olha, aqui o meu parente fez um trabalhinho [pausa] que eu tenho que lhe dar qualquer milhadura".
[34]
Mas eu nem tão pouco me vinha à ideia que tinha sido aquele trabalho que eu tinha feito.
[35]
Alguma vez eu pensei de a de a senhora ir deparar com aquilo? que era a dona da propriedade.
[36]
Digo eu: [pausa] "Ora essa!
[37]
Então o que é que foi?
[38]
Alguma coisa mal feita, não"?
[39]
"Não senhor. Fez uns recheguinhos tão bem feitinhos, tão bem feitinhos que visto"!
[40]
INF1 Era para quem não sabia trabalhar.
[41]
INF3 Um dia chegou ao de mim: "Olha , pe pega uma milhadura que que a prima te "!
[42]
"Então do quê"?
[43]
"Eh! Pensei em dar-te isto"
[44]
"Então mas do quê"?
[45]
Eu a pensar
[46]
[pausa] Até que ela me disse: "Olha, daquela desmoitazinha que tu fizeste, daqueles recheguinhos".
[47]
viu?
[48]
coisas assim.
[49]
Eu vi os homens fazer aquilo,
[50]
INF3 e depois tinha cegueira naquele trabalho.
[51]
INF3 Porque a gente quando nascendo para trabalhar em qualquer coisa, a gente tem cegueira no que os outros fazerem.
[52]
Não é preciso ser ensinado.
[53]
Começa a ver,
[54]
vamos a ver se aquilo
[55]
E eu fiz aquilo
[56]
e a mulher caiu-lhe aquilo em graça.
[57]
INF3 Pois.
[58]
E deu-me então mil e duzentos.
[59]
Ora, [pausa] dez tostanitos mais dois tostanitos como dizia o outro naquele tempo, eh, nem queira saber!
[60]
INF3 Hi!
[61]
Sei o tempo que eu poupei aquele dinheirinho!
[62]
Se me viessem agora dar [vocalização] mil e duzentos, o que é que eu dizia?
[63]
[pausa] Isto é para quê, mil e duzentos?
[64]
Não é verdade?
[65]
INF1 Nem sequer Nem sequer se a uma criança.
[66]
INF3 No resto de um conto de réis não, não é conto de réis sem ser sem ter os mil e duzentos, não é?
[67]
INF3 Sim senhor.
[68]
Pois é assim.
[69]
A gente, a maior parte das coisas, pois [vocalização] não é às vezes porque a gente não saiba [vocalização] o nome das coisas, ou não saiba como é que elas começam,
[70]
às vezes não espera [pausa] é de aparecer, por exemplos, como as senhoras apareceram agora.
[71]
INF3 E a gente, que a pessoa para ser entrevistada vamos assim , [pausa] tem que ter e andar instruída e pensar e amanhã perguntam-me isto ou perguntam-me aquilo.
[72]
Que a pessoa quando é apanhada de surpresa, não é por não saber, não é?
[73]
INF3 Não é por não saber
[74]
INF1 É porque não se lembra.
[75]
INF3 É que às vezes não se lembra, não é?
[76]
INF3 E depois diz: "Ora, a senhora perguntou-me isto e eu sabia isto e não disse".
[77]
INF3 Não, está certo.
[78]
INF3 Está certo.
[79]
Mas é assim mesmo.
[80]
INF3 Pois [vocalização].
[81]
E aquela pessoa que pensa assim: "Não, eu faço parte disto.
[82]
Amanhã ou noutro dia, espera .
[83]
Ou com este ou aquele, eu não sei o que é que fulano traz na algibeira, ou fulana traz na algibeira.
[84]
E eu trago isto a eito".
[85]
INF3 Esse traz as coisas de cor.
[86]
É como a cantiga, não é?
[87]
INF3 Trazer a a cantiga de cor para não se, para não quando disser não se enganar nos pontos, não é?

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