Representação em frases

Melides, excerto 26

LocalidadeMelides (Grândola, Setúbal)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Gastão

Texto: -

[1]
INF Há um homenzito aqui na serra já aí de uns oitenta e qualquer coisa de anos que [vocalização] fez uma cantiga.
[2]
E de vez em quando procurava por mim
[3]
e de vez em quando procura.
[4]
Ainda não há muitos dias que ele me mandou recomendações.
[5]
E então, às vezes, ele ia passa- para ali à do Godim – sabes onde é? –,
[6]
e o homenzito aparecia
[7]
e ele: "Ande,
[8]
avie lá uma cantiga!
[9]
Ande,
[10]
avie lá uma cantiga"!
[11]
E eu lá dizia uma cantiga
[12]
e ele dizia outra.
[13]
E dizia-me ele assim: "Há-des fazer uma cantiga neste mote que eu te vou dizer"!
[14]
Digo: "Então, se eu for capaz"!
[15]
Diz ele assim: "Olha, eu tenho uma cantiga [pausa] neste mote:
[16]
Vou-me fazer uma viagem,
[17]
não torno cá a voltar.
[18]
Sozinho não posso ir,
[19]
quatro é que me vão levar".
[20]
Digo-lhe eu assim: "Olhe, e talvez eu seja capaz"!
[21]
"Há-des fazer uma cantiga nisto".
[22]
O homem disse a cantiga,
[23]
pois, disse a cantiga toda,
[24]
e diz ele assim: "Eu gostava que tu, um dia, quando viesses aqui à do Godim, trazeres já essa cantiga para mim ouvir, no mesmo mote que eu tenho, a ver se é parecida com a minha".
[25]
Mas era impossível,
[26]
pois não não podia ser.
[27]
Eu sabia lá o que é que o homem tinha dito.
[28]
E então [pausa] eu disse então ao homem: "Vou-me fazer uma viagem,
[29]
não torno cá a voltar.
[30]
Sozinho não posso ir,
[31]
quatro é que me vão levar".

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