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Melides, excerto 32
Text: -
INF1 Geraldo Isaías Isidoro.
INF1 A 7 de Julho é mais um.
[pausa] Não sei o que hei-de fazer, se fuja daqui para ele não vir ter comigo.
INF1 Eram, nascidos no Parral.
É aquele monte grande ali.
INF1 A minha mãe foi ali nascida.
O meu pai era do Barranco –
um monte que chamam o Barranco – [pausa] mas é cá na freguesia.
Tenho sete Éramos sete irmãos.
INF1 A senhora não é de Setúbal?
não conheço nada daquilo.
Eu aprendi a ler e a escrever sem ninguém me ensinar.
INF2 Em cima da mula, não foi?
INF1 Ia fazer os mandados em cima da mula, à vila, buscar tabaco ao meu pai, e coisas,
Quando sabia, estava a mula queda lá à porta da cocheira em Santiago,
Risos Mas o meu pai ensinava o meu irmão Gerânio.
[pausa] E a gente estávamos à roda do lume, lá no campo – aqueles lumes para a noite, no Inverno.
INF1 E então decorei o livro todo.
INF1 Por exemplo, [vocalização] ainda me lembra a lição mais velha e a regra do "a, bê, cê".
INF1 Tinha aquilo tudo decorado.
[pausa] Pedi ao Gerânio, que é o meu irmão, para ele dizer onde é que era,
bom, aprendi a conhecer as letras todas.
Mas tinha de começar além no "a".
INF1 [vocalização] Queria saber uma letra que estava ali primeiro já no fim,
tinha que começar no "a": "a, bê, cê, dê, é, fê, guê, agá, i, gê, lê, mê, nê, ó, pê, qê, rê, sê, tê, u, vê, xis, fulano, zê".
Era uma coisa assim, não era?
INF1 Aprendi a conhecer as letras todas.
E depois [vocalização] as lições também as tinha todas decoradas.
INF1 [vocalização] A maior lição do livro do João de Deus…
Isso não fazia falta, não é?
INF1 Parece-me que era assim: Hino de Amor. Andava um dia em pequenino, nos arredores de Nazaré, na companhia de São José, o Deus Menino, bom Jesus. Eis senão quando vê no silvado andar piando e esvoaçando o rouxinol, que uma serpente de olhar guloso, resplandecente como [pausa] resplandecente como o sol e penetrante como diamante, tinha atraído, tinha encantado. Jesus diz: "Desgraçado passarinho sai do caminho". Corre a pensar que quebra o encanto, tão soluçado ou entre pranto, tão repassa- tão repassado de gratidão, uma alegria e uma ve- veemência e uma carência que que me comovia o coração. Com melodia, assim foi indo e foi seguindo de tal maneira que, noutro dia, numa palmeira que havia perto onde morava Nosso Senhor em pequenino, era já certo, estava lá. Estava a pobre ave cantando o hino terno e suave do seu amor ao salvador.
INF1 Tinha aquilo tudo decorado, tudo, o livro todo.
As letras que diziam o nome eram mais esbranquiçadas, as outras eram mais vermelhas.
[pausa] Aprendi aquilo, [pausa] sem ninguém me ensinar nada.
Eu era era mecânico de fazer isqueiros,
[pausa]mandava vir coisas do Rocha-Mar Latino, de Lisboa.
Nunca me veio nada errado.
INF1 Estou já no ferro velho.
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