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Melides, excerto 48

LocationMelides (Grândola, Setúbal)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Galiano Graziela
SurveyALEPG
Survey year1980
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF1 Não guardei gado?
[2]
INF1 Oh!
[3]
Era melhor que não não conhecesse isso.
[4]
INF2 Ele tem as profissões quase todas.
[5]
INF1 Conheço qualquer coisa, então.
[6]
Então, eu comecei a a guardar gado,
[7]
tinha tinha nove anos.
[8]
Foi logo o meu princípio
[9]
[vocalização] Pois, éramos pequenos.
[10]
Enquanto eu Enquanto era ainda pequeno, porque eu ele éramos muitos
[11]
[vocalização] Os meus pais, também por pouca sorte deles também e eram quase todos naquele tempo, quase todos tinham muitos filhos , eles arranjaram doze filhos.
[12]
Doze que, quer dizer, que
[13]
criaram-se nove e morreram três assim ainda ainda pequenos.
[14]
Porque morri- E morreu outro.
[15]
Morreu outro agora
[16]
Foi esse Getúlio, que era logo ao de mim,
[17]
também tinha vinte e dois anos.
[18]
Ainda se criaram nove.
[19]
[pausa] Não, criaram-se oito.
[20]
Parece que eu que não estou enganado.
[21]
São oito.
[22]
[vocalização] Se quisesse contá-los, ainda ia contá-los depressa.
[23]
Quer dizer que agora morreu-me a minha irmã mais velha, Guio- a Guiomar.
[24]
[pausa] E então, quer dizer, fui
[25]
Ele o meu pai, como a gente era ainda pequenos
[26]
e começaram
[27]
Havia um homenzito além em Santa Cruz que [vocalização] até diziam que ele que era assim amaricado
[28]
e [vocalização] o homenzito, coitado, [vocalização] fazia qualquer coisa que que o mandassem fazer.
[29]
E depois, depois às vezes, diziam para ele vir apregoar para irem para irem para as escolas ou qualquer coisa que, que que eles em Santa Cruz pensassem,
[30]
mandavam-no,
[31]
davam-lhe qualquer coisita
[32]
e o homem vinha.
[33]
E [vocalização] E veio [vocalização] uma vez ao da minha casa, ali aquele bocado no ponto mais alto que ali à casa telhada, lhe chamava a gente, que é um ponto que é mais alto.
[34]
Botou-se a gritar para a para a família ouvir
[35]
quem tivesse garotos que ele que os mandasse à escola que que era favor, que a professora que tinha mandado pedir para irem à escola e tal em Santa Cruz!
[36]
[vocalização] A escola era para ali uma casazinha, como era antes que havia,
[37]
mas, naquele tempo, era a escola que havia .
[38]
Depois fizeram então depois
[39]
Agora uma escola.
[40]
Pois, daí a anos fizeram depois.
[41]
Mas nesse tempo não havia nada.
[42]
Era Era uma casinha que ainda está
[43]
mas é uma casinha velha.
[44]
De maneiras que [vocalização] o homem veio me apregoar
[45]
e os meus pais pensaram: "Ah, os gaiatos estão " era eu mais esse irmão mais velho, o Gibelino ,
[46]
"os gaiatos estão ,
[47]
ainda ninguém lhe falou para eles saírem para sítio nenhum,
[48]
[vocalização] mandá-los também para a escola"!
[49]
Olha, por por minha pouca sorte ou não sei quê, andei cinco dias na escola mais o meu irmão,
[50]
vieram falar à gente além para as Cortinas, para a gente os ir servir e cuidar cuidar em gado
[51]
eu cuidava nas ovelhas e o meu irmão cuidava nos porcos.
[52]
Viemos para além,
[53]
estivemos além uma temporada.
[54]
Depois Depois, ele a lavradora era malina, também de aturar,
[55]
e o meu irmão era também um bocado mais reguila do que eu,
[56]
e então ele zaragateou mais ela
[57]
e depois foi-se embora
[58]
mas não, não tinha medo de chegar a casa e o meu pai guerrear com ele.
[59]
Andava ali nos arredores,
[60]
enquanto não esteve mais eu, não descansou.
[61]
E convenceu-me para me eu me vir embora também
[62]
e fui também.
[63]
Deixei-os,
[64]
não quis saber de patrões.
[65]
Fomos Viemos-se embora os dois
[66]
e dissemos que eles tinham mandado a gente embora.
[67]
Pois ele era mentira.
[68]
Ele, ele é Ele é que tinha guerreado mais ele
[69]
e ele e ela sempre lhe disse qualquer coisa: "Se quiseres-te ir embora, vai"!
[70]
Mas ele a mim não
[71]
Eles gostavam de mim!
[72]
Eles não queriam que eu abalasse.
[73]
E o meu irmão, se calhar
[74]
Que ele era assim,
[75]
mas se acaso ele se amansasse, eles não, pois não não mandavam nenhum embora.
[76]
Mas o que é certo é que abalámos os dois.
[77]
Abaláramos os dois
[78]
mas eles ficaram sempre com pena de mim.
[79]
E eu, não é por me estar a gabar, mas eu, sei , parece que tinha assim um feitio que eles, que eles
[80]
Era mais mais mansinho, mais mais meigo
[81]
e eles elas tinham mais coiso por mim.
[82]
E então fui para ,
[83]
mas cheguei num dia,
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no outro dia falaram-me logo para para outro sítio.
[85]
Nesse Senão então eles vinham-me buscar.
[86]
Mas fui logo para outro sítio, para onde chamam Outeiro Redondo, que é ao .
[87]
E sabe o que é que aconteceu depois nesse Outeiro Redondo?
[88]
Quer dizer que eu que fui para no princípio do Inverno,
[89]
tinham uma courela uma, que ele que a gente dá-lhe nome uma courela.
[90]
Quando não sendo assim uma propriedade grande é uma courela.
[91]
Além no Monte Novo que é eu não sei avaliar
[92]
De, Dalém de Dali assim de do Outeiro Redondo até ao Monte Novo que que lonjura será?
[93]
É pelo menos uns cinco ou seis quilómetros.
[94]
[pausa] Deve ser.
[95]
Abalava dali de manhã cedo para ir soltar os porcos, com geadões
[96]
e eu descalço, descalcinho.
[97]
Olha, eu até [vocalização] não quero mentir,
[98]
mas eu para mim, que se conhece ainda aqui esta mão, eu larguei a pele das mãos todas.
[99]
Levava Levava um farnelzinho
[100]
e eu depois não não podia meter as mãos nas algibeiras para nem

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