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Montalvo, excerto 22
Text: -
INF Outra vez: [pausa] chegou uma vez o senhor engenheiro ao pé de mim…
[vocalização] Naquele ano foi um ano seco.
Uva passada, passada, passada, mesmo passada, naquele ano.
[pausa] Como estão ali, podem cá vir outro dia que eu venho atendê-las aqui à mesma.
e, é claro, a uva vinha muito passada,
Vinha muito suco, muito doce.
E E dava muita graduação.
É que ele se fosse a tirar o vinho, com aquela graduação, dava aí catorze ou quinze.
É claro, era quase álcool que o homem estava a beber.
Embebedava-se só com um copo.
os lagares levavam sete dornas cada um –,
mandou-me deitar seis ou sete almudes de água por dorna.
Eu vou para o escrivente que lá estava,
Então ele mandou-me deitar aqui tanta água, neste coiso.
Eu vou estragar isto tudo então!
Isto depois nem água-pé sai, pá!
"Ó tio Guilherme, então como é que a gente há-de fazer"?
Coitado, ele até está [pausa] inutilizado,
está ceguinho de todo por causa dos diabetes.
[vocalização] "Isto não dá nada".
Digo eu para ele: "Olha cá, se não tiveres aí serviço… – Que eu tinha lá dois homens! – Se me tiveres aí dois serviços serviço para me dares a dois homens, aos homens de tarde, eu vou lá deitar eu a água sozinho", e tudo.
"Eu não deito essa água, pá.
Então, eu arranjo serviço".
Ele à tarde chegou lá: "Ó tio Guilherme". –
"Você, se me de- pudesse dispensar os homens, para ir ali arranjar um pouco de milho à eira", e tal.
Disse eu: "Então não posso?!
Podem para lá ir à vontade".
Eu fui para dentro do lagar com o almude,
liguei uma borracha que lá tinha à torneira com a água,
Levei para lá os dois almudes.
E deitei dois almudes e meio de água em cada lagar.
Ora veja lá a quantidade que eu tinha que deitar de água!
Só dois almudes e meio de água em cada lagar.
Deitei aquilo e depois enfim,
depois borrifei aquilo com a agulheta por cima, com água.
Então e que fosse três almudes que eu que eu deitasse lá.
Quando foi ao a pesar o vinho, ele ia pesar o vinho ao Entroncamento,
um dia chega ao pé de mim,
diz-me: "Ó Guilherme, afinal o senhor engenheiro atinou com aquilo".
"É porque o o vinho que saiu está bom.
Mas ainda podia levar mais água".
"Então quanto é que o vinho tinha"?
Ele ia lá pesar o vinho ao Entroncamento.
"O vinho tinha aí treze, treze e meio, treze e sete,
"Então ainda podia levar mais água"?!
Eu cá para comigo: olha aqui, tão estão parvos!
Se eu vou deitar a água toda, arranjava-a bonita!
Então ele assim já abaixou um bocado,
se vou a deitar a água toda, ficava água suja [pausa] dentro do lagar.
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