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Montalvo, excerto 22

LocationMontalvo (Constância, Santarém)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Guilherme
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Ernestina Carrilho
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Outra vez: [pausa] chegou uma vez o senhor engenheiro ao de mim
[2]
[vocalização] Naquele ano foi um ano seco.
[3]
Uva passada, passada, passada, mesmo passada, naquele ano.
[4]
Um ano seco.
[5]
[pausa] Como estão ali, podem vir outro dia que eu venho atendê-las aqui à mesma.
[6]
Contar aquilo.
[7]
Foi um ano seco.
[8]
Um ano seco
[9]
e, é claro, a uva vinha muito passada,
[10]
e vinha muito doce.
[11]
Vinha muito suco, muito doce.
[12]
E E dava muita graduação.
[13]
Pois dava!
[14]
Dava muito alta até!
[15]
É que ele se fosse a tirar o vinho, com aquela graduação, dava catorze ou quinze.
[16]
É claro, era quase álcool que o homem estava a beber.
[17]
Embebedava-se com um copo.
[18]
E tudo.
[19]
Mandou-me deitar
[20]
os lagares levavam sete dornas cada um ,
[21]
mandou-me deitar seis ou sete almudes de água por dorna.
[22]
INF É claro, era muito!
[23]
É tudo!
[24]
Eu vou para o escrivente que estava,
[25]
disse assim: "Eh !
[26]
Então ele mandou-me deitar aqui tanta água, neste coiso.
[27]
Eu vou estragar isto tudo então!
[28]
Isto depois nem água-pé sai, !
[29]
Isto nem água-pé sai!
[30]
Não nada.
[31]
Nem água-pé sai"!
[32]
"Ó tio Guilherme, então como é que a gente há-de fazer"?
[33]
Coitado, ele até está [pausa] inutilizado,
[34]
está ceguinho de todo por causa dos diabetes.
[35]
[vocalização] "Isto não nada".
[36]
Digo eu para ele: "Olha , se não tiveres serviço Que eu tinha dois homens! Se me tiveres dois serviços serviço para me dares a dois homens, aos homens de tarde, eu vou deitar eu a água sozinho", e tudo.
[37]
"Vai"?
[38]
"Pois vou".
[39]
"Eu não deito essa água, .
[40]
Então, eu arranjo serviço".
[41]
Ele à tarde chegou : "Ó tio Guilherme".
[42]
Estava tudo combinado.
[43]
"Você, se me de- pudesse dispensar os homens, para ir ali arranjar um pouco de milho à eira", e tal.
[44]
Disse eu: "Então não posso?!
[45]
Podem para ir à vontade".
[46]
E foram,
[47]
levou os homens para .
[48]
Eu fui para dentro do lagar com o almude,
[49]
liguei uma borracha que tinha à torneira com a água,
[50]
e deitei-me dentro.
[51]
Levei para os dois almudes.
[52]
E deitei dois almudes e meio de água em cada lagar.
[53]
Ora veja a quantidade que eu tinha que deitar de água!
[54]
dois almudes e meio de água em cada lagar.
[55]
Deitei aquilo e depois enfim,
[56]
depois borrifei aquilo com a agulheta por cima, com água.
[57]
Então e que fosse três almudes que eu que eu deitasse .
[58]
Quando foi ao a pesar o vinho, ele ia pesar o vinho ao Entroncamento,
[59]
foi pesar o vinho,
[60]
um dia chega ao de mim,
[61]
diz-me: "Ó Guilherme, afinal o senhor engenheiro atinou com aquilo".
[62]
"Então"?
[63]
"É porque o o vinho que saiu está bom.
[64]
Mas ainda podia levar mais água".
[65]
"P- Podia"?
[66]
"Pois podia".
[67]
"Então quanto é que o vinho tinha"?
[68]
Ele ia pesar o vinho ao Entroncamento.
[69]
"O vinho tinha treze, treze e meio, treze e sete,
[70]
é o que tinha.
[71]
É o que dava ".
[72]
"Então ainda podia levar mais água"?!
[73]
Eu para comigo: olha aqui, tão estão parvos!
[74]
Se eu vou deitar a água toda, arranjava-a bonita!
[75]
Então ele assim abaixou um bocado,
[76]
se vou a deitar a água toda, ficava água suja [pausa] dentro do lagar.
[77]
Era uma vergonha!
[78]
[pausa] Uma vergonha!

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