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Montalvo, excerto 24

LocationMontalvo (Constância, Santarém)
SubjectO sobreiro e a cortiça
Informant(s) Guilherme
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Maria Lobo
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Por exemplo, o sobreiro tem quatro, cinco pernadas.
[2]
INF Mas as pernadas ficam só a meio – sim, a da cortiça preta.
[3]
Mas a gente tirou
[4]
entroumas o co- o sobreiro tem força
[5]
e acrescenta-se para diante.
[6]
Como [vocalização] Eu, às vezes, avisava até o meu patrão – porque eu algumas vezes o fiz, lá para fora – para ele não vender a cortiça no no corpo da árvore [pausa] a ninguém.
[7]
Mandasse-a tirar por conta dele.
[8]
Porque aí há malandrice.
[9]
Porque [vocalização] a menina vai comprar aí a cortiça aí no c- no corpo duma árvore
[10]
e, é claro, vai por dentro do sobreiral – sozinha ou mais um ou mais um empregado, ou mais alguém que tenha –
[11]
e vai palpitar.
[12]
E a gente palpita aí dentro dum sobreiral,
[13]
palpita [vocalização] o mais ou menos a, a, a, a a quantidade de arrobas que dá.
[14]
Palpita, porque a gente: uma pesada são duzentas arrobas.
[15]
E a gente já sabe.
[16]
Quando for na balança, já sabe-.
[17]
Eu, eu por mim sei [pausa] um pouco mais ou menos o volume que faz uma pesada na bal- numa balança, dum lado e doutro, [pausa] as duzentas arrobas.
[18]
Que é, quando se está a pesar na pilha, é duzentas arrobas de cada vez.
[19]
E a gen- E eu sei um pouco mais ou menos:
[20]
eu vou aí por um sobreiro abaixo
[21]
e vou deitar o palpite para este sobreiro, para aquele, para aquele, para aquele:
[22]
uma pesagem.
[23]
Depois digo para o para quem vai a tomar conta: "Uma pesagem".
[24]
Depois vou outra vez e tal, tal, tal, por esta encosta fora: "Outra pesagem.
[25]
Outra pesagem".
[26]
E erro pouco.
[27]
[pausa] Não erro lá muitas muitas arrobas por ali fora, que já há tempo fiz aqui ao meu patrão.
[28]
E erro pouco de peso assim coisas assim.
[29]
Mas se vender [vocalização] a cortiça na árvore, e tudo, a senhora compra,
[30]
a menina vai,
[31]
compra ao, ao ao empregado ou coisa,
[32]
e vai contar
[33]
e faz isto como a mim,
[34]
podia-me dizer: "Vá lá palpitar",
[35]
e eu vou palpitar.
[36]
E eu dou-lhe tantas arrobas: dez mil ou vinte mil arrobas de cortiça, ou isto, ou assim, ou atado.
[37]
Mas depois o comprador vai comprar aquilo
[38]
e dá qualquer coisita aos que lhe andam lá a tirar a cortiça e vai.
[39]
Quer Quer ele possa com a com a carga, quer não possa, o sobreiro, tira um canudo para diante,
[40]
acolá tira outro,
[41]
acolá tira mais dois.
[42]
Quando chega ao resto, vai pesar umas poucas de mil arrobas de cortiça de bóia – quer dizer, de virgem – que dá para pagar ao, ao aos que andam a tirar.
[43]
E ficou com a outra toda de graça.
[44]
Está a perceber, menina?

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