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Montalvo, excerto 46

LocationMontalvo (Constância, Santarém)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Guilherme
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Ana Paula Banza Ernestina Carrilho
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Ah menina, menina!
[2]
Veio morrer aqui a esta terra !
[3]
INF Nem a Nem a terra a come!
[4]
INF Você Você é mesmo de Lisboa?
[5]
INF [vocalização] em Odivelas, eu ia muita vez visitar o cemitério.
[6]
Aquilo é um é uma largura enorme, o cemitério.
[7]
INF Muito grande.
[8]
Muita gente.
[9]
INF É em cima na chã.
[10]
Era em baixo,
[11]
mas esse em baixo parou.
[12]
Esse em baixo era pequenito quando aquilo era pequeno, quando era Odivelas velha, que Odivelas velha fica desde o rio para aquele lado
[13]
Agora é tudo em cima, na chã.
[14]
É tudo em cima.
[15]
Mas aquilo é horror em ver!
[16]
Estão Está homens sempre empregados!
[17]
Fui uma vez
[18]
Eles, quando têm um certo tempo, vão tirar as pessoas da da sepultura porque, claro, tem que ser mesmo nas terras grandes.
[19]
INF Aqui a gente não.
[20]
INF A gente compra a sepultura.
[21]
Eu, por acaso, tenho a sepultura da minha mulher comprada.
[22]
Mas foi comprada para um irmão meu.
[23]
E está o meu pai.
[24]
E agora está a minha mulher.
[25]
Se Deus Nosso Senhor quiser ou amanhã, ou quando calhar, quando Deus quiser , também para vou.
[26]
Ela morreu sete anos,
[27]
faz agora para o dia 8 de Agosto sete anos que ela me morreu.
[28]
De maneira que eu vim e estavam
[29]
Eles depois avisam as pessoas, as donas daquelas sepulturas que compraram.
[30]
Mandam telegramas para a casa, para as pessoas
[31]
e avisam para ir: "Tal dia, às tantas horas, apareça porque vai-se tirar os ossos" e tudo.
[32]
Que aquilo é interessante!
[33]
Tudo comido, o osso inteirinho, no fundo da cova, tudo.
[34]
Havia Andavam pessoas por .
[35]
Estavam duas miúdas, uma solteira e [vocalização] e uma casada, juntamente com o marido.
[36]
Eh , a miúda chorava por chorar!
[37]
Viu [vocalização] os os ossos do pai no fundo da cova, mas com a cabeça tombada à banda.
[38]
[pausa] Pôs-se-lhe na ideia que o pai que tinha ido vivo, morto, que tinha ido vivo para a cova e que acabou de morrer no fim de estar tapado, de estar fechado.
[39]
E o coveiro a dizer para eles: "Ó menina, não se não se preocupe por isso.
[40]
Não é"
[41]
INF "É a gente,
[42]
quando é a arrear quando é a arrear para baixo, quando é a arrear, a voltar os [vocalização] os caixões, quando é a arrear para baixo, e tudo, é claro, sempre aquilo desanda para um lado e para o outro.
[43]
O corpo dentro torce.
[44]
Vira-se para uma banda ou vira-se para a outra.
[45]
E é assim é que foi o seu pai".
[46]
E depois até a outra irmã mais velha, disse assim: "Ó senhor, para ver se cala a minha irmã, veja na perna direita,
[47]
ele há-de ter uns ferros, que ele partiu uma perna e ele nunca m-, nunca t- nunca tirou os ferros".
[48]
Assim [vocalização] as talas que, quando, quando quando partem uma perna, ou um , ou qualquer coisa assim.
[49]
E o homem foi ver,
[50]
realmente estava.
[51]
INF Aquilo depois é metido dentro dumas urnas pequenas
[52]
e vai para as gavetas.
[53]
[pausa] Porque o cemitério tem tudo cheio de gavetas
[54]
e vai vai tudo para as gavetas.
[55]
INF Ali depois é que fica.
[56]
E tudo.
[57]
Também , para esta gente mais, da maior da mais alta,
[58]
que [vocalização] está os caixões inteiros.
[59]
Também aquelas coisas.
[60]
Em [nome próprio] também havia.
[61]
Também havia.

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