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Montalvo, excerto 52

LocationMontalvo (Constância, Santarém)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Guilherme
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Ernestina Carrilho Ana Paula Banza
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF Pois é.
[2]
Pois eu queria contar uma coisa.
[3]
Por exemplo, a gente vamos trabalhar,
[4]
vamos para a charneca.
[5]
Vamos, por exemplo
[6]
Ia m- Ia companhas de homens chamava-lhe a gente uma companha [pausa] de homens, com um capataz, e que falava ao pessoal
[7]
e ia [vocalização] ou cortar mato, por exemplo, para dentro do do povoado de, de dos sobreiros, portanto, aqueles sobreiros, cortar, limpar, fazer limpeza, fazer limpeza à [vocalização], ao [vocalização] ao sobreiral que estava, por exemplo [vocalização] àquilo, e fazer limpeza.
[8]
E é claro, a gente, então usávamos umas roçadoiras para cortar o mato.
[9]
Quando era em Março e Abril a gente íamos justo por sete meses , quando era em Março e Abril ia-se queimar.
[10]
Queimar, tinha que se queimar ao contrário.
[11]
Quer dizer, tinha que se queimar [vocalização] ao contrário do vento.
[12]
Tinha que se pôr
[13]
e aquilo ia ardendo,
[14]
o vento estava a bater para aqui,
[15]
mas aquilo ia sempre moendo e ardendo.
[16]
E a gente íamos puxando com os tais ditos [vocalização] forcados, que estava aqui um numa planta dum livro, [pausa] que estava aqui.
[17]
INF A puxar.
[18]
É claro, e a gente depois tínhamos que fazer o comer e comer.
[19]
Tínhamos que fazer o comer e comer.
[20]
A gente usava uns cochos de cortiça chama-lhe a gente o cocho
[21]
era o prato.
[22]
Aquilo arranjava-se uma navalha,
[23]
ali tudo raspadinho fora e tudo,
[24]
e fazia-se o assento,
[25]
estava ali.
[26]
Tínhamos umas umas panelitas de barro que se usavam, que os oleiros usavam dantes, que essas panelitas chamava-lhe a gente uma púcara [pausa] àquilo.
[27]
Que era para para estar a cozer o feijão, ou as couves, ou o arroz, ou tudo o que a gente deitava, tudo.
[28]
Tínhamos essas púcaras.
[29]
Tínhamos uns tachos, também de barro, com um rabozito pequeno assim, que a gente punha,
[30]
fazia uma cova no chão assim deste desta coisa, da largura da enxada, funda.
[31]
E [vocalização] nas barreiras era para assentar as vasilhas do comer, aqui assim.
[32]
Para assentar em cima.
[33]
Isto chama-se uma, uma, uma, uma uma fervedeira.
[34]
Esta coisa aqui.
[35]
INF E a gente punha ali a coisa em cima.
[36]
E depois, por exemplo, a gente quando era principal da manhã, quando era por exemplo às nove horas, antigamente trabalhava-se de sol a sol,
[37]
e quando era p- quando às vezes era p-, por, por por a noite adiante ainda.
[38]
E E é claro, quando eram nove horas íamos almoçar.
[39]
Íamos almoçar,
[40]
a gente íamos fazer o comer e para comer.
[41]
Mas o almoço, tinha que se estudar a maneira sempre para o almoço de aviar mais depressa.
[42]
O que é que a gente foi, f-, que a gente fazia parte das vezes?
[43]
Punha o tacho ao lume com uma pinga de água,
[44]
punha-lhe um dente de alho, ou dois,
[45]
e punha-lhe uma folha de louro
[46]
e depois íamos ao cocho,
[47]
íamos migar o pão.
[48]
Havia esse este pão saloio que ainda às vezes ainda aparece por , que chamam-lhe o pão saloio ,
[49]
havia esse pão, que custava um pataco.
[50]
Sabe quanto é que era um pataco?
[51]
INF É dois vinténs.
[52]
Sabe quanto é que era um vintém?
[53]
São quatro moedas de cinco, ou sejam duas de dez.
[54]
Que havia antigamente.
[55]
Um tostão tinha tinha cinco moedas de, de de vintém.
[56]
Quer dizer, um vintém é quatro moedas de cinco.
[57]
É esse dinheiro antigo que havia assim.
[58]
Que eu uma vez fui-me para acolá para a feira, para Abrantes, mais um irmão meu está também, que era até encanalizador,
[59]
estava em Lisboa
[60]
e e tinha nascido a minha irmã mais nova.
[61]
E eu depois fui-lhe pedir à minha mãe
[62]
bom, seja a minha madrasta, mas eu tratava-a por mãe porque eu fiquei sem mãe da idade de dezoito meses, mas eu chamava-lhe mãe para ir para: "Ah, não.
[63]
Não tenho dinheiro.
[64]
Eu não tenho dinheiro
[65]
e queria ir à feira mas não tenho dinheiro",
[66]
e tal.
[67]
Disse: "Olha, vai " ela estava na cama "vai à tábua da chaminé"
[68]
estas casas antigas que têm uma tábua na chaminé assim por cima.
[69]
"Está cinco tostões
[70]
e leva-os".
[71]
E eu levei.
[72]
Fui
[73]
vi vi-me duas barracas de circo,
[74]
vi uns bonecos,
[75]
ainda trouxe dinheiro, sabe.
[76]
Com cinco tostões, duas eram cinco moedas de, de de vintém
[77]
e cada moeda uma moeda de vintém tem duas de dez.
[78]
Era duas moedas de dez.
[79]
E E essa moeda de dez são duas de cinco.
[80]
Um vintém era dividido em em quatro partes, tudo.
[81]
[pausa] E de maneira que a gente comprava aquele coiso
[82]
e depois punha .
[83]
A gente arranjava o cocho
[84]
e a gente íamos comprar o pão ou
[85]
Pois o pão,
[86]
a gente usava a comprar o pão, por exemplo, de dois em dois dias é que a gente comprava o pão.
[87]
Aquilo era quase sempre pão caseiro porque era quase cozido nos nossos fornos e.
[88]
A gente migava uma quantidade de sopas para dentro de, de, [vocalização] migas para dentro do coiso
[89]
e depois deitava-se-lhe um coisinho de sal, [vocalização] o tempero que era preciso, o sal, o azeite, e tudo,
[90]
chamava-lhe a gente aquilo àquilo um capacho.
[91]
INF Ah, a comer.
[92]
E depois comíamos.
[93]
Era como a uma açorda!
[94]
Vamos por aqui [vocalização].
[95]
Vamos a falar como é coisa:
[96]
é uma uma açorda.
[97]
E depois mexia-se bem.
[98]
Aquilo fervia, aquilo tudo
[99]
e a gente chamava aquilo àquilo um capacho.
[100]
Tínhamos um bocadito de bacalhau para assar.

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