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Porches, excerto 16

LocationPorches (Lagoa, Faro)
SubjectA língua e a comunicação
Informant(s) Abelino
SurveyBA
Survey year1987
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Às ve-, até [pausa] quase que me incomoda de, às vezes, eles [vocalização], às vezes, dizerem coisas
[2]
Principalmente Principalmente esses [pausa] que mais têm estudado [pausa] são o- os que mais asneiras dizem.
[3]
E eu aproveito mais depressa.
[4]
É assim como eu,
[5]
suponhamos assim: eu [pausa] não sei ler,
[6]
[vocalização] não posso [pausa] proferir uma palavra com as letras [pausa] todas, com as letras naturais, como um que ande na escola e que o jornal e que isto e que aquilo e que [pausa] não erra.
[7]
Dizem as palavras, muitas vezes, com as letras todas.
[8]
E eu [pausa] posso dizer as palavras com falta de uma letra [pausa] ou com uma a a mais, também.
[9]
Mas, se as pessoas que me compreendem, [pausa] podem dizer: "Não" eu proferi esta palavra, a palavra não é assim
[10]
"mas ele não sabe ler,
[11]
pois ele é [pausa] anda convivido com o pessoal igual a ele, no campo, nesses meiozinhos pequeninos,
[12]
portanto, não é asneira o que ele diz".
[13]
INF Porque Pois é claro.
[14]
Agora, aquele [pausa] que sabe ler [pausa] e [vocalização] que estuda e que tem a mania [pausa] de querer saber [pausa] falar
[15]
E, então, uma moda [pausa] de falar, como agora nestes últimos anos;
[16]
eu tenho conhecido, , modas [pausa] no falar.
[17]
[vocalização] Quer dizer o seguinte:
[18]
vem uma moda não sei se me estão a compreender bem aquilo que eu quero dizer vem uma moda de citar umas certas palavras que não se citava noutro tempo e que não existiam essas palavras.
[19]
E agora, fazem uso daquela palavra.
[20]
E depois, em vin- em um começando [pausa] com com aquela palavra, todos vão empregar aquela palavra aonde é que não faz sentido, aonde é que não tem lugar.
[21]
Diga-me a mim, aquelas palavras [vocalização], aplica-se
[22]
INF aplica-se essa essa palavra [pausa] no lugar preciso, aonde é que [pausa] se deve de empregar.
[23]
Mas não.
[24]
Por qualquer coisa, empregam aquela palavra, que nem não, nem não, nem não não nem é própria.
[25]
Mas, por moda, por moda, empregam aquela palavra.
[26]
E eu, é claro, e eu, às vezes, mesmo na televisão, às vezes, começam eles a falar, a falar
[27]
e eu, aqui, a- a ver se aproveito aquilo.
[28]
E, à vez às vezes, tem aparecido [pausa] homens assim a falar;
[29]
dizem para ali asneiras que não sei de aonde é que vem tanta asneira!
[30]
E depois, e E depois, digo eu, eu, [vocalização] às vezes, fazendo assim uma conversinha
[31]
e dizem eles: "Não,
[32]
pois aqueles homens que que falam e que não se percebe, [vocalização] aqueles homens é que sabem falar".
[33]
"Ah, sabem falar e dizem aquilo que não se percebe"?
[34]
"Não,
[35]
e- que eles é que se percebem.
[36]
Agora, a gente não os percebe".
[37]
Não,
[38]
pois o homem, desde que saiba falar, fala para que todos o percebem.
[39]
INF Rhum-rhum.
[40]
E de maneira que, às vezes , longe aparece um [pausa] a falar natural, como fa- apareceu, aqui anos, um fulano, Armelindo não sei o quê e falava natural, na televisão.
[41]
E ele assim: "Ah, aquele fulano é aquele fulano é bruto"!
[42]
"Então porquê, homem?
[43]
Então o homem não está a falar bem"?
[44]
"Não,
[45]
pois então o homem está a falar para toda a gente perceber!
[46]
Está a falar para toda a gente perceber,
[47]
é bruto!
[48]
Agora, aquele aquele que fala que não se percebe, esse é que é um homem inteligente"!
[49]
"Ah, bom!
[50]
Então o homem não está a falar bem?
[51]
Então, não os percebo eu [vocalização] é a vocês.
[52]
Então, se [pausa] dizem que aquele [pausa] que fala [pausa] que não se percebe que é esse que sabe falar
[53]
e agora aquele que está a falar bem, natural, para toda a gente perceber, dizem que fala bem também.
[54]
Então, não sei.
[55]
Não sei qual é que fala bem".

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