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Bandeiras, excerto 22

LocalidadeBandeiras (Madalena, Horta)
AssuntoA casa de habitação
Informante(s) Carina

Text: -


[1]
INF Tenho o meu colchão Molaflex, [pausa] um ano ou dois.
[2]
Que eu nunca tive, era a casquinha, lavada todos os Verães,
[3]
e lavava-se o colchãozinho.
[4]
Ai, ele!
[5]
Quando a gente agarrava aquilo tufadinho, era a frescura do mundo!
[6]
Mas agora então faz-se uma caminha muito fácil, porque então agora é o colchão Molaflex.
[7]
INF Era casca de milho!
[8]
Casca de milho que a gente rachava-a e é que se metia dentro do colchão para a gente dormir.
[9]
[pausa] Sim senhora.
[10]
INF Ai, e musgo, que ia para o mato se apanhar musgo para se meter dentro das almofadas e dentro dos dos colchões.
[11]
INF Mas
[12]
Musgo seco.
[13]
Mas o musgo, acabando meia dúzia de meses, em enovelar
[14]
e é penar.
[15]
Era penar para se abrir, para a gente poder dormir na caminha mole.
[16]
O musgo era assim,
[17]
enovela muito, pois é uma erva depois de seca
[18]
INF E também se apanhava cabelinho;
[19]
ia-se pelo mato,
[20]
num feto, apanhava-se cabelinho;
[21]
e depois a gente tirava aquele cabelinhozinho duma soca,
[22]
e punha-se ao sol
[23]
e enchia-se almofadas também para a gente dormir.
[24]
Mesmo quando era para bebés, era tudo
[25]
INF O sumaúma.
[26]
A gente abria aquela
[27]
Aquilo é assim uma
[28]
Como é que se diz?
[29]
Imitante assim um [vocalização] o bog-.
[30]
É um bogango, que a gente chama de bobine de seda.
[31]
A gente abre
[32]
e dentro tem aquilo,
[33]
parece imitante como um figo.
[34]
E a gente ia tirando aquele aqueles fiozinhos todos;
[35]
aquilo abre,
[36]
fica como como [vocalização] uma seda fina que era uma lindeza!
[37]
INF Sim senhora.
[38]
E a gente é que lhe metia nas travesseirinhas, para os bebés.
[39]
E era deste cabelinho.
[40]
INF Agora não se usa suja, porque agora é tudo esta [vocalização] esta espuma que se enche as almofadas.
[41]
não usamos isso.
[42]
INF Era mais molinha.
[43]
Claro que sim!
[44]
INF E de penas de galinhas!
[45]
Aproveitava-se as penas das galinhas
[46]
e punha-se a enxugar
[47]
e enchia-se almofadas.
[48]
INF Colchões, não senhora.
[49]
Era preciso ter muita galinha.
[50]
Risos Ele para as almofadas, leva-se às vezes um ano.
[51]
Quando se matava três ou quatro, se ia guardando para se encher uma!
[52]
INF Ai, ponho-lhe os meus bordados, ou umas rendinhas, ou uns bordadinhos.
[53]
Assim é que eu faço.
[54]
INF Ah, isso é a minha [vocalização] fronha, que a gente enfia na almofada.
[55]
INF Pego nas minhas almofadas,
[56]
meto-as dentro do meu guarda-fato,
[57]
e pego no meu travesseiro de dia,
[58]
e faço a minha cama,
[59]
e ponho o meu travesseiro.
[60]
INF Ponho os meus lençóis,
[61]
ponho o meu cobertor,
[62]
ponho a minha colcha de ,
[63]
ponho um cobrejão que faço com a minha mão,
[64]
depois ponho o meu travesseiro,
[65]
e depois boto a minha colcha de seda para ficar a minha caminha feita , e duas almofadinhas que tenho também de propósito ali em cima.
[66]
INF Olhe, é de bocados de saias, bocados de calças que a gente corta,
[67]
faz uns quadradinhos.
[68]
E depois eu alinho,
[69]
e depois, durante o Inverno, vou-me entretendo aos serõezinhos, deitando o meu pontozinho.
[70]
Chega-se mais para diante, um domingo ou um dia santo,
[71]
eu, ele alinho,
[72]
boto o meu forrinho por fo- por dentro de de um cretonezinho,
[73]
boto a sua vira de lãzinha por fora
[74]
e fica o cobrejão feito.
[75]
E fica uma mancheia de centos poupados;
[76]
se fosse um cobertor nas lojas saía mais caro
[77]
e não me fazia tanto agasalho.
[78]
INF A colcha de seda depois.
[79]
Ah, mas no no cobrejão?
[80]
É, sim senhora.
[81]
Não se põe mais nada.
[82]
INF Sim senhora.
[83]
INF Eu [pausa] Faço a cama,
[84]
e depois de fazer a minha cama, limpo o meu ,
[85]
e depois de limpar o meu , varro a minha casa.
[86]
Assim é que eu faço.

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