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Camacha, excerto 10
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olha, lá está ela focinhando".
O meu pai chegou a ter Porque – já se sabe – naquele tempo, a gente, [pausa] era um poder de filhos
Mesmo o dinheiro era pouco
[pausa] e não havia tanta experiência como agora.
Não havia electricidade naquele tempo,
não havia ferro eléctrico,
não havia [vocalização] nada.
Nem casas-de-banho havia!
INF Para quem era mais pobre, não havia casas-de-banho.
Eu cá, lembra-me muito bem, que eu já vou fazer sessenta e cin- e três anos, lembra-me muito bem de [vocalização] as coisas que havia, pobrezas…
toda a gente estava desejando de chegar ao Natal, que era para comer massa e arroz [vocalização] e um bocadinho de carne.
E minha mãe chegava a partir uma laranja para dois, porque não havia, não havia dinheiro que comprasse.
mas não havia dinheiro que comprasse.
INF O meu pai era lavrador.
[pausa] Se [vocalização] chovesse, que o meu pai tivesse [pausa] trigo e cevada para o ano inteiro, [pausa] a gente tinha a nossa fartura de pão.
Mas se não havia para o ano inteiro, era [vocalização] deste milho!
havia moinhos de vento, aqui – que agora só há um, mas o dono até morreu [pausa] –
[pausa] e a minha mãe fazia [vocalização] milho, [pausa] como agora se faz deste [vocalização], destas arepas, da farinha [vocalização] [pausa] da Venezuela.
INF Mas a gente cá fazia era da nossa casa, [pausa] milho.
[pausa] Se havia leite, comia-se com leite,
se havia peixe, comia-se com peixe
e se não havia peixe, minha mãe fazia café, [pausa] dava uma chávena de café a cada um e a gente comia com o milho.
E [vocalização] dava um jantar!
quando eu era mais pequena, bordava, bordava…
Eu enchia os lenços à roda
e minha mãe então fazia o cantinho, [pausa] que era para ir todo para casa.
Trabalhei [vocalização] tantos anos para casa.
Acertei o casamento – ia [vocalização] também ia fazer dezasseis anos – com este maluco que andou sempre atrás de mim,
que isto é mais velho dez anos que eu!
Acert-, acertei o casamento, já se sabe que [vocalização] Acertei o casamento,
tinha uma [vocalização] colcha e um guardanapo,
até era um [vocalização] paninho de tabuleiro.
Mas fizemos aquela capela – que é de Nossa Senhora da Graça – foi com romagens e com ofertas e tudo!
E dava-se aqueles paninhos, aquele [vocalização] croché e tudo, que era tudo para vender, para a ajuda da capela!
Ora, veio uma senhora dali de cima tirar [vocalização] uma ofertazinha, para cada uma dar o que quisesse.
Eu nem sequer ainda tinha mala, direitamente, porque – já sabe – primeiro a gente comprava a nossa malinha;
agora é que há tudo isto,
há [vocalização] as arcas e estes [vocalização] e estas cómodas e tudo…
INF Era uma malinha, que minha mãe tinha, meia velhinha
e disse: "Olha, pois a mãe vai-te dar aquela malinha para tu pores as tuas coisinhas".
Ora, tinha tinha a colcha e o guardanapo,
e disse: "Olhe, venho aqui ver se ver se nos quer dar alguma coisa para a capela, porque vai-se fazer a romagem, vai-se levar areia e tudo".
Ora, uma rapariga que já andava para casar, que tinha uma colcha!
INF Mas dei o guardanapo a Nossa Senhora, graças a Deus!
E a minha vida foi crescendo
fiquei logo grávida porque eu estava menstruada,
A cabo de, se pode dizer, antes dum ano, tive um [vocalização] menino
mas [vocalização] estive muito mal,
Depois mais, ao cabo de mais dois anos, veio mais uma menina,
e [vocalização] daí veio, veio, veio, [pausa]
tenho sete, graças a Deus.
Tenho um filho na Holanda, trabalhando num hospital,
tenho uma rapariga casada,
e tenho [pausa] três em casa.
INF Tenho uma rapariga que trabalha no hotel de Porto Santo, que é a subchefe,
[pausa] trabalha no restaurante, [pausa] que é a Adelina,
[pausa] e tenho [vocalização] dois [vocalização] [pausa] solteiros, em casa
e aqui vamos à conta de Deus.
INF E eu bordava, bordava, bordava,
o bocadinho que me ficava, bordava.
Depois a minha filha, a mais velha, foi crescendo
e eu fui para a fábrica da conserva,
ainda trabalhei dez anos lá,
[pausa] mas depois acabou.
Trabalhei em casa duma senhora, [pausa] a dias.
Ia lá [vocalização] umas horazinhas,
a minha filha ficava em casa.
Depois também eu fiquei, das pernas,
que estou muito doente das minhas pernas,
eu nem posso me ajoelhar.
Andar, ando; mas me ajoelhar e a coisa, não.
O Senhor Doutor já me quis operar dos joelhos
[pausa] O Senhor Doutor [vocalização] [pausa] Absalão e o Senhor
Doutor Abúndio [pausa] e eu nunca quis ser operada.
INF Depois deixei de trabalhar nessas casas de [vocalização] dessa senhora.
Depois eu falei com o senhor lá da [vocalização] da Caixa
e disse: "Olhe, Senhor Acácio não posso trabalhar,
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