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Vilar de Perdizes, excerto 39

LocationVilar de Perdizes (Montalegre, Vila Real)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Gualter
SurveyALEPG
Survey year1984
Interviewer(s)João Saramago Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF Eu estive no Hospital Militar.
[2]
Fui para cumprir a vida de sim militar .
[3]
E depois fui primeiro-cabo e enfermeiro, ajudante de enfermeiro.
[4]
Ora a gente [vocalização] entrou,
[5]
fez a recruta
[6]
e depois andámos a [vocalização] a praticar, com os médicos a ensinar-nos.
[7]
É claro que a ler tudo aquilo que correspondia à medicina não é? e essa coisa do corpo humano, tudo.
[8]
E depois andámos a praticar, donde depois fomos distribuídos para as enfermarias.
[9]
[pausa] E, é claro,
[10]
cada um trabalhava [pausa] dias do mês conforme cada enfermaria.
[11]
Íamos aprendendo aqui nesta a fazer um trabalho, por exemplo, a [vocalização] com respeito a medicina.
[12]
Era medicina por uma coisa,
[13]
que é é mais simples do que é a cirurgia.
[14]
[pausa] E nós aprendíamos a medicina.
[15]
Era dar umas injecções, uns comprimidos, no tempo antigo.
[16]
É claro,
[17]
tenho cinquenta e seis anos
[18]
e, no tempo antigo, a gente [vocalização] usavam-se mais aquelas cataplasmas de linhaça.
[19]
E [pausa] a gente fazia-as [vocalização] com as compressas de casa.
[20]
Deitava a linhaça
[21]
Primeiro fervia a linhaça num [vocalização] com água junta numa cápsula qualquer ;
[22]
e depois a gente envolvia-a numa compressa de gaze
[23]
[pausa] e e deitava-a sobre o corpo do doente onde tinha a dor.
[24]
Ora viu.
[25]
Depois então veio mais
[26]
Daí por mais uma temporada, veio a penicilina, donde se davam aquelas injecções de penicilina aos doentes.
[27]
não se aplicavam então as cataplasmas de linhaça.
[28]
E [vocalização] E foi assim.
[29]
E depois, é claro, eu acabei o tempo da tropa
[30]
[pausa] e vim para aqui, não é?
[31]
Vim para aqui,
[32]
é claro,
[33]
tenho desde esse tempo, tenho estado sempre ao serviço do povo.
[34]
Vai um, claro, que [vocalização]:
[35]
"Dá-me uma injecção";
[36]
outro um golpe,
[37]
vou-lhe curar o golpe;
[38]
outro tem uma ferida,
[39]
curo-lhe a ferida.
[40]
É claro.
[41]
E [vocalização] [vocalização] E como todos têm uma dor, a gente vai-lhe aplicando aquilo que sabe para aquela dor, não é?
[42]
Uns comprimidos, uns supositórios, umas fricções, umas pomadas e e essa coisa assim toda.
[43]
E é por isso que a gente lhe disse que eu que era aqui o médico da terra, não é?
[44]
INF Não.
[45]
Nunca saí daqui para fora.
[46]
INF Estive na tropa então em Coimbra.
[47]
INF Não,
[48]
como emigrante nunca saí.
[49]
Estive na tropa
[50]
e depois da tropa vim,
[51]
regressei para aqui
[52]
e não saí para mais parte nenhuma.
[53]
INF Sou daqui de Vilar de Perdizes.
[54]
Sou sim.
[55]
E [vocalização] E foi assim.
[56]
É claro, foi a gente como ele aplicou aquela frase de eu ser aqui o curativo e o enfermeiro da terra.
[57]
É assim.
[58]
A gente tem feito muitas coisas, diversas coisas que é.
[59]
Houve médicos, como aqui estes senhores,
[60]
aqui, que eles andam a praticar,
[61]
andam a estagiar, não é?
[62]
Eles andam a estagiar aqui.
[63]
E eu fiz coisas que eles nem sabiam como [vocalização] eu tinha aprendido aquilo e como era feito aquilo.
[64]
Que lhe disse-lhe que, é claro, que andara um homenzito,
[65]
[pausa] andei treze dias e treze noites a tirar-lhe a uri- a urina pela barriga.
[66]
Que ele não podia,
[67]
tinha uma próstata no no canal da urina,
[68]
e eu andei treze dias e treze noites a tirar-lhe a urina pela barriga.
[69]
[pausa] E eles diziam:
[70]
"Eh , como"?!
[71]
Que eles não co- desconheciam isso.
[72]
Eu disse:
[73]
"Eh , isso não é fácil
[74]
mas [pausa] é assim desta maneira.
[75]
Faz-se isto.
[76]
Segue-se disto e daquilo e daqueloutro,
[77]
depois tem esterilização,
[78]
tem isto e aquilo".
[79]
E eu fui tirá-la da bexiga,
[80]
tirei para fora, ao homenzito, treze dias e treze noites.
[81]
E assim durou para cinco ou seis anos.
[82]
[pausa] Um homem que [vocalização] morreu com noventa e sete anos.
[83]
INF E E tem sido assim essa vida da medicina.
[84]
Injecções àquele e àqueloutro .
[85]
INF Isto, o senhor padre aplicou
[86]
INF Ai, de plantas, olhe, nós, plantas, aqui, a gente as plantas aqui vai é sempre mais à base do medicamento, não é?
[87]
Sim,
[88]
pessoas mais antigas [pausa]
[89]
INF que essas vão mais à base do [vocalização] dum chá da cidreira, ou um [vocalização] chá de de hipericão de hipericão, um chá de, de, por exemplo, da flor do sabugueiro, de, de daquela flor do milho, [vocalização] e essa coisa assim,
[90]
sabe?
[91]
pessoas assim.
[92]
Mas um homenzito [pausa] que esse homenzito é que conhece.
[93]
deve ter os seus setenta e qualquer coisa de anos.
[94]
Esse homenzito conhece essas ervas [pausa] e essas plantas
[95]
INF e, mais ou menos, [pausa] para aquilo que são embora vão fazer bem a uma coisa
[96]
Bem, como os medicamentos também, às vezes, uns vão fazer bem
[97]
e outros vão fazer mal.
[98]
INF Ele é um homenzito aqui de Vilar de Perdizes mesmo.
[99]
INF É Guiberto.
[100]
É o senhor que vive ali naquela casa.

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