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Santa Justa, excerto 44

LocalidadeSanta Justa (Coruche, Santarém)
AssuntoAs abelhas e o mel
Informante(s) Dâmaso Deolinda

Text: -


[1]
INF1 A abelha principal é a abelha-mestre.
[2]
INF1 Essa é a abelha-mestre.
[3]
Em todos os cortiços,
[4]
em todos os cortiços e em todos
[5]
As abelhas têm uma!
[6]
INF1 têm uma!
[7]
O meu pai teve sempre co- cortiços
[8]
e apanhou sempre muito enxame, que esse chegou a ter muitas colmeias.
[9]
E depois no resto, os enxames eram era pequenos
[10]
e juntava.
[11]
[pausa] Juntava os dois,
[12]
mas para juntar tem que aj- tem que os molhar.
[13]
Vai com uma pouca de água,
[14]
molha a abelha que está ali em moitão porque a abelha sendo molhada, perde o cheiro.
[15]
E depois as que estão dentro do cortiço recebem aquela, porque perdem o cheiro,
[16]
não sabem se há-dem aceitar, se não.
[17]
E a mestre depois, menos da hora que se juntam, filam-se a brigar:
[18]
a que for mais fraca, [pausa] a outra mata-a ,
[19]
fica uma sozinha.
[20]
E quando é no, no no Verão, fica [vocalização] um um zango para fazer casta.
[21]
INF1 Escolhido pela mestra.
[22]
Fica um zango
[23]
e os outros são todos mortos.
[24]
Quando é a entrar no cortiço à noite, as abelhas esperam ali por eles,
[25]
é tudo morto!
[26]
INF1 fica um.
[27]
INF1 [vocalização] Pois.
[28]
E o E o Damião, o filho dele é é engenheiro agrícola,
[29]
tem muita colmeia
[30]
O ano passado o outro ano , no país ele até é que ganhou o primeiro prémio, [pausa] pois, de arranjar mel.
[31]
E esses, a maior parte delas nem dão tempo de enxamear.
[32]
Tira-as ele.
[33]
Tira-as,
[34]
[pausa] mas [pausa] bem vindo mais que uma mestra, mata uma
[35]
e fica com uma.
[36]
[pausa] Porque a mestra é diferente das outras,
[37]
conhece-se bem.
[38]
É maior,
[39]
é qu- quase da cor duma vespa.
[40]
A mestra.
[41]
E é maior que as outras.
[42]
E as outras são mais curtinhas e são mais escuras, mais negras.
[43]
Pois.
[44]
INF1 ?
[45]
INF1 A abelha?
[46]
[pausa] Pica com um um ferrão.
[47]
INF2 Ferrão.
[48]
INF1 Um ferrão que tem ligado às tripas.
[49]
Toda a abelha que pica morre logo.
[50]
INF1 Porque espeta o ferrão
[51]
e depois o fe- elas começam a zunir até que fogem,
[52]
[pausa] largam e o, as t- a tripa
[53]
fica agarrada ao ferrão,
[54]
depois a abelha morre.
[55]
Toda a abelha que pica morde.
[56]
Morre.
[57]
INF1 Pois, porque larga a tripa agarrada ao ferrão,
[58]
depois morre.
[59]
INF1 A vespa não.
[60]
A vespa não morre.
[61]
[pausa] Agora a abelha morre.
[62]
[pausa] Mas a vespa também pica.
[63]
É como um mosquito.
[64]
Um fulano vem, agora neste tempo: "Eh, os mosquitos estão a morder"!
[65]
Eu então sempre que posso dizer-lhe: "Ó diabo, não digas que os mosquitos mordem!
[66]
Então não vês que eles não têm dentes!
[67]
morde é mordem toda a qualidade de vivente que tem dentes!
[68]
Agora a o mosquito não tem dentes,
[69]
não morde,
[70]
pica"!
[71]
O mosquito pica,
[72]
a a mosca pica,
[73]
a abelha pica.
[74]
Toda a bicheza que não tem [pausa] dentes, todos picam.
[75]
INF1 E os que têm dentes é que mordem.
[76]
[pausa] Pois até dantes, pu-, descalça- às vezes, quando calhava andar calçado, descalçava o , quando calhávamos a encontrar, qualquer pessoal, um alacrau.
[77]
Depois eu ia,
[78]
punha o em cima da cabeça do alacrau para ele picar [pausa] no .
[79]
Depois ele espetava o pico,
[80]
depois fazia assim
[81]
Às vezes, até o veneno
[82]
ele ganhava ali uma bolhazinha de veneno, uma bolha de água de roda.
[83]
Para eles verem que o lacrau é uma mordidela terrível.
[84]
Há-de ser conforme vinte e quatro horas credo!
[85]
Agora eu não me faz diferença nenhuma!
[86]
INF1 Portanto, havia havia uma casa em Lisboa que davam na te- dinheiro para um fulano pôr o em cima do lacrau.
[87]
E eu [vocalização] disse ao genro da minha filha para irmos umas poucas de vezes, porque ele tem um carro: "Oh , vamos !
[88]
Eu descalço-me.
[89]
Chego ,
[90]
descalço-me.
[91]
Mas primeiro dão-te o dinheiro a ti
[92]
e depois é que ponho o em cima da cabeça do lacrau".
[93]
Eles de vez em quando até apresentam o lacrau;
[94]
e é remédios ou não sei quê,
[95]
e o lacrau, que é para um remédio não sei quê!
[96]
Até ouvi dizer primeiro que era para para o cancro, ou para o cangro, ou não sei quê!
[97]
O veneno do lacrau!
[98]
Agora não sei,
[99]
nunca mais ouvi mais nada!

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