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Couço, excerto 72

LocationCouço (Coruche, Santarém)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Danilo
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Ernestina Carrilho Maria Lobo
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF Todos os dias, levanto-me todos os dias às cinco horas.
[2]
Bem dormindo cinco horas, estou satisfeito.
[3]
[pausa] Faço de manhã:
[4]
levanto-me,
[5]
lavo-me,
[6]
faço a barba,
[7]
asseio-me
[8]
[pausa] e faço a cama.
[9]
É como na tropa.
[10]
[pausa] Faço a vida como na tropa.
[11]
INF Não houve quê?
[12]
INF Não, aqui não houve linho.
[13]
Agora em Montargil houve.
[14]
à fazenda onde que é minha um bocado, chamam-lhe até a Cova do Linho, que ficava aquilo
[15]
INF Chamam, tenho Tenho um bocado de terra em Montargil ainda.
[16]
INF Lembro:
[17]
semeavam
[18]
e era tal e qual como o trigo.
[19]
[pausa] Semeavam,
[20]
e ceifavam,
[21]
e punham a secar.
[22]
Depois vendiam para a para as tecedeiras.
[23]
INF [vocalização] Eu não me lembro.
[24]
O meu avô é que me contava.
[25]
em Montargil havia tecedeiras.
[26]
Faziam o linho,
[27]
faziam lençóis
[28]
e tinham teares para trabalhar.
[29]
Isso tudo acabou.
[30]
Mas regiões em Portugal que ainda não acabaram.
[31]
INF Era a semente.
[32]
INF Era a semente do linho.
[33]
Era como é a semente do trigo, como é a semente do milho, como é as sementes,
[34]
era tudo.
[35]
INF Malhavam.
[36]
Malhavam o linho
[37]
e era semeado como o trigo.
[38]
Eu ouvi muitas vezes ao meu avô.
[39]
E eu também, ali em Montargil,
[40]
era eu rapaz,
[41]
havia um homem que no Vale de Mocho, que tinha um moinho
[42]
[pausa] e tinha no meio da leira, no mofedo
[43]
tinha uma, tinha uma leira de tinha uma leira de tabaco.
[44]
E às vezes o meu pai fumava,
[45]
ele era cliente,
[46]
dava
[47]
Uma vez o meu avô houve uma falta de tabaco
[48]
e a gente foi
[49]
eu mais o meu irmão fomos trocar.
[50]
Um levava [pausa] meio alqueire de trigo e outro meio alqueire de milho.
[51]
Depois eu fiquei a entreter o [vocalização] moleiro,
[52]
e o meu irmão foi pelo vale acima,
[53]
pôs dentro da blusa, pôs
[54]
Cortou seis folhas.
[55]
A minha mãe torrava-o no forno
[56]
e fazia tabaco para fumar.
[57]
Mas ele conheceu o rasto
[58]
e fez queixas [vocalização] ao meu pai.
[59]
Estivemos à [vocalização] à sombra de levar.
[60]
O meu avô chegou,
[61]
senão nós levávamos com a correia.
[62]
[pausa] Depois o meu pai ralhou com o meu avô: "Não devia de mandar os rapazes, que eu não quero que os rapazes mexam em nada de ninguém.
[63]
Senão levam com a correia".
[64]
É a educação.
[65]
A minha mãe era era uma mulher que tinha muito génio.
[66]
O meu pai também.
[67]
Nunca vi o meu pai a ralhar com a minha mãe.
[68]
Nem a minha mãe com o meu pai.
[69]
Mas quando um arreava, os outros não [vocalização] diziam nada.
[70]
Se o outro arreava, não diziam nada.
[71]
INF Não dizia nada.
[72]
Se a minha mãe arreava com a com a correia
[73]
Era com uma correia;
[74]
tinham cada um uma correia para arrear.
[75]
Era à correada.
[76]
Pela cabeça nunca batiam.
[77]
Era pelas nalgas é que levávamos porrada.
[78]
Pela cabeça nunca batiam, pela cabeça de ninguém.
[79]
Era ali com a correia pelas nalgas e pelas
[80]
Era pelas nalgas é que levávamos.
[81]
Pelas costas também não batiam nem por nem por coisa nenhuma.
[82]
Era ali pelas nalgas é que levávamos as correadas.

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