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Fontinhas, excerto 5

LocationFontinhas (Praia da Vitória, Angra do Heroísmo)
SubjectAs festas religiosas e profanas
Informant(s) Brás
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)Pedro Prista Monteiro
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Não, não.
[2]
INF Não, não.
[3]
INF Não senhor.
[4]
Então, a festa do Espírito Santo é uma das coisas que todos os padres, quer dizer, aqui entre nós, todos têm colaborado.
[5]
O senhor padre até quando acaba de de fazer a coroação, n- no dia de bodo – não é? –, vem aqui em cortejo com com todos os convidados, e a filarmónica atrás do senhor padre,
[6]
e o senhor padre vem aqui benzer o pão e o vinho.
[7]
INF Está a perceber?
[8]
Vem aqui.
[9]
E a gente depois disso, até a primeira rosquilha que a gente dá e o primeiro pão é ao senhor padre e ao sacristão.
[10]
São eles que vêm benzer
[11]
e depois a gente oferece a eles
[12]
e a partir daí começamos a distribuir a toda a gente .
[13]
INF Não.
[14]
INF Não senhor.
[15]
INF Nada.
[16]
Isso então o dinheiro da Igreja [pausa] faz parte da Igreja
[17]
e este aqui faz parte daqui, está a perceber?
[18]
INF Porque, sabe, isto aqui, [vocalização] isto não há rendimentos.
[19]
Os rendimentos que há, por exemplo, é no dia do bodo,
[20]
a gente tem aqui uma bandeja com vinho e massa sovada – não é? –,
[21]
e o senhor entra aqui – não é? –,
[22]
a gente oferece para o senhor entrar cá dentro,
[23]
vem ver o nosso império,
[24]
entra,
[25]
mata o bicho – não é? –
[26]
e [vocalização] dá dois escudos e meio, cinco escudos, dez escudos, vinte, conforme quer.
[27]
Até pode dar cem, que há muitas pessoas que dão cem, que entram e são devotas do Senhor Espírito Santo, e gostaram de ver – não é? – e oferecem cem escudos – muitos deles!
[28]
[vocalização] Quer dizer que esse dinheiro é que a gente vai guardando para as construções e para as necessidades que temos aqui do do império.
[29]
A gente procura não pedir nada a ninguém.
[30]
INF Portanto, nós temos aqui as nossas panelas,
[31]
temos os nossos bancos, as nossas mesas, as nossas terrinas, garfos, facas, colheres, toalhas.
[32]
Tudo quanto a gente precisa, a gente tem aqui, para servir a freguesia em peso!
[33]
Para servir a freguesia toda!
[34]
Pois ele também há uns noivos aí,
[35]
qualquer um que casa e que precisa de bancos ou precisa de mesas, qualquer coisa, pois ele a gente empresta.
[36]
Porque isto é do povo, não é nosso!
[37]
INF É que ele até este ano, este ano passado e o outro, estive de procurador;
[38]
este ano aquele é que está e mais dois colegas – não é? –,
[39]
eles é que emprestam,
[40]
é que tomam contas.
[41]
Não ganham nada durante um ano com este trabalho aqui,
[42]
não ganham nada!
[43]
[pausa] O trabalho deles, pois, é:
[44]
um fica encarregado para o Senhor Espírito Santo…
[45]
São três coroas,
[46]
tem que [vocalização] enfeitá-las, quando chegar ao tempo, cuidar da limpeza delas – não é? –;
[47]
as insígnias, as bandeiras, quer dizer, tudo o que pertence ao Senhor Espírito Santo, um homem é encarregado durante o ano de manter aquilo limpo e em ordem.
[48]
O outro é encarregado das obras.
[49]
Tem que pintar todos os anos,
[50]
tem que pôr isto tudo em ordem, não é?
[51]
E o outro é encarregado de todos os materiais que estão cá dentro, materiais esses que são as ditas panelas e terrinas…
[52]
Tudo quanto existe aqui dentro, ele tem que tomar apontamento do que sai
[53]
e tem que tomar apontamento do que entra, está a perceber?
[54]
Porque se faltar, o senhor se me levou, já sabe que tem que pagar.
[55]
Porque isto não é nosso.
[56]
INF As pessoas que estão aqui são precisamente, quer dizer, uns procuradores só para trabalhar, não para ganhar nada, só para zelar esta casa.
[57]
O que tem: uns trabalham este ano,
[58]
os outros trabalham daqui a um ano…
[59]
E a gente vai nomeando, uma vez um, outra vez outro.

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