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Fontinhas, excerto 69

LocationFontinhas (Praia da Vitória, Angra do Heroísmo)
SubjectA agricultura
Informant(s) Camolino Celisa
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

Text: -


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[1]
INF1 Pois a gente para aqui, [vocalização] com respeito à lavoura, a gente se for a principiar no princípio, no princípio, tem um romance muito grande.
[2]
Porque hoje
[3]
A lavoura hoje, a lavoura hoje está boa.
[4]
Mas no princípio não aboava.
[5]
No princípio, era economizar.
[6]
[pausa] O fulano fazia um prédio de renda [pausa]
[7]
Até eu vou dizer ao senhor
[8]
INF1 [vocalização] Eu vou dizer ao senhor ainda duma outra maneira:
[9]
[vocalização] fazia-se um [vocalização] pequeno pasto
[10]
Fazia-se um alqueire de pasto [pausa] por dois escudos e meio.
[11]
Bom, é como hoje uma moeda de dois escudos e meio,
[12]
não sei se no continente também ?!
[13]
INF1 Mas é uma moeda de dois escudos e meio,
[14]
mas naquele tempo era, em dinheiro, fraco o senhor está percebendo o que é?
[15]
INF1 Um alqueire de pasto por dois escudos e meio, um alqueire de terra [pausa] a saco a saco, é seis alqueires
[16]
Os senhores há-de ser outra conversa,
[17]
mas a gente é aqui é.
[18]
INF1 E de maneira que isto agora foi trepando por acima.
[19]
Foi trepando,
[20]
foi trepando,
[21]
foi trepando que hoje arrenda-se um alqueire de pasto a mil e quinhentos escudos, ?!
[22]
Veja o senhor, de dois escudos e meio [pausa] para este dinheiro, a que é que se chegou, ?!
[23]
INF1 As terras é a mesma cousa:
[24]
mil escudos, mil e quinhentos.
[25]
Naquele tempo dos tais dois escudos e meio, [vocalização] semeava-se um cerrado.
[26]
[pausa] A terrinha mais fraca era para o tremoço, ou cevada, ou [vocalização] umas favas de grão;
[27]
e a terrinha melhor, a gente ia cultivar com umas soquinhas de milho, mas tudo em fraco, porque não havia o dinheiro para botar o adubo.
[28]
Hoje semeia-se em qualquer uma parte,
[29]
sempre muito porque o adubo é que faz dar está o senhor percebendo o que é?
[30]
INF1 E agora naquele tempo não era assim.
[31]
Naquele tempo era miséria!
[32]
Naquele tempo era miséria!
[33]
Mas hoje é uma abundância em tudo.
[34]
Eu tive aqui neste curral, aqui de diante, e numa hortazinha que estava aqui
[35]
[pausa] Eu tenho ali batatas naquela casa
[36]
[pausa] e vendi dez sacas de batatas!
[37]
da metade do que esta produziu aqui que a outra metade foi para casa dum filho meu ali para a banda de baixo esta terra, , um nada de terra,
[38]
INF1 produziu isto tudo!
[39]
Porque é?
[40]
O adubo que se botou.
[41]
Se não se botasse o adubo não não havia.
[42]
Porque naq- naquele tempo semeava-se um bocadinho de batatas,
[43]
mas era na terrinha mais fraca, que a melhor era para semear umas soquinhas de milho para a gente comer.
[44]
INF1 Era na terrinha mais fraca!
[45]
Não levava adubo,
[46]
não levava nada,
[47]
que é que havia de dar?!
[48]
Então naquele tempo, a gente dizia: [pausa] "Homem!
[49]
[pausa] É batata-carvalha!
[50]
É batata-rainha"!
[51]
E era as sementes daquele tempo.
[52]
Hoje não é assim.
[53]
Hoje vai-se ao grémio da Praia [vocalização] para arrolar batatas, para vir de fora para aqui.
[54]
querem sementes novas.
[55]
Sem- Trazem este ano semente nova,
[56]
semeia-se;
[57]
para o ano carece trazer outra.
[58]
Usam daquela,
[59]
mas carece trazer outra para ir reformando, para ir dando a senhora está percebendo o que é?
[60]
INF1 Senão [vocalização] É que ele as coisas hoje estão diferentes dominado à moeda.
[61]
A moeda é que está fazendo isto.
[62]
Se não houvesse a moeda como não havia naquele tempo, [pausa] não se fazia isto.
[63]
Mas naquele tempo não havia a moeda,
[64]
era se fosse com estrume ou ou uma coisa qualquer que é que podia dar.
[65]
De resto ele mais não dava.
[66]
Era
[67]
Era penar!
[68]
Naquele tempo era penar!
[69]
Hoje está tudo na lavoura,
[70]
está tudo nos terrenos, tudo dominado ao adubo.
[71]
Hoje talvez se crie txhh!, eu não quero mentir mas , talvez mais duas partes ou mais do que o que se criava naquele tempo.
[72]
INF1 Porque é?
[73]
Os terrenos é os mesmos.
[74]
É o adubo é que não é o mesmo, porque naquele tempo não havia adubo e hoje o adubo.
[75]
para o dobro de sustentar os [vocalização] animais que havera de sustentar, está o senhor percebendo o que é?
[76]
INF1 Hoje as coisas estão todas assim desta maneira.
[77]
A gente naquele tempo, os animais [pausa] eram esfregados
[78]
e a gente
[79]
Porque [vocalização] era tudo trabalhado com os animais.
[80]
Ainda tenho ali uma grade, [vocalização] cangas, tamoeiros, [vocalização] coisas ainda daquele tempo.
[81]
Era a gente
[82]
Moía-se com os animais
[83]
Elas faziam lama, que apanhavam mau tempo amarradas naqueles lugares,
[84]
faziam lameiro para ali,
[85]
aquela lama secava, sem lhe poderem chegar a ela,
[86]
a gente ia para ela com os animais,
[87]
era seca!
[88]
Arrebentava torrãzada para ali!
[89]
Que depois a gente ia para partir aquilo,
[90]
às vezes até era com o próprio malho de bater nas estacas,
[91]
a gente ia batendo naqueles torrães para ver se explodia aquilo!
[92]
E depois com as grades é que gente ia partindo aquilo!
[93]
Era penar!
[94]
Hoje não se pena!
[95]
Hoje a gente chega ao cerrado,
[96]
senta-se assim contra a parede,
[97]
está o tractor [pausa] para trabalhar a terra!
[98]
Acaba de trabalhar a terra, a gente
[99]
Ou [vocalização] mesmo hoje quem faça isso com um cavalo, [pausa] outros com uma junta de reses.
[100]
Abrem o rego,

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