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Unhais da Serra, excerto 8

LocalidadeUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
AssuntoOs animais bravios
Informante(s) Delmiro Dinora

Text: -


[1]
INF1 E a mim os lobos fizeram-me a meter ao, com licença de vocês, com o cu atrás duma em cima, num prédio.
[2]
Estava a dormir mais o meu pai e o meu irmão que ainda está
[3]
e eu tive medo.
[4]
Se não tivesse medo, dizia que não tive,
[5]
mas tive medo.
[6]
Estávamos a dormir e quando, [pausa] pela noite adiante a gente em cima deitava-se mais cedo que aqui , pela noite adiante, começa o cão:
[7]
"Ui, ui, ui, ui, ui, ui"!
[8]
Acordaram-me:
[9]
"Ó meu pai, andam os lobos".
[10]
E diz ele assim:
[11]
"Andam,
[12]
andam"!
[13]
Botaram-se-me ali às cabras na da Rosairinha era um lameiro que estava
[14]
"Eu vou ver"!
[15]
Então eu levanto-me, tranquilo
[16]
[vocalização] Eu ia desarmado [vocalização],
[17]
e e levanto-me,
[18]
abro a porta e
[19]
Quando eu abri a porta, ao mesmo tempo que abri a porta, saltaram para de cima do cão, que o cão que estava ali à porta.
[20]
[pausa] E o grande ladrão quando me a descer ali, em ceroulas, com a vela, quase que lhe parecia que eu que era alguma ovelha branca
[21]
[vocalização] e deixa de morder o cão, direito a mim.
[22]
E quando ele veio também é que eu tive medo.
[23]
INF1 Fico a meter ao cu atrás ao cão o traziam debaixo , [vocalização] ao cu atrás,
[24]
e disse: "Ó meu pai, acuda-me aqui"!
[25]
se levanta o meu pai e um irmão que eu ainda tenho sim, ele éramos quatro, agora somos dois ,
[26]
e vem o meu pai e meu irmão,
[27]
e vimo-lo escapar , aqui por este lado do do nascente.
[28]
O cão esteve-se ali um pouco a confranger,
[29]
rompeu por abaixo,
[30]
saiu de com outro:
[31]
um veio fazer frente à corte;
[32]
e o outro andava com umas milhas, ou maçarocas, ou ou figos, que havia naquele tempo.
[33]
Mas a gente era:
[34]
"Olha os ladrões"!
[35]
Olha, diz o meu pai:
[36]
"Olha que foram os que me ali deitaram às cabras, aqui na da Rosairinha.
[37]
Deitaram-se ali às cabras
[38]
e ele [pausa] não levaram nem uma!
[39]
, ainda tive sorte"!
[40]
Bom, deitáramos então,
[41]
mas estávamos ali muito tempo sem dormir, porque era na serra, tínhamos dormido.
[42]
E o cão estava sempre:
[43]
"Oh, trrr-trrr"!
[44]
INF2 Era um sinal.
[45]
INF1 Porque era muito batido deles.
[46]
INF2 Era um sinal.
[47]
INF1 E uma bela altura, o cão dormiu.
[48]
Nós depois quando não dormia ninguém, metíamos o cão no palheiro, para eles não lhe morderem.
[49]
Mas certa altura não metêramos o cão,
[50]
viéramos embora.
[51]
[pausa] Os ladrões foram ,
[52]
roeram a metade da porta
[53]
e depois, com licença de vomecês, não puderam vingar no que viam,
[54]
cagaram .
[55]
INF2 Cagaram à porta.
[56]
INF1 Cagaram à porta,
[57]
estava uma merenda.
[58]
E estava a po- a porta toda roída.
[59]
Depois comprámos-lhe até uma folha de zinco,
[60]
'pusémos-a' , que lhe ainda há-de estar.
[61]
Porque [vocalização] o nosso gado, o nosso e o desse ali, estava num ermo.
[62]
INF2 Estava muito longe!
[63]
INF1 Era muito longe.
[64]
estávamos De Verão e de Inverno estavam na serra.
[65]
de vinham quando a neve era muita.
[66]
E talvez os senhores vissem agora aqui uns dois anos ou três, os avi- [vocalização] os helicópteros a acartar as vacas
[67]
INF1 as vacas da da serra para baixo.
[68]
INF2 Da serra para baixo.
[69]
INF1 E agora tornam a andar.

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