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Unhais da Serra, excerto 12
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INF1 Olhe que eu tinha lá tinha lá livros do tempo da Inquisição.
INF2 Teve lá um livro, como é que se chamava?
INF2 Ai, um livrinho tão antigo, tão antigo!
INF1 Ainda era do tempo que não havia máquinas de escrever à mão.
INF2 Tudo a, a [vocalização] a, pois, escrever com estas escritas…
INF1 Eu uma vez fui à Covilhã – que eu fui eu fui lá muita vez; [vocalização] já dormi em tanto lado –
[pausa] e para cá apanhei boleia, que foi o Deolindo ali que me trouxe.
INF3 O senhor Deolindo ali da farmácia.
INF1 E eu os papéis, ah!, nunca os avenho.
Já os levou a minha aqui a minha nora.
já os dividi por todos os três.
E ele veio lá a casa para me perguntar pelo jornal do do Dinis.
E eu tinha lá, [pausa] do pai dele.
Do pai desses Dinis, que era um homem que vossemecê não calcula, nem sabe nem a metade!
A barba chegava-lhe até aqui.
Foi daqueles que chegou à c-, a a Lisboa…
[pausa] Dois homens que aqui foram presos e estavam ali na em Lisboa, no barco, para embarcarem, para nunca mais os verem.
[pausa] As mulheres deles, aqui, pediram ali ao senhor – chamam Deucalião Dinis –
Ele chamava toda a gente por tu.
Até o próprio pai dele tio chamava por tu que era o Diogo.
diz para o que estava para embarcar com o barco, com eles lá dentro:
INF1 "O barco está aqui três dias e três noites à minha ordem.
Tudo o que houver, pago eu.
[pausa] Não abala daqui o barco sem estar comigo, sem eu dar ordem.
[vocalização] Aqui este Como é a minha fotografia?
Eu sou Desidério Deucalião Dinis, filho do primeiro conde do Refúgio da Covilhã".
INF1 Do Refúgio da Covilhã.
INF1 "Sou filho do primeiro conde, do filho do do primeiro filho do conde do Refúgio da Covilhã"!
E então o barco esteve lá à ordem dele.
[pausa] E ele daqui para além, dalém para aqui, foi falar com o Salazar.
[pausa] Mas ele deu três dias para lá ir falar com ele.
INF1 Lá, lá falou com ele
e pediu-lhe então para botar aqueles homens, que um que era tinha amparo de mulher, que era a mulher aleijada, [pausa] faltava-lhe um braço.
INF3 Faltava-lhe um braço.
INF1 E o outro tinha quatro filhos pequenitos,
que visse lá, que era preciso criá-los.
E então [vocalização] o Salazar obedeceu-lhe.
INF2 Só esse homem é que tratou por senhor,
INF1 Ai [vocalização] , esse senhor chamou o Salazar por senhor.
INF1 Sim, e uma vez, no tribunal, tinha um pedido para o tribunal, para o doutor juiz,
mas lá o doutor juiz não lhe quis obedecer.
aperta além com ele pela cabeça, uma trancada pelos cornos,
os [vocalização] outros que lá estavam partaram todos a fugir.
E não quiseram nada com ele!
INF1 Mas era no tempo da monarquia!
INF2 Ai, toda a gente tinha medo dele!
INF2 Ouço contar a história.
Esse livro era lá desse tempo.
INF3 Depois, o senhor Diágoras, calharam assim a vir a falar um bocado nele,
e ele disse que tinha lá o jornal de quando ele morreu.
"Olhe, há-de-mo mostrar"!
mas eu já o lá não tinha.
"Olhe, não é desse que me eu interes- que me interessava,
E depois viu então aquele livro, que chamava ele o Palavrófio,
"Olhe, ó senhor Delmiro, eu levo este livro e depois"…
INF3 "Empreste-mo que eu eu depois devolvo".
INF1 "Ai, este tem que mo emprestar!
Ai, este tem que mo emprestar"!
INF3 Claro, o homem também não lho deu,
ele também lhe ainda o não pediu.
Que se pedisse, o homem, claro…
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