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Unhais da Serra, excerto 21

LocationUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Diamantino
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF Diamantino.
[2]
INF Setenta e seis.
[3]
INF Natural de Unhais.
[4]
INF Tenho o exame dos [vocalização] adultos, a terceira classe.
[5]
INF E já a fiz com muita dificuldade.
[6]
Já estava casado.
[7]
INF Porque andava na Penteadora,
[8]
e a, e o e o senhor prior, o senhor padre Alfredo obrigou a [vocalização]…
[9]
Pôs lá…
[10]
Até era um padre a dar escola.
[11]
E tínhamos lá uma hora de escola todos os dias.
[12]
INF E aí então é que fiz o exame da da terceira classe.
[13]
INF O exame dos adultos.
[14]
INF Porque, no meu tempo, [vocalização] então, não chegava…
[15]
INF Às vezes, éramos…
[16]
Ainda andei…
[17]
Aos sete anos já andava a varrer o tear, calcule.
[18]
Aos sete anos!
[19]
Aos oito anos, a encher canelas.
[20]
E depois comecei nisto, até até que eu depois tive idade…
[21]
Andei nas fábricas de cardado.
[22]
Andei nas fábricas de cardado ainda uns dois ou três anos.
[23]
E depois fui para a Penteadora,
[24]
trabalhei até aos quinze.
[25]
Aos quinze anos, como já disse, a minha mãe era era viúva,
[26]
e eu – era eu mais outro irmão –, e depois eu, aqui nos teares ganhávamos mais do que se ganhava na Penteadora
[27]
e eu já me avinha com o tear – os meus irmãos também eram tecelões –,
[28]
INF e depois saí da Penteadora
[29]
e vim para o tear.
[30]
Mas e depois isto aí em 1943 começou a dar para o torto.
[31]
Nós íamos para a Covilhã – como já disse – tecer a fazenda, e [vocalização] para o Tortosendo,
[32]
e levávamos a fazenda tecida
[33]
e trazíamos o dinheirinho.
[34]
Mas, [pausa] e depois, [pausa] isto começou a evoluir
[35]
e eles começaram a comprar teares mecânicos.
[36]
INF E tinham que comprar três alvarás.
[37]
Destes teares Tinham que inutilizar t- inutilizar três teares destes para comprarem, para o para o governo autorizar a comprar um tear mecânico.
[38]
INF E isto depois começou a começaram a coisa,
[39]
olhe, eu vendi o meu,
[40]
era para comprar outro melhor, e coisa.
[41]
Vendi o meu, de manhã, por um conto e duzentos,
[42]
à n- à tarde já me davam três contos.
[43]
Depois começou a evoluir,
[44]
chegaram a quinze contos e mais e [vocalização] , os alvarás.
[45]
Mas não podiam pôr [vocalização]
[46]
INF comprar um tear mecânico sem inutilizarem três destes.
[47]
INF Ai sim?
[48]
INF E depois E depois foi assim.
[49]
E depois nós, é claro, como isto isto cascou…
[50]
Eles depois começaram a comprar os teares mecânicos,
[51]
e depois, em vez de darem a fazenda para aqui, metiam-nos nas nas casas deles, a trabalhar,
[52]
e e já não davam para aqui.
[53]
INF Já não não deram para aqui.
[54]
Eu como já tinha andado na Penteadora e depois, nessa altura, faltava lá pessoal, fui para lá.
[55]
INF E depois comecei – já aqui tinha este tear; já tinha –, depois comecei a [vocalização] trabalhar na Penteadora
[56]
e [vocalização] nas horas vagas é que comecei sempre a tecer disto.
[57]
Nunca me cá faltou.
[58]
INF E agora depois que me reformei, então, parece que ainda foi pior.Agora
[59]
INF É porque alguns havia alguns também a ficar velhos.
[60]
INF Iam Iam tecendo.
[61]
Agora já deixaram de tecer
[62]
e agora parece que já não…
[63]
Aqui no concelho da Covilhã só sou eu e um no Paúl.
[64]
Mas esse do Paúl tem um tearzito pequeno
[65]
e gosta de andar só [vocalização] pelas feiras [vocalização] e tal.
[66]
Lá anda nas feiras.

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