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Unhais da Serra, excerto 41
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INF1 O princípio do carvão?
INF1 O princípio do carvão.
A gente levantava-se aqui cedo,
ou a gente sozinho, ou acompanhado com pessoas que andavam no mesmo, e íamos à vida.
Uma merendinha de qualquer maneira, do que aparecia em casa, e tal, tal, tal, lá íamos para o carvão.
A gente lá ia para a serra,
quando chegava lá em cima, [pausa] dava volta onde havia lenha para queimar.
[pausa] Há a torga que tem cepa – que tem cepa grande –
e há abetouro que tem tem assim muita rama também,
também tem cepa – uma cepa assim escondida por baixo.
A torga é melhor para o carvão.
A gente [vocalização] vendo assim ali uma quantidade [pausa] de mato, que a gente entendia que tinha torga para cortar, para arrancar, a gente começava ali a arrancar nelas
[pausa] Aventava para o monte,
[pausa] quando fosse aí [vocalização] pelas onze horas, [pausa] a gente fazia uma poçazinha no chão.
A gente perguntava sempre…
Se houvesse um bocadinho de inclinação no terreno, abríamos uma poça [vocalização] mais ou menos como é esta mesa, não contando com os bicos, em redondo, aí com [vocalização] com vinte centímetros de fundo, assim uma poçazinha, muito asadinha, e tal.
A terra que a gente tirava da poça punha-a aqui à frente.
A gente, depois, chegava-se a hora de queimar a lenha,
ia buscar uma uma lenha mais miúda, uns gravetos disto, um graveto daquilo, umas joinas secas, e tal.
E punha as joinas no fundo,
chegava-lhe o lume, com os gravetinhos a seguir das joinas, e tal, e depois lenha assim mais miudinha, e tal, um braçado de lenha, e tal, tal, tal, até que aquilo começasse a pegar.
Em estando já assim com força, já a pegar bem, já a receber tudo, já com brasa e assim, começava a gente a pôr da lenha mais grossa, mas le- lenha mais grossa com raízes, com raízes da da lenha que a gente arrancava.
INF1 A gente virava a raiz para o lado do lume, aquela mais miúda, para ir pegando, e tal,
e depois quando começava já a tomar força, já estava já assim já com força suficiente, lenha mais grossa, já ia tudo.
Ia da lenha toda mais grossa.
Tudo, a lenha mais grossa que havia era lançada à poça – toda.
[pausa] Ia-a sempre gente deitando
e depois quando havia quando lá havia muita lenha para arder, a gente ia arrancar mais um bocadinho de lenha.
ia arranjar mais uma mancheia [pausa] para fazer mais muito, mais muito carvão.
Depois chegava-se a altura de a gente…
Chegava-se a hora de a gente [vocalização] de a lenha arder toda.
Então aquilo tinha um termo para a gente vir a tempo e horas para casa.
[pausa] E depois de de gastar a lenha toda, punha tudo encaramouçadinho,
fazia assim um um caramouçozinho,
enchia aquela poça toda de lenha.
E depois a gente ia assim fazendo um caramouço,
ia a gente empurrando o lume, assim para trás, para a traseira da poça.
A gente até sempre punha a lenha mais alta assim ali daquele lado,
Quando gastava a lenha toda que já lá estava, depois aquilo já tinha muita força,
já não havia nada que lhe resistisse.
INF1 Nem mesmo que chovesse, já se não apagava.
Porque era um lume muito forte.
E depois a gente, quando já a lenha estava toda na poça a arder, a gente cá na frente, [pausa] com um pau com uma forquilha, íamos puxando para o cimo.
Havia aqui um pau mal ardido,
aqui outro, ia para o cimo;
ali outro, ia para o cimo.
E depois começava aqui a aparecer a brasa,
INF1 Havia A gente ia chegando,
ia chegando, chegando daqui, chegando dalém,
tudo para o para o cimo, para o coruto [pausa] do monte da lenha, com muita força a arder.
E depois aqui na frente, começava já a aparecer muita brasa, já para o carvão.
Algum bocadinho de lenha que ali havia, que estava a entreter, a moer esse outro carvão, a gente tirava-o.
[pausa] O que estava mal ardido arrepelava para cima.
E aqui depois ficava a brasa, aquele brasial muito forte, já feito em carvão.
A terra que a gente tirava da poça, a gente tinha-a aqui à frente.
E depois a gente ajoelhava-se à ponta da, da da poça que estava a arder, do monte da lenha,
e com as mãos escolhia aquela terra bem escolhidinha.
Alguma pedra que havia [pausa] aventava para o lado.
Ficava só a terra ele [pausa] sem pedras.
INF1 Conforme aparecia aqui o brasial, conforme o brasial ia aparecendo, a gente nesta terra escolhida ia deitando para de cima da brasa, [pausa] para de cima da brasa
Conforme ia ardendo, a gente ia puxando para cima,
ia puxando, até que chegava ao final.
Mas a terra aqui à frente, a gente sempre a escolher.
Aquilo também era muito sacrifício!
A gente com a terra a tapar, tapar daqui…
Se ali havia muita pedra que não dava, a gente ia ao a um buraco [vocalização] cavar um bocado de terra para tapar, que se aquela ali não dava.
INF1 A gente ia tapando dum lado, do outro,
e acalcava bem acalcadinho, [vocalização] até que chegava ao cimo.
Ao cimo ficava um caramouço, [pausa] por exemplo, a arder.
Já aquela poça que a gente fez já cheia de carvão, [pausa] mas a gente, tapar e acalcar para para abafar para para se não gastar o carvão, a brasa.
[pausa] Ficava o Chegava ao cimo,
Se havia ali um bocado de lenha [pausa] mal ardida, para não estar a entreter a outra brasa, a dar prejuízo a queimar…
INF1 Se houvesse, por exemplo, um bocado de lenha mal ardida, a gente pegava na forcalha e aventava-a.
Porque estava ali a entreter, [pausa] a entreter aquilo.
INF1 A gente pegava numa forcalha
Pegava mais num bocado de terra,
aventava ali para de cima,
tapava tudo, bem acalcadinho, bem acalcadinho,
Se por acaso se abrisse algum buraco, a gente andava alerta
Porque se abrisse algum buraco estava a acender.
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