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Unhais da Serra, excerto 41

LocationUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
SubjectO lenhador e o forno de carvão
Informant(s) Dimas Diodoro
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Text: -


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[1]
INF1 O princípio do carvão?
[2]
INF1 O princípio do carvão.
[3]
A gente levantava-se aqui cedo,
[4]
ou a gente sozinho, ou acompanhado com pessoas que andavam no mesmo, e íamos à vida.
[5]
Uma merendinha de qualquer maneira, do que aparecia em casa, e tal, tal, tal, íamos para o carvão.
[6]
A gente ia para a serra,
[7]
quando chegava em cima, [pausa] dava volta onde havia lenha para queimar.
[8]
[pausa] a torga que tem cepa que tem cepa grande
[9]
e abetouro que tem tem assim muita rama também,
[10]
também tem cepa uma cepa assim escondida por baixo.
[11]
Mas a torga é melhor.
[12]
A torga é melhor para o carvão.
[13]
A gente [vocalização] vendo assim ali uma quantidade [pausa] de mato, que a gente entendia que tinha torga para cortar, para arrancar, a gente começava ali a arrancar nelas
[14]
e botava para o monte.
[15]
[pausa] Aventava para o monte,
[16]
[pausa] quando fosse [vocalização] pelas onze horas, [pausa] a gente fazia uma poçazinha no chão.
[17]
A gente perguntava sempre
[18]
Se houvesse um bocadinho de inclinação no terreno, abríamos uma poça [vocalização] mais ou menos como é esta mesa, não contando com os bicos, em redondo, com [vocalização] com vinte centímetros de fundo, assim uma poçazinha, muito asadinha, e tal.
[19]
A terra que a gente tirava da poça punha-a aqui à frente.
[20]
Punha-a aqui à frente.
[21]
A gente, depois, chegava-se a hora de queimar a lenha,
[22]
ia buscar uma uma lenha mais miúda, uns gravetos disto, um graveto daquilo, umas joinas secas, e tal.
[23]
E punha as joinas no fundo,
[24]
chegava-lhe o lume, com os gravetinhos a seguir das joinas, e tal, e depois lenha assim mais miudinha, e tal, um braçado de lenha, e tal, tal, tal, até que aquilo começasse a pegar.
[25]
Em estando assim com força, a pegar bem, a receber tudo, com brasa e assim, começava a gente a pôr da lenha mais grossa, mas le- lenha mais grossa com raízes, com raízes da da lenha que a gente arrancava.
[26]
INF1 A gente virava a raiz para o lado do lume, aquela mais miúda, para ir pegando, e tal,
[27]
e depois quando começava a tomar força, estava assim com força suficiente, lenha mais grossa, ia tudo.
[28]
Ia da lenha toda mais grossa.
[29]
Tudo, a lenha mais grossa que havia era lançada à poça toda.
[30]
[pausa] Ia-a sempre gente deitando
[31]
e depois quando havia quando havia muita lenha para arder, a gente ia arrancar mais um bocadinho de lenha.
[32]
Ia aquela ardendo,
[33]
e a gente aproveitava,
[34]
ia arranjar mais uma mancheia [pausa] para fazer mais muito, mais muito carvão.
[35]
Depois chegava-se a altura de a gente
[36]
Chegava-se a hora de a gente [vocalização] de a lenha arder toda.
[37]
Então aquilo tinha um termo para a gente vir a tempo e horas para casa.
[38]
[pausa] E depois de de gastar a lenha toda, punha tudo encaramouçadinho,
[39]
fazia assim um um caramouçozinho,
[40]
enchia aquela poça toda de lenha.
[41]
E depois a gente ia assim fazendo um caramouço,
[42]
ia a gente empurrando o lume, assim para trás, para a traseira da poça.
[43]
A gente até sempre punha a lenha mais alta assim ali daquele lado,
[44]
e a gente ia pegando
[45]
Quando gastava a lenha toda que estava, depois aquilo tinha muita força,
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não havia nada que lhe resistisse.
[47]
se não apagava.
[48]
INF1 Nem mesmo que chovesse, se não apagava.
[49]
Porque era um lume muito forte.
[50]
E depois a gente, quando a lenha estava toda na poça a arder, a gente na frente, [pausa] com um pau com uma forquilha, íamos puxando para o cimo.
[51]
Havia aqui um pau mal ardido,
[52]
ia para o cimo;
[53]
aqui outro, ia para o cimo;
[54]
ali outro, ia para o cimo.
[55]
E depois começava aqui a aparecer a brasa,
[56]
INF1 a brasa grossa.
[57]
INF1 Havia A gente ia chegando,
[58]
ia chegando, chegando daqui, chegando dalém,
[59]
tudo para o para o cimo, para o coruto [pausa] do monte da lenha, com muita força a arder.
[60]
E depois aqui na frente, começava a aparecer muita brasa, para o carvão.
[61]
Algum bocadinho de lenha que ali havia, que estava a entreter, a moer esse outro carvão, a gente tirava-o.
[62]
[pausa] O que estava mal ardido arrepelava para cima.
[63]
E aqui depois ficava a brasa, aquele brasial muito forte, feito em carvão.
[64]
A terra que a gente tirava da poça, a gente tinha-a aqui à frente.
[65]
E depois a gente ajoelhava-se à ponta da, da da poça que estava a arder, do monte da lenha,
[66]
e com as mãos escolhia aquela terra bem escolhidinha.
[67]
Alguma pedra que havia [pausa] aventava para o lado.
[68]
Ficava a terra ele [pausa] sem pedras.
[69]
INF1 Conforme aparecia aqui o brasial, conforme o brasial ia aparecendo, a gente nesta terra escolhida ia deitando para de cima da brasa, [pausa] para de cima da brasa
[70]
e acalcava.
[71]
INF1 Para apagar.
[72]
Conforme ia ardendo, a gente ia puxando para cima,
[73]
ia puxando para cima,
[74]
ia puxando,
[75]
ia puxando, até que chegava ao final.
[76]
Mas a terra aqui à frente, a gente sempre a escolher.
[77]
Aquilo também era muito sacrifício!
[78]
A gente com a terra a tapar, tapar daqui
[79]
Se ali havia muita pedra que não dava, a gente ia ao a um buraco [vocalização] cavar um bocado de terra para tapar, que se aquela ali não dava.
[80]
INF1 A gente ia tapando dum lado, do outro,
[81]
ia tapando,
[82]
ia tapando
[83]
e acalcava bem acalcadinho, [vocalização] até que chegava ao cimo.
[84]
Ao cimo ficava um caramouço, [pausa] por exemplo, a arder.
[85]
aquela poça que a gente fez cheia de carvão, [pausa] mas a gente, tapar e acalcar para para abafar para para se não gastar o carvão, a brasa.
[86]
[pausa] Ficava o Chegava ao cimo,
[87]
ficava um bocadinho.
[88]
Se havia ali um bocado de lenha [pausa] mal ardida, para não estar a entreter a outra brasa, a dar prejuízo a queimar
[89]
INF1 Se houvesse, por exemplo, um bocado de lenha mal ardida, a gente pegava na forcalha e aventava-a.
[90]
Porque estava ali a entreter, [pausa] a entreter aquilo.
[91]
INF1 A gente pegava numa forcalha
[92]
e botava-a fora,
[93]
aventava-a.
[94]
Pegava mais num bocado de terra,
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aventava ali para de cima,
[96]
tapava tudo, bem acalcadinho, bem acalcadinho,
[97]
[pausa] ficava tapada.
[98]
Se por acaso se abrisse algum buraco, a gente andava alerta
[99]
e ia ver.
[100]
Porque se abrisse algum buraco estava a acender.

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