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Unhais da Serra, excerto 42

LocalidadeUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
AssuntoO lenhador e o forno de carvão
Informante(s) Dimas Diodoro Donzília

Text: -

[1]
INF1 Uma vez a um colega meu, acendeu-se-lhe o carvão dentro da saca,
[2]
INF1 o gajo com as sacas às costas e o carvão a arder por trás.
[3]
INF1 O Dióscoro Velho.
[4]
Foi no sítio da corda.
[5]
Ele ia com aquilo às costas, duas sacas,
[6]
e o lume lá numa saca.
[7]
Foi no sítio onde ia a corda,
[8]
o lume chegou à corda,
[9]
caiu-lhe aquilo das costas para baixo.
[10]
INF2 Traçou-lhe, claro.
[11]
Traçou-lhe a corda.
[12]
INF1 E, bem, isto também era com muito sacrifício.
[13]
Muito sacrifício!
[14]
Ai!
[15]
INF2 Ia muita gente.
[16]
INF2 Iam.
[17]
INF1 Não, cada um…
[18]
Quando havia [vocalização]…
[19]
Bem, uma pessoa sozinha podia ir,
[20]
mas, no geral, sempre havia quem fosse.
[21]
[pausa] Se não fossem daqui, ia-se sozinhos
[22]
e encontrava-se mais no caminho.
[23]
Nesse tempo não havia fábrica.
[24]
Encontrava-se mais no caminho
[25]
e depois lá se juntavam.
[26]
INF1 Uns para aqui, outros para além, mas logo perto uns dos outros, e tal,
[27]
e era assim.
[28]
INF2 Eu ainda vi fazer carvão ao meu pai também.
[29]
INF1 Ai, muito sacrifício!
[30]
INF2 Eu ia com ele.
[31]
Ajuntava-lhe as torgas, e tudo.
[32]
INF3 À minha mãe é que ninguém a apanhava a fazer carvão.
[33]
INF1 Muito sacrifício, muito!
[34]
INF3 Ah, e depois foram logo para a fábrica.
[35]
INF3 A minha mãe não não queria ir para o carvão.
[36]
INF1 E a brasa E a brasa, sabem como é?
[37]
INF1 Car- Carvão é carvão
[38]
[pausa] e a brasa é diferente.
[39]
INF2 E a brasa é…
[40]
INF1 A brasa é [vocalização] carvão mais miudinho, [pausa] o carvão mais miudinho.
[41]
INF3 Que se queimava antigamente nas braseiras.
[42]
INF2 Eu até tenho além brasas feitas que me deram.
[43]
INF1 Por exemplo, quero ir fazer uma saca ou duas de brasas.
[44]
Ia por aí acima,
[45]
levava uma roçadoira – como o senhor já aí mostrou num papel –,
[46]
[pausa] levava uma roçadoira,
[47]
levava a corda, dois sacos, um bocadinho de merenda do que havia
[48]
e lá ia a gente para o destino.
[49]
Chegava então a um giestal – [pausa] giestas, giestas pegadas, pegadinhas, que quase que se lá não passa no meio, e muito altas, quase da altura aqui deste tecto –,
[50]
chegava a gente ali [vocalização],
[51]
giesta que fosse grossa:
[52]
"Bem, aqui serve.
[53]
Vou ficar".
[54]
Começava então com a roçadoira – que é esta curva –,
[55]
começava ali a roçar giestas para o monte, cortar e deitar para trás, cortar e deitar para trás, [pausa] até me parecer que vir- até me parecer quand- que eu visse as horas de [pausa] para fazer a brasa.
[56]
INF1 A, a [vocalização] A brasa é mais depressa que o carvão.
[57]
INF2 É mais rápido.
[58]
INF1 Fazia ali um monte de giestas cortadas, grossas [vocalização] – grossas aqui quase como o meu pulso –, outras mais miúdas, e tal, tal, tal.
[59]
Chegado, tinha Fazia ali um grande monte
[60]
e depois chegava-se a altura de lhe deitar o fogo.
[61]
Era o mesmo processo do carvão,
[62]
mas ardia mais depressa.
[63]
INF2 O poço era a mesma coisa.
[64]
INF1 Era lenha mais miúda.
[65]
Era lenha mais miúda.
[66]
Deitava-lhe o fogo,
[67]
fazia ali uma fogueira enorme,
[68]
enchia fazia a mesma poça, ou ainda maior, que a brasa fazia-se mais muito.
[69]
INF1 Fazia ali uma grande poça
[70]
[pausa] e era igual.
[71]
Deitava-lhe a lenha toda que tinha que tinha cortado,
[72]
e deitava tudo ali para dentro…
[73]
INF3 Olha, está a dar o coiso.
[74]
INF1 [vocalização] Depois arranjava uma forcalha.
[75]
A lenha ardia…
[76]
Era A lenha era a mais comprida, lenha aí com com dois metros, ou um, ou como calhar.
[77]
INF1 Deitava tudo para a poça
[78]
e depois ficava umas pontas que não ardia, que não calha- não cabia toda na poça.
[79]
E depois arranjava uma forcalha,
[80]
nas pontas que ficavam fora, virava-as para dentro,
[81]
tudo ardia,
[82]
da outra ponta igual,
[83]
ia estando tudo ardido.
[84]
Isso a brasa era muito mais depressa.
[85]
Muito mais depressa!
[86]
INF2 Mais à pressa.
[87]
INF1 Era quase em metade do tempo.
[88]
Depois de tudo ardido, era igual, a tapar, a tapar, a tapar.
[89]
Mas a [vocalização] giesta ardia mais depressa.
[90]
Chegava ao cimo,
[91]
ficava só um bocadinho, e tal.
[92]
Se houvesse algum bocadinho de mais grosso, e tal, para não estar a entreter, deitava-a fora,
[93]
já não servia.
[94]
Tapava tudo,
[95]
fazia o mesmo terreirozinho já varrido, [pausa] com um sacho, inclinado.
[96]
INF1 Tirava a brasa exactamente como o carvão, com um sacho;
[97]
corria-a com a vassoura ali por por o terreiro abaixo;
[98]
e vendo que que tal, metia-lhe o saco ao fundo,
[99]
ia dentro das sacas:
[100]
"Ala embora"!

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