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Vila Praia de Âncora, excerto 51
Text: -
INF Eu e um filho meu – este meu filho – uma ocasião bem, a senho-…
Era o fogo da Senhora da Bonança.
Ainda ele era pequenino – tinha ele para aí o quê? Cinco anos –
e levei-o comigo ao mar, pequenino.
E fomos à pesca do pancho, ali perto, perto daquele sanatório, aqui por fora.
Eu… estava a ver que morria que o rapaz que me morria.
É que eu vi-me vi-me atrapalhado.
Ainda não morava ali naquela casa,
Eu estava a morar por baixo do …
Sabe onde é que é o posto dos guardas, acolá em baixo?
Eu morava ali, numa casa alugada.
Pagava, naquele tempo, oitenta escudos.
Andava eu na pesca do bacalhau.
E dia de fogo de Senhora da Bonança, que era num sábado, apeteceu-me ir ao mar, numa embarcação que era do falecido meu pai, nu-, nu- numa gamelinha pequenina.
era só à ve- era só a remos.
E eu pego no meu filho, que era pequeno – para aí cinco, cinco anos, até seis anos, talvez não os tivesse –,
Mar Mar como está aqui, chãozinho, calminho, como está aqui!
disse eu para a minha mulher: "Aida, vou pilhar um bocado de peixe"!
"Não vás homem, que é dia é dia de Senhora da Bonança".
E eu tinha isca, desta isca que se apanha aqui nestas nestas pedras, no mexilhão, destas minhocas assim gran-, minhocas.
mas é é umas minhocas que há, no mexilhão.
Cava-se Escava-se com uma sachola
[pausa] e aquela isca está debaixo do…
e aquela minhoca está debaixo da is- debaixo do mexilhão.
E eu apanhei muita isca, e ao outro di- – apanhei de véspera –
e ao outro dia, lá vou eu e o meu rapaz.
INF Nós [pausa] afundeámos,
largámos – nós chamamos-lhe poitada.
Sabe o que é uma poitada?
É uma pedra, grande, assim grandinha,
bota-se para o fundo, para afundear a embarcação, para afundear a embarcação.
Ora, eu levei levei sardinhas,
e peguei num pedaço de rede – dessa como há, fininha do camarão –
e botei aquelas sardinhas naquela redinha,
botei-lhe uma linha para o fundo…
Ora, aquilo, aquela sardinha, foi-se desfazendo,
e o peixe, que estava ali pelo lado, veio todo parar à minha beira, ali, debaixo da emba- da embarcação.
Era só ter linha para apanhar peixe, os tais panchinhos – os tais panchos que são assim, ó, assim e assim e assim – e fanecas!
E eu pus-lhe uma linhinha pa- para ele.
Ele estava assim à ré, assentadinho.
E eu à proa, porque tinha mais blindança para alar a poitada e tudo.
E eu pu-lo à ré com uma linhinha.
E eu tanto me ri que depois comecei a chorar!
Caiu uma tem- uma trovoada, veio um um trovão!
Depois, deu em cair chuva,
caiu uma faísca em cima daquele sanatório, que manda um estampido – que ele ele tem lá, ele tem lá pa-, rai-, tem,- tem lá o [pausa] pára-raios, tem.
E caí- E aquela faísca deu um tam- um estampido que veio para ali:
"Ai, meu pai, que vamos morrer todos"!
"Ó meu filho, não te assustes"!
E eu fui acolá à, à à poitada, à corda,
Eu, ali naquele tempo, eu tinha força como um leão, Jesus!
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