INQ1 E outras ervas assim que tiram para chá?
INF Há uma erva que também se cria no campo e nos quintais que é a selva. A selfa. É muito boa.
INQ2 Selfa?
INF Aqui neste quintal a seguir há. Há bocadinho passei e ele digo: "Olha, se eu não me esquecer hei-de levar um bocadinho para fazer chá". Às vezes a gente está mal dispostas e [pausa] é bom.
INQ2 Então quando passar por lá traga um bocadinho só para a gente ver a folha como é que é.
INF Sim.
INQ2 Está bem?
INF É a selva.
INQ2 Selva ou selfa?
INF Sim, eu até não sabia e uma senhora dum guarda me disse: "Olhe, vou levar aqui um bocadinho que, às vezes, estou mal disposta e isto é um chá tão bom, tão bom"! Pois. Digo: "Ai, mas isso eu eu lembra-me de as pessoas, às vezes, lhe darem ataques e passarem-lhe com essa erva". "Não, mas é bom para chás", disse-me ela.
INQ1 Pois. E mais assim outras boas para chás?
INF Assim do campo? Do campo, ele eu não sei. Esta gente que va- das ervanárias é que sabem. Pois. Antigamente curavam as pessoas com as ervas do campo; agora é já é tudo à [vocalização] botica. Pois. Tudo à
INQ1 Então e cidreira, não?
INF Erva-cidreira é bom também. Conheço.
INQ1 Também se usa aqui, ou não?
INF Sim, também erva-cidreira, hortelã-pimenta. Pois. Hortelã-da-ribeira. Pois. Poejos. Poejos, se quiserem levar, tenho lá no quintal, podem levar que é bom para as para a … Não gostam da sopa cá alentejana, não?
INQ2 Oh!
INQ1 Eu se… Gosto muito.
INF Hã?
INQ1 Mas eu gosto mais de sopa de, de coentros, açorda de coentros do que… Pois.
INF Ah, açorda. Uma açorda com Mas lá costumam a fazer? Então podem levar um panito caseiro [pausa] do forno, e levarem coentros. Quando forem, eu logo lhe arranjo coentros. Lá não há?
INQ1 Há, mas é, por acaso, é difícil.
INF Mas, às vezes, é de fácil é difícil?
INQ1 É.
INF Pois. Mas, se calhar, não costumam a fazer como a gente faz cá em um [vocalização] cá no Alentejo.
INQ1 Como é que fazem?
INF A gente, [vocalização] por exemplo, pica-se qua- quatro alhos – não é? –, uns três ele uns três ou quatro alhos – não precisam muito grandes –, cortam-se para não se safarem, pi- pisam-se muito bem com os coentros. Lavam-se os coentros e lavam-se os alhos e depois e põe-se uma sal. Mas não se põe muito que é para depois saber se está bom de sal. Bate-se muito bem, muito bem. Eu gosto de bater e ficar tudo bem batido. Há pessoas que deixam os coentros grandes, eu não gosto de ver isso. Aqui em casa também gostam assim. E depois de aquilo estar muito bem batido, deita-se o azeite, aquele pouco mais ou menos que a gente vê. E depois, tem já a sopa migada – a sopa quanto mais fininha é, melhor –, sopa de pão… Até pode fazer açorda de bacalhau, açorda de amêijoas, [pausa] açorda de poejos, também pode lhe deitar uns poejinhos. Mas se gosta mais de coentros os coentros… Eu também gosto mais de coentros. Deita-se a água e depois mexe-se muito bem – água a ferver!
INQ1 Pois.
INF Eu até costumo a deitar ovos dentro da taça da, corto-lhe um ovinho dentro. Quando é tempo de pimentão verde, deito um bocadinho que dá muito gosto à açorda. Não faz mal com os coentros!
INQ1 Pois, pois.
INF Se não gosta com o pimento, não deite. E depois de estar os as sopas migadas, deita-se água, mexe-se muito bem e prova se está bom de sal. Depois deita-se o pão, que o pão já tem sal. Tem que provar é [vocalização] o caldo. Depois tapa-se ali um bocadinho. Depois serve-se. É o uso cá do Alentejo.
INQ1 Estou cheia de fome! Tenho impressão que já janto!
INQ2 Se te dessem a açorda, não jantavas.
INF E é uma coisa, e é uma E à noite é uma coisa que não faz mal. Eu já tenho ido de viagem, venho mal disposta, ponho logo a água ao lume, faço ali uma açordinha, deito-lhe um ovinho com uns coentrinhos só – coentros e o azeite e o ovo –, migo uma sopinha, cai-me aquele caldo tão bem!
INQ1 É!
INF Fica a gente bem. Lá, ele pouca gente… Esta, a, o A açorda é de, de é o uso do Alentejo.
INQ1 É.
INF Mas
INQ2 Mas em Lisboa também se come bastante.
INF Mas é com este pão, não é com o pão fino, que o pão fino não presta.
INQ1 Pois.
INF Este pão fica… Embora abrande, mas fica rijinho.
INQ1 Pois, pois.
INF Tem que ser pão de daquelas mulheres que fazem o pão – como eu o amassava!
INQ1 Pois.
INF Pois. Como eu amassava que o amassava… Levava aí uma hora a amassar um alguidar de pão.