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ALV50

Alvor, excerto 50

LocationAlvor (Portimão, Faro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Ápio Aristógenes Assunção Aspásia
SurveyALEPG
Survey year1977
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INQ Então e lobisomens, conte . Havia um?

INF1 Havia sim senhor. Havia um lobisomem chamado Azor Belmiro Aquiles Benjamim.

INF2 O Aquiles era Aquiles Benjamim.

INF1 Havia um lobisomem chamado Aquiles. Havia [vocalização] Havia também um Aquilino. [vocalização]

INF3 Havia muitos!

INF1 Havia muitos mas um eu conheci o Aquilino. Fazia albardas . [pausa] e assim metia-se do Era borracho. Era bom Era assim borracheiro, [vocalização] de bebida.

INF3 Metia-se nos copos.

INF1 Bebia. E depois, quando estava bêbedo, dizia o nome delas todas. Estava três, quatro dias de cama das porradas que elas lhe davam. Davam-lhe cada caldeirada de porrada, diz ele assim: "Oh! Andei com Esta noite andei com aquela às costas". "Andei com assim" Ah, elas sabiam, vinham a casa, davam-lhe tantas, tantas, tantas que ficava de cama. Era esse. E o Aquiles E o Aquiles Benjamim, a mãe sabia que ele era lobisomem e diz: "Ai, tirar a sina do meu filho, [pausa] tirar a sina do meu filho"! Diz ela assim: "O que há-de eu fazer"? ó Aristógenes, então?

INF2 Então, quem quer falar, aqui não .

INF1 "O que há-de eu fazer"? Diz as vizinhas assim: "Para tirar a sina do meu filho, diz que queimado" Aristógenes, então assim não se entende, eu estou falando e estou com a ideia em ti.

INF4 Ele se cala, ele se cala.

INF2 Fala tu, que eu

INF1 Não, então estou com a ideia em ti. E diz ela assim: "O que é que há-de se fazer"? "Ó vizinhas, a gente tem que queimar a roupa dele". "Tem que queimar a roupa dele, mas como é que se queima, como é que se faz isso"? Não sabia, diziam elas assim: "Olhe, mais experiência" Que eles tinham mais experiência, que ouviam dizer. Diz assim: "Bem, apanham a roupa [pausa] dele quando se foi despir" Quando estava a feição, faziam os tales serões, chamavam os tales serões da empreita, que havia aqui muita gente que se governava [pausa] era das esteirinhas. E depois, estava tudo em serão, e diz ela assim tinha duas portas , diz ela assim: "Agora vou-me eu ver" a altas horas da noite , "diz que é à sexta-feira e à terça-feira, agora vou-me eu ver se [pausa] o meu filho está". [pausa] Que ele às vezes não dava notícia. Sabia que ele era e, às vezes "Mas, vou-me eu ver se ele está". Ela, às vezes, achava por falta dele. Ele era solteiro e [vocalização] foi ver: "Não está. O meu filho saiu". Saiu, mas diziam. [pausa] que era da estrumeira, ela não deu com a roupa. Diz ela assim: "Oh, outro dia tenho que ir à pergunta dele". Tal não era a aflição, quando ele saiu, foram. A mãe foi atrás, foi atrás, sem Aquilo era um quintal, escondeu-se e a [vocalização] travessa, ele despir-se Chamavam-lhe uma travessa era onde onde é que deitavam o lixo antigamente. E aquilo era arrumado mesmo a Alvor, no fim de Alvor. E a mãe viu ele despir-se nu. Despiu-se todo nu, não deixou roupa nenhuma. E ele andou às reboletas pelo esterco. [pausa] Andou às reboletas pelo esterco e pôs a roupa num moitão. [vocalização], daí a uma meia hora ou isso, a mãe vem contar. A mãe vem contar daí a meia hora e diz as vizinhas: "Vai buscá-la e queima-a ! [pausa] Queima-a na rua. Entre para dentro"! Tudo no quintal: "Queime-a , dê-lhe fogo . além num instante". [vocalização] De maneira que foi, chegou ali, [vocalização] d- deu-lhe fogo à roupa, fugiu para casa. Não tardou um instante, está ele. [pausa] está ele, havia patada nas portas, havia havia empurrão, havia Eu sei ! Desejava de partir tudo em casa. As mulheres, tudo com medo, tudo trancado e bem trancado! Estiveram com medo, não saíram a noite toda dali. E ele que levou A luta levou Não sei o tempo que a luta levou, [pausa] naquilo. E [vocalização] desejava de matar todos. E chegou a pontos que chegou a madrugada, [pausa] aquilo passou. Mais tarde ele punha-se: "Minha mãe, venha-me dar uma roupa para eu vestir, minha mãe, que eu não faço mal". A mãe tinha medo e as vizinhas "Minha mãe, venha" Esteve ele nu até de manhã, com o sol, ta- dentro do quintal. Estava tudo cheio de medo. "Minha mãe, venha-me dar roupa, que eu não faço mal". Mais tarde, quando [pausa] quase ao nascer do sol, a mãe jogou-lhe a roupa pela janela, e diz ele: "Eu não faço mal a ninguém". [vocalização]

INF3 tinha passado.

INF1 Acabou a sina. Nunca mais se ouviu dizer que ele era lobisomem. Queimaram-lhe a roupa. Pois sucedeu essa se deu .


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