INF A eira era feita de cré. Era acombrada em volta da… [pausa] Por exemplo, aquilo Eu não me lembro de se fazer nenhuma eira nova… Não, eu lembro-me de fazer-se alguma eira nova aqui, mas poucas. Por exemplo, as eiras eram acombradas; ia-se à pedreira encomendar a pedra, os combros, que era uma uns bocados de pedra, mais ou menos do mesmo tamanho, que não era pedra [vocalização] da melhor, e era feita, mais ou menos no mesmo tamanho e na mesma altura. Depois era chamado o pedreiro que ia acombrar a eira. [vocalização] A eira era acombrada e depois era rodada, fazia limpavam a terra, e depois era carreado o cré. Ora, o meu marido até talvez saiba quantas carradas de cré é que levava, mas era à volta de trinta carradas de cré [pausa] que se punha…
INQ Que se punha por cima da terra?
INF Não. Punha-se dentro da terra…
INQ Ah, essas pedras era para pôr à volta?
INF [vocalização] Fazia-se como, a As pedras era para para rodar a ei- para…
INQ Chamavam-se os combros?
INF Os combros, que era para vedar a eira.
INQ Rhum-rhum.
INF Ele sei lá, combros mais ou menos naquela…
INQ Como estas que tem aqui fora?
INF Como estas que tenho aqui fora; ele mais ou menos vinte e cinco centímetros ou trinta.
INQ Rhum-rhum.
INF Portanto, [vocalização] depois de estar a eira acombrada, era rodada a eira por dentro, para ficar baixo, para depois poder levar a cré. Afundavam, [pausa] sei cá, uns trinta centímetros. Porque para pôr ali dentro de vinte a trinta carradas de cré, era muita carrada. Ia-se buscar o cré ao Salão. Convidavam-se dez ou doze carros ou… Que eu penso que era só uma carrada que iam buscar por cada vez. Era só um dia que se ia buscar cré.
INQ Rhum-rhum.
INF Iam de manhã os carros com as vacas, e [vocalização] e ia-se buscar o cré, e estendiam o cré na eira… Havia então uma pessoa que não ganhava, mas era o mestre da eira, é que sabia destinar a eira. Portanto, a eira era feita [pausa] com água, faziam como uma uma malaçada, um [vocalização] barro, e era com muita gadaria, a eira bem fechada de gado a calcar, a calcar aquilo para o chão, [pausa] e os homens a bater com paus. [vocalização] O gado apezinhavam, para fazer como um vidro, [vocalização] para aquilo abater, para o chão, e os homens calcavam com uns paus, [pausa] uns paus que não era paus, era… [pausa] Não estou a ver bem mas eu penso que era assim: o pau tinha um pau grosso, maior, em baixo, e depois em cima tinha um que encavava e o homem pegava no pau e ia batendo para para abater a eira; depois de a eira ficar fei- fei- isso era nesse dia. E depois ficava, ainda mais oito ou dez dias, sempre a trabalharem na eira, de dia. [vocalização] Havia uma grade, se- umas grades que não eram com uns dentes de ferro, eram com dentes de madeira. E ficavam ele durante dois oito, dez dias – também agora não estou a prever bem, mas era um uma quantidade de dias – a and- o gado sempre a andar com aquela grade, para fazer o vidro da eira. Quando a eira E então já nesse nesses dias não era ele com [vocalização] com gente de fora. Mas havia pessoas… Porque não havia muitos gados e aquilo cansava o gado! E eles iam ajudando: [vocalização] um dia ia um da parte da manhã, outro da parte da tarde, iam ajudando. E o que era o mestre da eira é que ia ver quando é que a eira estava a modo de ficar. Quando a eira começava a cantar – o, a, a, a a grade passava e aquilo guinchava: "Olha, já a eira está quase feita, que já está a guinchar" – já está ca- a cantar! "Já está a grade está a cantar". E assim ficavam as eiras feitas. Depois Ainda há umas quantas eiras aí de cré, mas poucas. Algumas acertavam muito bem, outras não acertavam tão bem. Começavam a desfazer, começavam a desfa- a esfarelar. Agora há vinte e [vocalização] vinte e cinco, vinte e seis anos para cá, as pessoas começaram a substituir o cré pela cimento. E normalmente as eiras são feitas de cimento. E já há muitas eiras que desapareceram. As pessoas [vocalização] deixaram de [vocalização]… Fazem uns pequenos eirados diante da porta com cimento, porque também a eira já hoje não tem grande utilidade.
INQ Claro.
INF Não se faz [vocalização] já… O trigo desapareceu; semea- malhava-se o tremoço, também está com tendência mesmo a desaparecer e mesmo já havia muito pouco. Porque a eira era muito… [vocalização] A maior importância de a eira ser redonda era para a debulha do trigo. Porque para um malhar o tremoço, ou outra coisa que se malhe, tanto faz ser redonda como quadrada, porque malha-se de qualquer maneira. O trigo é que tinha que ser redondo para a vaca poder andar de roda.