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COV02

Covo, excerto 2

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Arquibaldo
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF Olhe que eu [pausa] não podia viver em minha casa, [pausa] com a minha nora e com o meu filho. [pausa] Queriam que eu o desse a uma sobrinha dela para trazer [vocalização] um homem para ca- para nossa casa. E eu disse assim Um dia estava para cear e eu estava assentado e ela a dar-me a ceia, começou ela a dizer: "Ai, assim não está bem porque você [vocalização] Trazê- É melhor trazer-me para aqui um [vocalização] uma mulher, ou um, um [vocalização] a minha sobrinha" e não sei quê, não sei quê. Eu disse: "Olha, menina, enquanto eu andar com os pés ao de cima da terra, [pausa] não dou nada a ninguém".

INQ1 Pois.

INF Foi mesmo assim! "Olha ! Assim, olha, eu vou dar à tua sobrinha, não é? Ah, pois, então?! Pois dou à tua sobrinha"?! Quer dizer que o meu filho nem nunca teve nada do pai nem da mãe. Faz de conta que nem tem pai nem mãe. Com tanto que eu trabalhei! Comecei a minha vida sem nada e hoje sou um grande lavrador, e agora dar pão e árvores que tenha "Olha" Eu disse-lhe assim: "Olha, menina, um dia, um dia se eu o desse , um dia eu e a, e a e a tua sogra éramos uns cães ali na casa. Tu e o teu homem eram os criados e eles é que eram os patrões. Ouviste? E então assim, deixai-me morrer e deixai morrer a [vocalização] velha e depois vocês dai-o, vendei-o, dai-o a quem vocês quiserem porque nada disso me incomoda".

INQ2 Pois.

INQ1 Rhum-rhum.

INF "Mas agora não dou! Não dou [vocalização]! O que é meu é para o meu filho, pronto"!

INQ1 Claro.

INF E ela foi e ele aborreceu-se toda e eu [vocalização] A comida que estava diante de mim, mandei com ela ao chão, parti tudo parti louça, parti tudo e fui para a cama. Meti-me no meu quarto esta- [vocalização] A cozinha é como aqui assim, e aqui é uma sala, e aqui é um um quarto onde eu durmo e tem mais um, um dois quartos para [pausa] para, às vezes,

INQ1 Ó cãozinho!

INF ele não faz mal nenhum para para, às vezes, vir ele gente de fora, que eles, às vezes, ficam . E depois, passando passando ali dois dois anos, dois anos e pouco vem ela com o miudito. E este Eu via-os andar Todos os quinze dias iam para Vale de Cambra, com a médica chamavam-lhe a Basilissa, que era a que Bem, quando uma mulher fica grávida,

INQ1 Pois.

INF ela cuida daquilo para [pausa] coiso.

INQ1 Pois, pois.

INF E ela E eles iam . Um dia, eu fui buscar uma carrada de estrume, aqui acima, [vocalização] com a com as vacas, e [vocalização] fui diante a mais ele roçar com Agora é [vocalização] com uma máquina, mas naquele tempo era com uma enxada. Cada qual levava a sua enxada e cortava o estrume e depois vinha em cima do carro. E depois ela foi e ele foi Foi mais eu Ao outro dia da feira, não me disse nada e eu também nada lhe perguntei. E ele vai, chegou à [vocalização] mãe A minha mulher chegou com as vacas e com o carro para trazer o estrume. E ele foi, começou a brincar com a mãe e disse assim: "Ó mãe, você breve vai ter um neto ou uma neta"! Eu calei-me. Não andava assim muito mato por e eles, ele era assim com a conversa para a mãe. E a mãe começou: "Cala-te tolo! Cala-te tolo! És um maluco! És aqui, és acolá"! E ela foi e [vocalização] depois eu fui revezar. Virou-se para mim e disse: "Ó pai, você não sabe"? "Que é"? "Olhe que a Beatriz vai ter um A-, a-, anda Anda grávida, tem um" Digo eu assim: "Então Arquimedes" ele ele é Arquimedes , "então Arquimedes, e agora se eu o desse? Se eu o tivesse dado à tua sobrinha? Agora como é que ia ser"? Diz ele: "Ah, não faz mal. O dinheiro que a gente tem nos bancos dava bem para a criança". "Pois é. O dinheiro que temos nos bancos dava para a criança e então o que eu trabalhei e as terras que nós temos eram então para a para a tua sobrinha. Homem, tem juízo"!

INQ2 Para outra pessoa.

INF À noite, a minha nora estava a tirar a ceia, porque a gente [vocalização] Bem, que enquanto se faz a ce- ela faz a ceia e governa alguma coisa , ela é que tem o lume para as tigelas, o lume para uma travessa, outro para os pratos, ou para qualquer coisa que tira. E ela começou a tirar E ele começou: "Ó Beatriz, tu não sabes"?! Diz ela: "Que é"? "Olha, disse ao pai e à mãe que [pausa] que tu que andavas prenha". As lágrimas começaram-lhe a correr pela cara abaixo. Digo assim: "Então Beatriz, então vocês fizeram-me ir um dia para a cama sem ceia, começaram a teimar comigo, e agora se eu o tivesse dado [pausa] à tua sobrinha? E agora? Como é que ia ser"? Di- Ela calou-se, não abriu a boca! É que não abriu a boca! Não! Não disse nada e começou a chorar. Eu calei-me, e ela também se calou. Agora, eu ensino Eu sou pa- [vocalização] padrinho do meu netito. E eu digo-lhe: "Ó neto"! "Que é"? "Diz à tua mãe que se ela quer ir chamá-los a Lomba agora para, para para vir fazer-lhe as terras. A tua mãe queria, queria fa- queria que dar-lhe as nossas terras para ela". "Vão para os da Lomba". E ela vai E ele, às vezes, diz-lhe. E ela: "Cala-te. Olha que eu bato-te, Arquimino"! E ele: "É verdade! Se não fosse o meu avô e eu o que era nosso era tudo para a Lomba, olha que é! Que é um um lugar que chamam aqui em baixo que é a Lomba "Não! Que o meu avô é que era fino! Se não fosse o meu avô, como é que você fazia"? E é uma boa hora que a gente passa com o diabo do miudito.

INQ1 Pois é.

INQ2 Pois.

INF O miudito é muito esperto, muito fino! Muito esperto!

INQ1 Foi uma alegria!

INF Então não foi uma alegria para nós?!

INQ1 Claro!

INF Então, alegria para nós e Mas olhe, foi a alegria para nós mas para os meus herdeiros não foi alegria.

INQ1 Para os seus quê?

INF Para os meus herdeiros, para os meus irmãos, para os meus sobrinhos, para

INQ1 Ah, pois, pois, pois. Ah, pois. Porque tem mais um herdeiro.

INF Estavam a contar com aquilo.

INQ2 Pois.

INQ1 Então

INF Agora, meu amigo, apareceu aquilo, arrumou com tudo.

INQ1 Claro!

INQ2 Pois!

INF Pois é.


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