INQ1 Como é que as mulheres fazem o pão? Como é que se faz?
INF Olhe, [pausa] o pão é feito assim: agarra-se, [vocalização] bota-se a farinha – chamam aquilo a masseira, , [pausa] que é uma masseira.
INQ1 De quê?
INF De madeira.
INQ1 De madeira?
INF É uma masseira [vocalização]. Como uma caixa, mas é é larga por cima e mais apertada por baixo, e tem uma tampa por cima – chamam aquilo a masseira.
INQ1 Mas não é assim uma coisa alta, não?
INF Não.
INQ1 É uma coisa baixa, assim desta altura, para aí?
INF É uma coisa… É, ou isso…
INQ1 Como se fosse um tabuleiro?
INF É como um tabuleiro. Isso!
INQ1 Já sei, pronto! Já sei quais são!
INF É como um tabuleiro! E depois vão aquilo e, e e bota-se a farinha, depois… Primeiro faz-se o fermento. [pausa] Para o pão, é o fermento. O fermento é [vocalização]: eu cozo agora, coze-se agora e 'deguarda-se' assim um bocadinho de massa [pausa] para de hoje a oito dias, ou quinze dias, ou conforme… Bota-se [pausa] umas pedrinhas de sal por cima e põe-se aonde for fresco – numa loja que seja fresco! A gente então na nossa casa é na salgadeira, de salgar os a carne dos porcos [pausa] – no sal!
INQ1 Rhum-rhum. Pois, pois.
INF Põe-se numa numa tigela, ou numa bacia, ou num prato e põe-se lá aquilo, aquele bocadinho [vocalização] de massa. Depois, quando é para cozer, vão vai-se lá e [vocalização] – também têm uma peneira para peneirar; chamam aquilo uma peneira que é para peneirar a [vocalização] farinha, para sair só o co-. Para sair o O que é grado sai para fora que é para os porcos…
INQ1 Como é que se chama isso que é grado?
INF É [vocalização] Chama-se aquilo o carolo.
INQ1 O carolo.
INF O carolo. Chama-se aquilo o carolo. Sai para fora [pausa] e bota-se – que é para os porcos ou para as vacas, ou coiso. E o que é boa… Aquele mais fino é boa e é que fica para [pausa] para o pão. Ora bem, agarra-se e e amassa-se um bocado de farinha com aquele bocadinho de, de, de de fermento – chamam aquilo o fermento –, que é o que fica dumas vezes para as outras.
INQ1 …
INF E amassa-se… [vocalização] Suponhamos, faz o fermento à noite, amanhã de manhã, você – a senhora – chega lá, está todo partido, todo ao todo aos cortes.
INQ1 Rhum-rhum. Partiu.
INF Vai… É. Amassa-se o pão, amassa-se o pão, bota-se depois a farinha na [vocalização]…
INQ1 A sua, sua nora, quanta quantidade de farinha é que co-, que coze?
INF Oh, nós agora, a gente agora já coze pouco, que somos quatro pessoas só. Com quatro quilitos, cinco, mas a gente… Ela coze aí um alqueire e meio, um alqueire, um alqueire e meio…
INQ1 E dá para quanto tempo?
INF Oh, dá para oito, doze, treze, conforme.
INQ1 E está sempre macio, até ao fim?
INF Sempre macio! Porque quando se amassa e quando se abre a porta ao pão, se quiser que o pão fique macio, a senhora tira o pão fora – o pão fora –, e bota-o por cima dum, dum duma cai- – a gente chama uma caixa, você é um… –, por cima dumas tábuas [pausa] e abafa-o [pausa] com qualquer coisa para ele não tomar ar. E ele fica ali e deixa-o estar, você vai a comer e é como… É melhor que o trigo!
INQ1 Pois, pois, pois.
INF Vem aí o padeiro quase todos os dias, agora, e a gente [vocalização]
INQ1 Não compram?
INF compra, às vezes, para o mocito, compra; mas quando a gente coze, a gente nunca nunca compra.
INQ1 Pois, pois.
INF [vocalização] É melhor! A gente, olhe, com leite…
INQ1 Pois, pois. Então, íamos a exp-… O senhor estava-me a explicar e agora esqueci-me.
INF Diga.
INQ1 Passámos para outra coisa… Portanto, as mulheres põem o fermento na farinha e vai?…
INF E amassam. Aquilo amassam, amassam e depois quando tiver a ma- [vocalização]… Dão ali umas cinco voltas ao pão. Cinco voltas é: mexê-lo [vocalização]… É. Cinco voltas ao pão. Depois agarra e tira e ajuntam e põem um bocadinho de farinha por cima e fica tudo tudo certinho assim, junto, muito bem [verbo] à masseira.
INQ1 Direitinho.
INF Sim. E depois [pausa] aquilo, aquele fermento faz partir aquela massa, fazer uns uns cortezinhos assim…
INQ1 Aquilo cresce, não é?
INF É. [vocalização] C- Começa a fazer uns cortezinhos, a fazer aquilo, e depois quando eles vêem que… Quando elas vêem que aquilo que está cortado, agarram [vocalização] e cortam, mexem aquela massa toda e depois começam a botar.
INQ1 Mas quando aquilo, aquilo… O que é que elas dizem? Que a massa já está quê?
INF Quando ela está cortada, está, está com a, está está em termos de ir para o forno. Arranja-se bem arranjadinha, assim, com uns golpinhos pequeninos!
INQ1 Mas não dizem que está finta, ou está?…
INF É. É fintar, é a fintar. Quando Quando o pão estiver finto, agarro e boto para um para o coiso. Começo a botar para o forno. Faço os bolos – [vocalização] sabe como é bolos? Não sabe o que é bolos?
INQ1 Os bolos é mais pequeno?
INQ2 Não.
INF O bolo é pequenino e é com a pá… E o bolo pode ficar assim, assim quadrado, um bolo. Bota-se. Isso é que é bom com leite.
INQ2 Rhã-rhã!
INF É. Olhe que tem aqui um senhor [pausa] que é é desembargador, aqui em Vale de Cambra – é o [vocalização] desembargador – e olhe que ele [pausa] vem aqui a nossa casa e a gente, a gente pode estimá-lo pode ser com a melhor coisa que tem – por exemplo, uma vitela, ou [vocalização] uns rojões, ou [vocalização] uma coisa que pode ser muito bom – e ele quer uma tigela de leite com bolo.
INQ1 Que engraçado!
INF E desembargador! Um desem- Um desembargador, um homem…
INQ1 E portanto, fazem os bolos e fazem mais quê?
INF É vários bolos e depois é conforme. A senhora se quiser fazer um bolo, faz; se quiser dois, faz; se quiser quatro, faz; faz o que quiser.
INQ1 Mas só fazem bolos?
INF Só se faz bolos. E depois agarra a uma outra massa e fazem broas.
INQ2 Ah!
INQ1 Ah! Que mistura com o tal …
INF Mistura-se. Está tudo misturado. É. Mistura-se e depois aquilo é pulado numa – chamam aquilo uma escudela e é pulado aquilo…
INQ1 Ah, já sei. Pulado?
INF Pula-. Assim, mexem ele para um lado e para o outro e aquilo fica tudo tudo juntinho, tudo tudo numa bola.
INQ1 Uma escudela de madeira?
INF Hã?
INQ1 Uma escudela de madeira ou de plástico?
INF De madeira, madeira. E depois aquilo vai e agarra e bota-se aquilo para o forno…
INQ1 Mas botam na pá, primeiro?
INF Ou na pá ou têm uns, uns uma coisa, chamam um cocho. É uma coisa parece uma, uma uma escudela. É uma escu- assim… É de feitio assim, e bota-se lá dentro e mete-se dentro do forno e vira-se e fica lá certinho.
INQ1 Ah! Sim senhor.
INF E depois sai para fora – é como eu [vocalização] lhe acabo de dizer… Se depois de, do Depois como o pão está cozido, a senhora tem tiram-no para fora e depois é abafado, ou com uma toalha, ou com uma coisa qualquer, para ele não tomar ar. E ali está. Mas aquilo pode estar, eu sei lá! É sempre maciinho e molezinho, que aquilo é mais mole que o trigo.
INQ2 Rhum-rhum.
INQ1 Pois, pois.
INF É. A gente cá, nós é assim.
INQ1 Pois, pois.
INF E depois se temos leite, a gente…
INQ1 O leite de cá é da, das suas vacas mesmo, não?
INF É da minhas vacas. É das minhas vacas. É.
INQ1 Portanto é bom.
INF Pois é. Serrano, de vacas serranas, que é o leitinho melhor que tem!
INQ1 Vaca serrana…
INQ2 Não admira que o desembargador queira isso!
INQ1 A vaca serrana qual é? Aquela castanha?
INF Não, não. É uma que é toda retintinha de vermelha, é toda vermelha.
INQ1 Ah!
INF Todas vermelhas, todas vermelhinhas, essas é que é a serrana! Eu estou a [vocalização] receber uma média de sessenta cento e tal contos por…
INQ1 Pelos animais?
INF Pelos animais. Mas eu, depois…
INQ1 Pois, pois.
INF Porque a gente… Eu tenho… Porque só tenho vacas serranas e o touro é tourino – ah! é serrano também!
INQ2 Também.
INQ1 Pois.
INF E vem cá o o [vocalização] coiso… Eu, suponhamos, uma vitela, deixo-a estar um mês, um mês e meio, e [vocalização] e depois eles vêm cá, dão-me dez, doze contos, a pecuária. Dão-me…
INQ1 Pois, pois.
INF E depois eu vendo-a por o que calhar.
INQ1 Claro.
INF Depois [vocalização] tanto a vendo por trinta como quarenta contos, e aquele dinheiro vem sem sem trabalho nenhum.
INQ1 Pois, pois.
INQ2 Pois.
INQ1 Pois claro.