INF O meu sobrinho é um moci- é um mocito que tem onze anos.
INQ1 Coitado.
INF Est-, esteve Olhe que já está há um ano no hospital, no Porto, no Santo António. E agora [vocalização] lá a doutora, que é a doutora Belisa, mandou-o para a Inglaterra.
INQ1 Rhum-rhum.
INF E ele foi mais a mãe. O pai anda na França; o irmão anda na França ; é só a minha irmã é que está aí. E nós, ajudá-los? Pff, o que é que a gente lhe há-de fazer?
INQ1 Coitadinho!
INQ2 Coitado!
INF E o mocinho, olhe, agora, veio agora, foi na sexta-feira com dois buracos – um de cada banda da espinha, nas costas. Tiraram-lhe a medula!
INQ2 Ah!
INQ1 Para análise, não?
INF Não, não. Tiraram-lhe a medula porque ele sofria daquilo. E aquilo é que lhe dava ca-… Olhe, já largou o cabelinho da cabeça duas vezes!
INQ2 Coitadinho!
INF Ficou tal e qual, que nem…
INQ2 Pois.
INQ1 Pois, pois.
INF E agora, [vocalização] tiraram-lhe a medula, porque ela tele- – a doutora Belisa – telefonou para a Alemanha, não havia, telefonou para a França, não havia, telefonou para a para a América, não havia, telefonou para a Rússia e não e havia, [pausa] – para acudir ao mocito! –, mas depois, na Inglaterra, telefonou para a Inglaterra, não não havia, mas depois apareceu logo três pessoas a dar-lhe a medula.
INQ1 Ah!
INQ2 Ah!
INF E depois o doutor – que é o doutor… [pausa] é o doutor da Inglaterra, é o doutor Artaldo… Não! É o doutor Artaxerxes! –, o doutor Artaxerxes foi, telefonou para a para o Porto, para a doutora Belisa, que já lá tinha três.
INQ2 Ah! Pois.
INF Que mandasse a criança para lá. E então foram.
INQ2 Já foram para lá? Já lá estão?
INQ1 Foram.
INF Foram. Foram e já foram e já vieram.
INQ1 Ah! E então?
INF Foram e agora… Agora tiraram-lhe a medula dele. Agora estão à espera; vai amanhã para o Porto – é – a minha sobrinha com o mo- com o mocito, para essa Belisa ver – que ele já está há quinze dias sem tratamento –, para ver o, o se é preciso tratamento e para ela telefonar lá para o para a Inglaterra, quando é que vão, [pausa] outra vez.
INQ1 Pois, pois.
INF Sabe quanto é que se gasta na operação?
INQ1 Calculo!
INQ2 Ah, imagino!
INF Trinta e cinco mil contos. Trinta e cinco mil contos!
INQ2 Meu Deus!
INQ1 E a, e a Providência dá alguma coisa, ou não?
INF Arre porra! Nem me diga isso! [vocalização] Nós…
INQ1 Não dá nada?
INF Então não dá?! Então, olhe que ela nem nem a pensão paga! Nem a viagem paga!
INQ1 Que sorte! Mas olhe que às vezes não pagam.
INF Mas Mas o pai pagou…
INQ2 Às vezes não pagam.
INF Logo Agora logo de entrada, deram-lhe três mil contos.
INQ1 Agarra aqui.
INF Veja lá. Deram-lhe três mil contos.
INQ1 Ah! Vá lá.
INQ2 Vá lá.
INF Foi, foi. E agora, coitadinhos, estamos a ver.
INQ1 Pois.
INQ2 Pois.
INF Trinta e cinco mil contos que a que a, que a operação…
INQ2 E que idade tem o rapazinho?
INF Onze.
INQ2 Onze anos. Coitadinho!
INQ1 Coitado.
INF Ai, mas é muito fino! Olhe que ele andava na escola, e agora, assim doentinho, e vê vir os outros da escola – o meu neto e os outros – e ele vai ver o que as professoras dêem e o que elas ensinaram e ele fá-lo.
INQ2 Lhe ensinaram.
INQ1 E ele faz tudo, consegue fazer como se lá estivesse.
INF Ele faz tudo. E [vocalização] está E está tal e qual. Ele sabe tanto… Eu acho que ele sabe mais que os que se andam lá.
INQ1 Pois.
INQ2 É esperto, o miúdo!
INF É mui- muito fino, aquele miúdo; é muito esperto! É.
INQ2 Pois.
INF Pois é assim. Mas o pai, coitado, anda na França. A mãe, o [vocalização] O irmão também lá anda! E [vocalização] cá arranjou-se… Nós também lhe emprestámos algum. E pronto!
INQ1 Coitado!
INF É família!
INQ2 É família!