INF1 Olhe que uma vez…
INF2 Ai!
INF1 Uma vez, eu estava aq-… , [pausa] Que foi isso? Pois foi.
INF2
INF1 Eu estava aqui, [pausa]
INF2 De noite era!
INF1 e ouvi uns berros: "Há um, olha uma pessoa a berrar aqui em cima". Digo eu assim [pausa] para o meu filho: "Eh rapaz, está ali umas pessoas a berrar, que será? O que é que eles terão"?
INQ1 Mas era nevoeiro também?
INF1 [vocalização] Mas mau tempo! Diz ele: "Ó seu tolo, seu tolo, anda observar"! Mas ouvia-se ouviam-se aqueles gritos de aflição! Diz o meu filho: "E que era? É o senhor que virou o carro"!
INQ1 Ai, que horror!
INQ2 Ah!
INF1 Na estrada. Estava com o carro voltado!
INQ2 Meu Deus!
INF1 E eu ouvi, dei fé de [vocalização] da história…
INQ1 Pois, pois.
INF1 [vocalização] E eu fui bota- Eu fui lá, disse: "Ó rapaz, anda mais eu". Diz: "Eu não vou". "Anda mais eu, homem!
INF2 É verdade. Aquela, aquele Aqueles gritos que aquela gente dá é de aflição. Vamos lá".
INQ2 Pois.
INQ1 Claro.
INF1 E o moço foi. Fomos por ali fora, chegamos além, cada vez mais, cada vez depois de a gente se aproximar, ia atrás do sítio donde gritavam. Chegamos lá, olha, o carro virado de baixo para cima e era um homem sozinho, e não o virava. Pois como é que ele virava?!
INQ2 Não conseguia.
INF1 Virou à valeta!
INQ1 Claro.
INF2 Ah! Pois não.
INF1 Nós chegamos lá, disse: "Ó patrão, você o que é que tem"? "Ó patrão, pelo amor de Deus veja se nos acode como me acode, eu estou aqui, eu morro"!
INQ2 Era sozinho?
INF2 Sozinho!
INF1 Disse: "Ó homem, você não morre nada! Você agora já não morre"!
INQ2 Pois.
INF1 "Você, nós vamos ver se conseguimos a virar-lhe o carro. Se lhe nós conseguir a virar o carro, muito bem; se lhe não conseguir a virar o carro, você vai para baixo para a povoação para onde a mim. Para a minha casa"!
INQ1 Pois.
INF1 O homenzito, coitado, lá…
INF2 E ele donde era, Arquibaldo?
INF1 Ele [pausa] ele disse que era de [pausa] de São João da Madeira, homem!
INQ1 Rhum-rhum!
INF2 Muito longe, muito longe!
INF1 São João da Madeira! Depois eu andei lá mais o meu filho e ele e andámos e virámos o carro e depois ele botou-o a trabalhar e o homem já [pausa] queria-nos pagar. "Ó homem, não paga nada! Você vá à sua vida e venha embora, se quiser"! "Não, não, não. Eu agora já vou na estrada, vou mais devagar e vou". "Está bem". Com o nevoeiro!
INQ1 Pois.
INQ2 Pois, pois.
INF1 Ora, [pausa] morria!
INQ2 Pois claro.
INQ1 Ah, claro, ali ao frio.
INF2 Morria, morria.
INF1 Morria, coitado! Então…