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CPT19

Carrapatelo, excerto 19

LocationCarrapatelo (Reguengos de Monsaraz, Évora)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Hermes
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF Tantas pessoas que com estudos e não e não são capaz de dizer o que eu digo.

INQ1 Pois.

INF Mas é o meu sentido que puxa. Pois. Parte das vezes não preciso estudar, vêem-me as coisas ao sentido, e começo a [vocalização] Ou parte das vezes ou ou escrevo ou [vocalização] para fixar para mor de não me esquecer, ou fico com as coisas fixadas no sentido. Agora isto, bem como isto, é uma conversa que a gente ouve a cada passo.

INQ1 Pois, pois.

INF Qualquer pessoa diz isso [pausa] .

INQ1 Rhum-rhum. Olhe, o tio Hermes disse que quando ia assim por essas terras que cada uma tinha a sua maneira diferente de falar

INF Sim senhor.

INQ1 Portanto, em Reguengos é diferente daqui?

INF É diferente.

INQ1 Portanto, o que é que O que é que, o que é que o tio Hermes que seja diferente de ? Portanto, o que é que?

INF Sim senhor.

INQ1 Como é que sabe que uma pessoa é de Reguengos?

INF [vocalização] E hoje não difere-, não se não diferença tanto porque, hoje, o povo de Reguengos está mais educado que o que estava antigamente.

INQ1 Rhum.

INF O povo de Reguengos era o povo mais selvagem que havia. E hoje, mesmo assim, hoje está mais educado. Dantes, a gente ia A gente, eu, eu não Eu ia , estava meses e meses que eu tinha fa- as minhas famílias , ia para , estava meses e toda a gente me conhecia. Mas o Reguengos teve tempo que uma pessoa que ia, de fora, pouca vez de abalava sem sem o espinhaço sofrer, ou a cara. Pois. E de maneiras que, vai-se a ver, era estúpido. O Reguengos era estúpido. Mas hoje mesmo assim escapa. [vocalização] é uma gente que se pode lidar qualquer coisa. Sim senhora.

INQ2 Pois.

INQ1 Mas assim na fala, que é que, que é que eles tinham de diferente, ou? Por exemplo, aqui à volta, qual é a terra mais, que se fala assim mais diferente do que C-, do que o Carrapatelo?

INF [vocalização] Quase todas fazem diferença. O Carrapatelo é um povo com pouca educação. Eu sou um homem que não tenho educação nenhuma. A maior parte das palavras não as sei dizer. E nem E nem tenho essa tabela. E [vocalização] chega-se ali a São Pedro, pessoas educadas, que até têm vindo aqui à minha casa, para, para eu para eu lhe explicar certas coisas. Pessoas! aqui chegou um com o sétimo era para fazer o sétimo ano e veio aqui à de mim para o eu encaminhar. Porque ele tinha feito seis exames, tinha sempre ficado bem. E estava receoso com o sétimo ano, e veio aqui enf- [vocalização] falar comigo para eu para eu o encaminhar. Quando o Quando o moço me disse: [pausa] "Ó tio Hermes, eu venho porque eu vou a fazer o sétimo ano e [vocalização], vai-se a ver, estou receoso. Ainda não fiquei mal vez nenhuma do exame e agora estou receoso com o sétimo ano. E não gostava de ficar mal". E eu o que é que faço? Disse-lhe assim: "O que é que você quer que eu lhe diga do sétimo ano?! Eu tenho a segunda classe mal aprendida". "Mas o senhor sabe"! "Mas sei o quê"?! "Sabe, sim senhor". Digo: "Ora esta"! Eu fiquei sem pinga de sangue, sem saber o que havia de dizer. "Bom, você diz que eu que sei. Diga-me o que é que que eu sei". "Mas eu não sou capaz de lhe dizer". Começo a experimentá-lo, começo-lhe a dizer: "Então é isto, é isto"? "Não senhor". "É aquilo"? "Não senhor". "É doutro"? "Não senhor". "É desta maneira"? "Não senhor". "É da outra"? "Não senhor". Perguntei-lhe umas quinze ou dezasseis vezes, até que ch- que lhe dei uma palavra que ele que eu até me não lembra como ela foi. [pausa] Dei-lhe uma palavra que ele fez-me assim: "É por que eu quero ir"! "Bom, se é por que você quer ir, então vamos então [vocalização] a falar". Dou-lhe em dizer coisas e ele escrevendo. Eu dizendo e ele escrevendo. Eu dizendo e ele escrevendo. Ele trazia um livro, foram dezoito páginas que enchemos. E depois levou aquilo para a esco- E passou-o depois, para ficar mais limpo, passou-o para outro livro. E levou aquele livro para a escola que ele andava em Évora à escola. Levou aquele livro para a escola. Entregou-o ao professor dele. O homem começou a ler aquilo e levou para a casa dele. lho tem pedido, diz-lhe que não, que não lho . , um homem analfabeto, faz de conta! E o professor diz que não lho , e que não lho , e que não lho . Com que ele tornou a fazer outro porque tinha a cópia. Tornou a fazer outro. aqui aqui veio para lhe eu f- dizer coisas e ele escrever para a FAOJ de Évora. A FAOJ de Évora. Tem muitas coisas minhas!

INQ1 Rhum-rhum.

INF Sim senhor. Se for à FAOJ de Évora perguntar pelo por as minhas coisas, talvez as encontre.


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