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CRV51

Vila do Corvo, excerto 51

LocationVila do Corvo (Corvo, Horta)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Feliciano Felício
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

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INQ1 Explique-me como é que funcionava essa coisa das faxinas aqui?

INF1 As faxinas [vocalização], davam-se três dias de faxina à à Câmara e um à Junta. A Câmara intimava agora Mandava agora o contínuo a casa, iam agora uns tantos pa- por dia, [pausa] uns dez ou doze. E ia então um tomar conta nesse nesses homens.

INQ1 E ia-se para onde?

INF1 Era para os caminhos.

INF2 Para os caminhos.

INF1 Era para os caminhos e a Junta era para o baldio.

INQ1 Era um dia por ano?

INF2 um dia.

INF1 A Junta, sim. A Junta era era um dia para o baldio.

INF2 Era um dia por ano.

INF1 E [vocalização] E para a Câmara eram três dias.

INQ2 Mas era para ir trabalhar, era?

INF2 Era.

INF1 Trabalhar. Trabalhava-se muito nos baldios, [pausa] compor os estragos que os caminhos que os caminhos tinham.

INF2 E governar pisões! Eram carros a limpar cascalho.

INF1 E agora está tudo largado.

INQ1 não fazem para o baldio?

INF1 Não. Por causa de, de, de de três ou quatro ou meia dúzia, ele ele está tudo largado. Porque ele eu mais o teu pai, velhos como hoje estamos, é que havemos de ir trabalhar para o baldio, para para outros que têm tan- mais gado do que eu não tenho mais teu pai darem à mocha por abaixo e a fazer escárnio da gente?!

INQ1 Mas pouco tempo ainda iam pôr, até foram fazer bardos de hortenses para

INF2

INF1 Eles eles fo- foram fazer isso mas é que a- alguns não foram nem nem vão!

INQ1 Não querem ir?

INF1 Não. E direito nisso?

INQ1 Então tirem as reses para fora.

INF1 Não, mas é que eles não querem tirar nem que- nem querem trabalhar!

INQ1 Então porque é que a Câmara não se mete?

INF1 Oh, aquela Câmara?!

INF2 Mas é que a [vocalização] a Câmara não manda nada.

INF1 Também não tem manda naquilo.

INQ1 Então de quem é o baldio?

INF2 [vocalização] É nosso. É do povo. Foi entregue ao povo na Câmara.

INF1 O baldio é que foi A Câmara entregou ! Foi o Estado!

INF2 A gente nãogosta A gente não gosta do bo- do bolchevismo e o bolchevismo é que veio entregar o [vocalização] o baldio à, à ao povo.

INQ1 Mas depois não ficou ninguém assim que ficasse à frente daquilo?

INF2 Pois, está, está está a comissão.

INF1 Está uma comissão mas eles mas eles não lhe obedecem.

INF2 Não obedecem.

INF1 A comissão A comissão, quem estava o patrão era era o Firmiano.

INF2 Está [vocalização] Está isso [vocalização] no Tribunal

INF1 Agora o Firmiano saiu. É o Fir É o Firmino.

INF2 Mandaram isso para o Tribunal os [pausa] [vocalização] Mas não juiz para dar sentenças e eles fazem o que querem.

INQ1 O Firmino?

INF1 Não é esse, é o Firmo.

INQ1 Firmo.

INF2 E quando ele vai a Tribunal, não é ao nosso. Poderão fazer o que quiserem. Ele disse : "Se quisessem" Ele!

INQ1 Mas quem é que não quer?

INF2 Pois, ele muitos anos ele está outra comissão e a outra saiu. Entrou outra de repente e a outra saiu, mas continua o mesmo. Agora os que querem reunir a gente ele o povo todo sabe vão dividir. Eles querem fazer. [pausa] Eu li os estatutos que ele o baldio tem uns estatutos.

INQ1 Quem é que tem os estatutos?

INF2 O baldio.

INF1 O baldio.

INQ1 O baldio tem uns estatutos.


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