CTL08

Castro Laboreiro, excerto 8

LocalidadeCastro Laboreiro (Melgaço, Viana do Castelo)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Albertina Alcina Alarico

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INF1 Ora bem, era um rapaz

INF2 Que namorava com uma espanhola.

INF3 Dos Cortos [pausa] de Cima. Chama-se Lentemil.

INF1 Nam- Namorava com uma espanhola. E depois [pausa] Vocês ao irem ao [vocalização] ao irem aos Portos, vêem o cruzeiro que hoje ali falaram outros.

INQ Pois, pois.

INF1 Ao verem os cruzeiros, vêem os altos uns al- um alto grande que [vocalização] se à frente; uns, um um alto sem penedos. Ali não penedos.

INF3 Claro. é divisão da-daqui [vocalização] disto e da Espanha.

INF1 Os penedos Os penedos ficam abaixo baixo, onde lhe eu disse que era a Pena de Anamão. Depois, para cima é monte raso monte; penedos poucos e [vocalização] e do outro lado de daquela serra, pois, é Espanha.

INF3 É Espanha.

INF1 E aquela serra num todo alto muito do alto, que viram, é onde os os marcos. Nós enchemo-nos de estar . E então, esse tal rapaz ia à ronda a Espanha.

INF2 Gostava duma rapariga.

INF1 Gostava duma rapariga.

INF3 Chamava-se, [pausa] gostava-se [vocalização] Chamava-se a ronda. [pausa] Ia

INF1 Chamava-se a ronda.

INF3 Ia

INF1 À ronda, à ronda. Era o baile.

INF2 À ronda, à calada, namorar-lhe namorarem de noite, que de dia não podiam. Era preciso trabalhar.

INF1 Eram os bailes. Eram Eram como se como agora [vocalização] irem para os cafés. Que agora vão para os cafés!

INF3 Mas, quer-se dizer, atravessava a serra.

INF1 Atravessava a serra.

INF2 Ele gostava muito dela.

INF1 E tinha um cão [pausa] e o cão ia com ele. E depois a mãe não não queria que fosse porque tinha medo a que o que o comesse o lobo .

INF2 Não. O cão O cão castrejo é muito leal.

INF1 Mas espera. Escuta. Depois agora estou eu a contar , depois, a mãe [pausa] pediu-lhe para que não fosse para onde à rapariga espanhola, [pausa] que havia raparigas , e que o pessoal anda e que recusaram dar a cara.

INF2 Não é. Não é nada disso. É porque o pessoal é racista. Não queriam que um português se juntasse com um espanhol.

INF3 Claro. Naquele tempo.

INF1 Bom [pausa] Naquele tempo.

INF3 Pois.

INF1 O [vocalização] rapaz gostava da rapariga [pausa] e ia. Ia todas as no- quando podia, quando podia. E levava o cão com ele. Era o colega dele era o cão.

INF3 O f- O fiel dele era o cão.

INF1 O fiel dele era o cão. Mas, depois [vocalização], como a mãe não queria que fosse, [pausa] uma noite, ela [pausa] viu que ele que ia para a, que que teimava e que ia para a Espanha [vocalização] para onde à rapariga, e ela prendeu o cão, [pausa] para ver se ele tinha medo porque [pausa] que não ia sozinho.

INF2 Que não ia sozinho.

INF1 Porque o cão era o [vocalização] o colega dele, o companheiro.

INF3 Escondeu-lhe o cão.

INF1 Escondeu o cão.

INF2 Meteu à corte com o gado, .

INF1 Meteu-o [vocalização]. Escondeu o cão. Fechou o cão.

INF2 Meteu na corte com o gado que ele

INF3 E ele julgou que o cão que ia atrás dele; mas o cão nunca apareceu.

INF1 E ao quando lhe ele julgou que levava o companheiro com ele, mas o cão não foi porque, claro, a mãe prendeu-o e o cão não foi.

INF2 [vocalização] É a ori- a origem de ser a raça lobeira, entende, é que eles obrigavam o próprio cão castrejo a dormir no curral. Ele era obrigado a dedicar-se aos animais. Daí, eles eles usaram mais o cão para de se defender dos lobos. A origem é essa, .

INQ1 Pois, pois. Pois, pois.

INF1 Pois, a origem é essa.

INF2 A origem é essa.

INF3 Ora bem.

INF1 É. Depois Depois o rapaz foi [pausa] e chegou perto perto da Espanha perto da Espanha ainda não, que ainda era na serra.

INF2 Mas próximo dela morava a ma-

INF1 Mas Mas havia uma árvore que era um carvalho, muito grande.

INF3 Não.

INF2 Não. Depois era assim: próximo da mãe morava a madrinha, não é? A par- À beira da deles, morava a madrinha. E vai daí que durante a noite O rapaz saíu, e durante a noi- [vocalização] seguiu para a porta da espanhola, não é?

INF3 Claro, mas tu falas-lhe à maneira da outra.

INF1 Pois claro, pois claro. Tem que ser à mo-

INF2 Uma vez que você não lhe sabe contar. Está esquecida.

INF1 Mas, assim assim querem vir gravar. Foi [pausa] ao descer, naquela serra; faz a serra assim, e depois depois desce-se [pausa] para ali e desce-se para este lado.

INF3 Não, não .

INF2 Não. Oh!

INF3 Não é assim.

INF2 Depois, olhe, sabe o que passou? Ele chegou à, à à porta da espanhola ela está esquecida , chegou à porta da espanhola E ele adorava a espanhola! Simplesmente, naquela noite, ela que fez? Ela tinha era supersticiosa, a rapariga. Mas ele descobriu naquela noite. Espreitou por o buraco da fechadura. E ela que tinha na borralheira? Como ali Como ali no [nome] chamava-lhe eles a borralheira [vocalização] tinha um sapo. Então estava a picar o sapo com um [vocalização] garavato um garavato que é daquilo; chamam-lhe eles garavato um pau daqueles. [vocalização] Picava o sapo e dizia assim: "Sapo, sapão, ele o castrejo virá ou não"? E estava ca- naquela [vocalização] naquilo naquela festa com o sapo.

INF3 Naquela festa.

INF2 E o rapaz a espreitar. Assim que viu aquilo [pausa] disse:

INF3 "Acabou".

INF1 "Acabou".

INF3 Deu a volta.

INF1 "Ela é uma bruxa! Eu não a quero para nada".

INF3 Agora segue tua mãe que sabe melhor.

INF2 Maldita espa Maldita espanhola!

INF3 Deu a volta.

INF1 Ah, ele foi . Foi então

INF3 Deu a volta.

INF1 Chegou e deu a volta. Ora foi onde à rapariga e deu a volta.

INF3 Deu a volta a caminho de [nome].

INF2 Não [vocalização]. Mas, entretanto, em casa, a madrinha [vocalização]

INF3 Soltou o cão.

INF2 Não. A madrinha cono- começou-se a sentir mal.

INF3 E soltou o cão.

INF2 Pois. [pausa] E chegou à beira

INF1 Ó mulher, mas a história, a história o cão é um, e a história do rapaz é outra. O rapaz chegou à porta da rapariga e passou aquilo [pausa] e ele voltou para trás.

INF3 E deu a volta.

INF1 Voltou para trás. E ele chegou, ao subir na serra

INF3 Era muito [vocalização] A serra faz isto.

INF1 Pois faz isso. Então era o que ele

INF3 E vinha um bocado cansado; e pôs-se a descansar à beira do carvalho.

INF1 À beira dum carvalho Havia uma árvore grande, um carvalho grande.

INF3 E havia folha, e havia folha

INF2 Um castanheiro. Um castanheiro montanhês.

INF3 Era [vocalização] carvalho, filha, que eu ainda me lembro d- dos bocados dele. [pausa]

INF1 Era carvalho, Jesus. [pausa] Ai Jesus!

INF3 Era um carvalho. E depois, de, o lobo veio o lobo e tapou-o com folha.

INF2 Não, pai. Era no Era na estação do Outono. A árvore estava sem folha.

INF3 Tapou. Tapou-o com folha. Tapou-o com folha.

INF2 Muito obrigada, porque era no Outono, a folha estava seca.

INF1 Pois estava.

INF2 E foi quando o lobo

INF3 Tapou-o e chamou por os outros.

INF2 O lobo, o lobo ta- O lobo ta- [vocalização] sentiu rug- rugir as folhas não o chegou a tapar. Ao Ao calcar as folhas, as folhas deram-se e ele co- com com o medo [vocalização], chegou por cima do rapaz, fez chichi no rapaz. Não tapou nada. [pausa] Apertou-se-lhe e de- e fez chichi no rapaz.

INF3 [vocalização] Mas e [vocalização] chamou por os outros.

INF2 Mas é que depois é que foi chamar por outros .

INF3 Chamou por os outros. E ele ao [vocalização] sentir o chamar a uivar: uuuuu, [vocalização] a chamar por os outros , enfiou-se pelo carvalho acima [pausa] e o cão. o cão era o.

INF1 Mas o cão, pára. Ele enfiou-se pelo carvalho acima. E depois havia um barulho na, na, na na casa da da mãe. Porque a madrinha [pausa] sentia ganir o cão na na corte. E o cão enderençava-se por as portas arriba e gania. [pausa] E a madrinha

INF3 O cão, o cão O cão parece que lhe dava o [nome]. [pausa] E soltou-o.

INF2 Foi a madrinha que soltou.

INF1 Pois. E a madrinha deu-se de conta e [vocalização] e foi junto à comadre. Disse-lhe: "Comadre, você tem o cão cerrado e o cão ladra muito. O cão está a ganir é você, você abre-lhe".

INF3 "Solte o cão".

INF1 "Solte o cão e diga".

INF2 Não. E disse-lhe: "Você onde tem o meu afi-? Onde está o meu afilhado"? "O seu afilhado está na cama". "Pois então abra-me a porta do quarto, que eu tenho que ir vê-lo por vê-lo eu mesma". [pausa] Ele pusera um molho de palha na cama [pausa] a parecer que era ele.

INF3 Sim, sim, sim. Ele ajeitara a roupa [pausa] a parecer que era ele.

INF1 A enganar a mãe.

INF2 Mas a madrinha [pausa] disse: "Não, não. Eu vou ver eu mesma". Ist-, is- Tirou as mantas para trás e [pausa] viu que era um molho de palha. E foi quando lhe disse: "Pronto, está o cão a dar sinal [pausa] que algo lhe está a acontecer ao dono".

INF1 "O [vocalização], o meu fi- O meu afilhado come-o comeu-o o lobo ou o come que está o cão a O cão matava-se hoje"!

INF2 está o a inteligência do cão castrejo.

INF3 Solta, solta-se "Solte-se o cão"! Soltaram o cão. [pausa] Chegou , os lobos 'estranficinharam-no' todo. Eram Eram seis ou sete. Mataram o cão.

INF1 Pois. O [vocalização] rapaz O rapaz safou-se que estava no alto do carvalho.

INF3 Mas o cão não.

INF1 E o cão, comeu-o comeram-no os lobos.

INF3 Morreu. E depois [pausa] deixou vir o dia, por o alto sol, quando se eles retiraram que começaram o [vocalização], aqueles aqueles gados sair espanhóis e coisa , e ele foi foi

INF2 Não. Entretanto chegou a mãe e a madrinha à beira dele.

INF1 Pois foi, mulher. Mas foram saber dele .

INF3 Depo- Mas depois fo- foram saber dele e ele dali foi para Lobeira chama-se-lhe Lobeira que era [vocalização] [pausa] um ajuntamento [pausa] ou como aqui a freguesia.

INF1 Ajun Ajuntamento. Um ajuntamento como aqui a freguesia.

INF3 Chegou alá e disse-lhe que pagava o carvalho [pausa] por aquilo valor que fosse, que queria que o carvalho caísse de velho. E caiu de velho. Que ainda me lembro de ver os bocados.

INF2 E caiu de velho.

INF1 Pagou Pagou o carvalho como é ir aqui à à Câmara, ou [vocalização] onde à Junta da Freguesia , pagou [pausa] o carvalho, e ficou o carvalho. Caiu de velhinho.


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