FIS14

Fiscal, excerto 14

LocalidadeFiscal (Amares, Braga)
AssuntoO linho, a lã e o tear
Informante(s) Crescência Crisanta

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INQ Portanto, estava a falar dos linhares. Os linhares faziam-se era em terras que ficavam mais perto do rio, por serem mais húmidas, ou mais leitas, ou ficavam?

INF1 Não, não.

INQ Não?

INF1 Isso era em qualquer terreno. Era em qualquer terreno que a gente se lembrasse de semear, semeava ali em qualquer campo.

INQ Porque não

INF1 Da- Dava em qualquer campo. depois [vocalização], a gente trazia-o para casa e era ripado em casa e depois atava-se em feixes e depois, ou se levava ao rio, ou a pessoas que o rio lhe ficava longe nem todos tinham a possibilidade de estar perto do rio , então levávamos a umas poças.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Poças com água que cobrisse o linho E estava ali nove dias. Oito, nove dias.

INQ Mas quando ele estava assim grande, tinha que se ir quê? Quando estava maduro?

INF1 Muito grande. [vocalização] Quando estava maduro, ia-se arrancar. Arranca-.

INQ Arrancar?

INF1 Era arrancar. Chamava-se a arrancada do linho.

INQ A arrancada?

INF1 A arrancada do linho.

INQ E depois ele ficava espalhado?

INF1 Depois da arrancada, atava-se aos molhos, aos molhinhos, e depois trazia-se para casa ou quem diz para casa, para um coberto, , um varandão , e havia um ripanço, uma trave [pausa] com uns [vocalização] dentes assim [pausa] em ferro.

INQ Era como aqui nos bancos, ou a senhora p-, pen-, punha o ripanço preso no carro, aqui?

INF1 Ora bem, [vocalização] o nosso ripanço [vocalização] era

INQ Era uma tábua mais comprida?

INF1 era [vocalização] uma tábua comprida, e depois a gente atava-o até duma coluna à outra. Até se fosse num coberto que tem as empanadas lhe chama a gente é aquelas

INQ O que são as empanadas?

INF1 São umas portas de [pausa] de ar- em madeira, que são gradeadas que é para entrar o ar para{fp} para a sementeira, e é assim.

INQ Sim. Sim senhor.

INF2 De madeira.

INF1 E nessa altura a gente atava duma coluna à outra com uma corda em cada em cada ponta;

INQ E ele ficava preso ali.

INF1 ele ficava ali preso. E uma pessoa depois, ele ia-o colocar

INQ Quando estava a fazer isso no ripanço, o que é que dizia que estava a fazer?

INF1 Quando estava a fazer isso no ripanço, quer-se dizer, a gente amarrava assim o linho à manada, e depois fazia acolá e a baganha caía para acolá e a gente ficava com o linho .

INQ Mas, esse trabalho, como é que se chamava?

INF1 Chamava-se: ripar o linho.

INQ Sim senhor.

INF1 Era ripar o linho.

INQ A baganha era o quê?

INF1 Era A baganha era donde depois saía a semente para se tornar a semear ou também se vendia porque [vocalização] a própria linhaça que sai da baganha tem utilidade para medicamentos.

INQ A própria baganha? Portanto, a baganha era aquilo que estava à volta da, da linhaça?

INF1 É, é, é. [vocalização] A linha- A baganha, era, por exemplo: floria e depois criava aquela [vocalização] baganha. Era uma coisa como um greiro de grão, em ponto redondo.

INQ Rhum-rhum.

INF1 E Mas é [vocalização] Com uma casquinha por fora E a linhaça estava toda dentro dele.

INQ Portanto, essa casquinha é que era

INF1 Até quando aquilo abria, quando ela estava ao sol a gente depois deitava a baganha ao sol para tirar [vocalização] colher a linhaça ,

INQ Rhum-rhum.

INF1 ela abria toda num rufo e ficava assim toda num rufinho e a

INQ Ela abria, portanto, abria assim ao, ao

INF1 Abria. E a, e a baganha E a linhaça saía. A baganha, depois, dei- A casca deitava-se fora.

INQ Punha-se fora?

INF1 Não tinha importância.

INQ Sim senhor. Pronto, e depois então punha debaixo de água para quê? Dizia que ele estava ali a?

INF1 O linho Não era a baganha que ia para debaixo de água, era o linho.

INQ Não, não, não. depois de ripado.

INF1 O linho ia, que era para ele amolecer, para ele curtir chamava-se-lhe para curtir o linho.

INQ Sim senhor.

INF1 Depois ficava ali curtido.

INQ Ficava nove, os tais nove, nove dias, não é?

INF1 Oito, nove dias.

INQ Oito, nove dias.

INF1 Consoante: se a água fosse bem corrente, chegavam oito; se a água fosse assim mais um pouco parada, então era preciso nove.

INQ E depois então tirava-se e secava-se, é isso?

INF1 Depois tirava-se fora e depois deitava-se assim às carreirinhas, estendido num prado, num [vocalização] terreno, [pausa] que tivesse ervas, muito estendidinho e estava ali.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Era consoante o tempo. Ou Oh, se metesse a chuva como está agora, às vezes até estava para quinze dias ou três semanas para ali, até que a coisa Até que viesse bom tempo e ele secasse e limpasse.

INQ Depois é que levava para o, para o engenho

INF1 Dali depois vinha para . A v- A gente depois apanhava, quando estivesse bem seco, e depois levava-se para o engenho. E depois no engenho é que fazia o linho.


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