INQ1 Tudo isto, não há nada disto?
INQ2 Mas os seus irmãos depois ficaram melhores?
INF Depois ficaram melhores. Ah, e depois de dois anos de o meu pai morreu, queimou-se a nossa casa. [vocalização] A gente tínhamos uma irmã que já não era assim muito discreta. [vocalização] Mas isso acontecia a qualquer pessoa.
INQ2 Pois.
INF [vocalização] A sala era de alto e baixo e agora as galinhas diam pôr os ovos na loja e ela levou uma vela acesa e e tinha fetos e, olhe, foi derivado a isso, ardeu tudo, ficámos sem nada! Onze filhos e a minha mãe, sem nada. Há dois anos que o meu pai tinha morrido, quando aconteceu isto.
INQ2 Então, e depois, o que é que fizeram?
INF Depois, tínhamos uma casinha velhinha. Depois, [vocalização] dois homens lá da Cuada [vocalização] correram a ilha em volta a pedir [vocalização] – não sabe? – roupinha e cobertores e isso. Ajuntaram muito – e dinheiro e coiso. Tudo. [vocalização] O meu pai ainda tinha umas quantas terras, mas minha mãe nunca quis vender – não sabe? Quis deixar aos seus filhos, nunca quis vender. Um palmo de terra ela quis vender! E [vocalização] E tinha sua casinha, então, velhinha, que tinha sido duns tios que tinham criado minha mãe, que lhe tinham deixado aquela casinha. Mas era mais velhinha do que essa onde a gente vivia. Quer dizer, não tinha soalho, nem nada. Mas consertou-se e, graças a Deus, não morreu nenhum. Lá fomos vivendo.
INQ1 Ali na Cuada.
INF Ali na Cuada. Está despovoada. As últimas duas pessoas que ficaram na Cuada foi minha mãe e a minha irmã. Estava a Anastácia e o filho. Mas depois ela morreu, [pausa] e o filho – ela morreu em São Miguel, que tinha um filho mesmo lá em São Miguel, que foi-se tratar, que já estava cancerosa –, e o filho ficou cá, acharam-no morto, sozinho. É verdade. E, então, minha mãe e a minha irmã já não puderam estar, que minha mãe já tinha oitenta anos. Já não podiam estar sozinhas na Cuada. Compraram uma casa na Fajã. E foram, então, viver para a Fajã. E ficou a casa a Cuada sem ninguém.
INQ1 Está deserta, agora?
INF Está deserta. Mas agora estão recuperando as casas. Não sei se é o governo se quem é. Já estão Recuperaram várias casas e já estão cobrindo. E já está a estrada até lá, que não estava! A gente nem tinha luz, nem tinha água, nem tinha estrada. Para irmos à Fajã era dois quilómetros de distância. Para dirmos à missa, dirmos à escola e e à loja, tudo o que se precisava, ficava a essa distância. A água, era aqui à Ribeira Grande também, que ficava muito distante: um quilómetro ou mais para se vir buscar água.