R&D Unit funded by

FLF64

Fajãzinha, excerto 64

LocationFajãzinha (Lajes das Flores, Horta)
SubjectO porco e a matança
Informant(s) Amélia Amélio
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira Gabriela Vitorino
TranscriptionCatarina Magro
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.


INQ1 Até se chegar a ter uma linguiça, o que é que é preciso fazer?

INF1 Sim. O que é que é preciso fazer? Pois, a gente, se- mata-se o porco. Divide-se [pausa] A carne que é para a linguiça, [pausa] a retalham Há- pessoas, hoje em dia, que a picam no mesmo dia. Mas disso eu não gosto está percebendo? , no mesmo dia. [vocalização] A carne é retalhada assim, quer dizer, que fica presa. Mas a da linguiça se põe de parte para se fazer a vinhada. Faz-se a vinhada, de- deita-se uma percentagem de água: uns dez litros de água para um quilo de sal. Isso é o que eu faço

INF2 Ah, é a carne do porco, a da vinha-de-alhos.

INF1 É, é. Que a senhora agora quer saber isso da linguiça. E [vocalização] esses dez litros de água para um quilo de sal. Se são vinte litros de água, pois são dois quilos de sal. Mas sempre a gente deita mais uma coisinha, quem quer. O meu gosta sempre dela mais uma coisinha salgada, pois se sabe que ela tem melhor sabor e para não se estragar. E deita-se numa numas selhas grandes. Numas selhas desses barriles [vocalização] de

INQ2 De vinho.

INF1 de vinho. [vocalização] Divididos ao meio duas está percebendo? , que é melhor depois de a gente mexer. E põe-se ali o alho, o sal; deita-se pode-se deitar também adubos, cominhos e jamaica, que muito gosto à [pausa] à vinhada.

INQ1 Tudo pisadinho, não?

INF1 Sim, tudo pisadinho. Os alhos também pisadinhos. Os que a gente lhe parece! Também não precisa agora de muitos! E [vocalização] E ali bota-se a [pausa] a carne.

INQ1 Jamaica. Isso era um segredo.

INF1 [vocalização] Bota-se a carne ali, naquela água, a ela ficar não ficar muito encostada não sabe? , [vocalização] a ficar [vocalização] a se poder mexer bem. Ali fica a água, dois ou três dias. pessoas que matam hoje e como a depois de amanhã fazem. Mas a gente gosta de estar mais um dia ou coisa assim. Depois, tira-se a carne para fora a carne está adubada! , tira-se a carne para fora e [vocalização] e deita-se a escorrer. Pica-se então J- está aquelas tirinhas não sabe? que se fez [pausa] ao jeito de se picar.

INF2 São bocadinhos assim.

INF1 Bocadinhos, quanto mais miudinhos, melhor. A gente [vocalização], depois de ela toda picada, torna-se a juntar toda [pausa] ali. Ainda se caldeia mais uma coisinha de adubos, para aquela que teve o traço, que não teve adubos, ficar toda bem adubadinha e e está pronto a encher. As tripas do porco, então, as que são da linguiça são mais estreitas. Que a gente também faz morcela! Mas não quer saber agora da morcela, é da linguiça, não é?

INQ2 Primeiro é da linguiça.

INF1 Sim. [vocalização] Depois, então Antigamente, não havia máquinas de fazer linguiça está percebendo? , mas hoje .

INQ2 Não, mas antigamente como é que era?

INF2 [vocalização] Era nuns funiles.

INF1 É. Quer saber é antigamente. Era uns funiles [vocalização] que se metia a, a a ponta da [pausa] Aquilo era a- assim [pausa] como um canudo [pausa] mas largo por cima. E metia-se aquele canudo na tripa. E se dia tirando da carne e botando . Levava muito tempo [pausa] para se fazer a linguiça, passando pela linguiça toda! E enchia-se a linguiça e depois

INQ2 Toda inteira?

INF1 Toda intei-. Toda inteira não! [vocalização] Escute!

INF2 Aos quatro metros.

INF1 É, é Era partida em quatro, as linguiças do porco. Desculpe de eu não lhe ter dito no princípio mas não me veio à ideia.

INQ2 Não faz mal.

INF1 Partido em quatro ou partido em seis, conforme as pessoas querem. Que não se podia encher toda de [vocalização] se sabe que não. Porque, às vezes, ela chega mesmo a arrebentar [vocalização] mas é quando é muito cheia. E, então, pica-se para aquela moira sair. Pica-se a linguiça bem picadinha, dum pico a modo duma agulha ou ou como a gente tem E pica-se bem picadinha que é para sair a- aquela moira está percebendo? , para sair aquela moira toda. E [vocalização] depois de a linguiça estar pronta, 'enxuta-se' bem enxutinha e pendura-se nos paus.

INQ2 Que tamanho é que tem uma linguiça?

INF1 Como é que tem uma linguiça?

INQ2 Que tamanho?

INF1 Pois olhe, há-de ter uns [vocalização] dois metros, dois metros e meio, coisa assim. Põe-se em quatro, [vocalização] presa no pau em quatro ou, ou em ou em cinco, como a gente para ficarem todas ao nível. E pendura-se, então, onde se quer fazer o lume. Faz-se o lume por baixo delas. No primeiro dia ninguém as põe assim, porque se for com muito lume, elas arrebentam todas escacham. É preciso ser [vocalização] à maneira que a gente vai vendo. E vão-se virando no pau. Têm-se , [vocalização] uns quinze dias. Sempre todos os dias a fazer lume, a virá-las dum lado e doutro, para ela curar bem curadinha a linguiça. E [vocalização] depois, quando a gente que a linguiça que está bem curadinha, [vocalização] tira-se para fora, lava-se bem lavada se sabe , que ela tem muito fumo. E [vocalização] E então, 'estrala-se' em graxa; ou pessoas que guardam na caixa também podem-na guardar assim. pessoas que também que que a guardam sem a estralarem: botam-lhe a graxa, então, bem fervendo a banha bem fervendo, em cima. E está a linguiça para todo o ano.


Download XMLDownload textWaveform viewSentence view