INF1 Bom, é que há uma coisa que a senhora não sabe, mas vai ficar a saber para sempre se não lhe esquecer. Sempre que há no forno chama [pausa] é erro, [pausa] porque é [pausa] prejuízo. Faça de conta que aquilo é como gás que se está a perder.
INQ Pois.
INF1 O forno não pode nunca dar chama. Tem de arder sem chama.
INF2 Queimar e partir o carvão para ficar partido.
INF1 Percebeu? Por isso
INQ Senão consome tudo.
INF1 Por isso, nos respiros e tudo o mais, quando vem fora o lume, vai-se logo tapar.
INQ Pois.
INF1 Porque se arder e der chama, aquela chama, aquele gás, é roubado ao carvão. Tem que funcionar abafado.
INF2
INF1 Pois é.
INQ E depois como faziam?… Pronto, estava já tudo ardido…
INF1 Aquilo funciona… Que eu digo muitas vezes que os portugueses que não têm aqui gasolina, e que a gasolina há-de-se apoiar esta como a gasolina… Foi uma pena não terem aperfeiçoado o gasogénio. [pausa] É porque vocês não se lembram; eu lembro-me perfeitamente dos carros a gasogénio. E o gasogénio era: então o [vocalização] o combustível era carvão. Os carvoeiros faziam era um carvão melhor, um carvão especial, ainda mais… Quer dizer, não [vocalização] Ainda ontem ouvi uma coisa engraçada, que foi aquele tipo que falou da qualidade da carne dos porcos – não sei se viram? –,
INQ Rhum-rhum. Vimos.
INF1 em que ele disse, lá o director, que o [vocalização] vendedor o que quer é quilos. E realmente é assim em tudo.
INF2 Pois é.
INF1 A batata, por exemplo, é uma coisa que está altamente prejudicada por causa do excesso de água que se lhe põe, na maioria dos casos. Fica pesada e nunca mais é boa. Mas aí está: quer-se é quilos ainda mais. E tudo, ou quase tudo, é estragado: por exemplo, as sementeiras com o excesso de adubo e cavar.
INF2 É.
INF1 E acerca disso, [vocalização] o carvão tinha também esse problema: os carvoeiros, ultimamente, que não tinham concorrência, vendiam o carvão bom e ruim, ia tudo. Encharcavam… Quando tiravam o carvão, o carvão estava todo molhado, a escorrer água; depois deixavam assanhar um bocado, lá ia molhado e tudo. Mas no tempo do gasogénio, era um carvão próprio, até de sobreiro ou carvalho, até mais próprio para, para.
INF2 Pois.
INF1 [vocalização] Aquilo era melhor para fazer andar os carros e aquilo foi uma pena não ter aperfeiçoado.