INQ E essas pessoas que têm força e que sabem curar as coisas todas e isso tudo, são o quê?
INF1 Curandeiras. Chamam-lhe curandeiras. Cá chamam-lhe curandeiras. É ou benta ou a curandeira.
INQ E cá, há cá?
INF2 Depois, sabe…
INF1 Cá em casa… Cá na terra não há nenhuma. Há Havia aqui em volta de, em Moimenta da Beira, ali perto de Moimenta da Beira. Era Era uma e outra perto de Moimenta da Beira, não eram? As do Castelo e a dos Bacorinhos.
INF2 Ai, pertenciam a Moimenta.
INF1 Era. Elas até eram ainda parentas.
INF2 Pois, eram parentas. E estava lá um primo.
INF1 Acho que já morreram ambas.
INF2 Pois já. E estava lá um primo.
INF1 Pois.
INF2 Em Toita.
INF1 Pois estava. Em Toita estava um primo. Acho que esse que ainda consulta.
INF2 Foi donde me foi o meu Epaminondas, por causa do mesmo mal. Mas ele disse: "Não foi nada". Ele deitou-se, a guardar…
INF1 Eles não receitam remédios ruins. É tudo remédios caseiros.
INF2 A guardar umas vacas. A guardar umas vacas.
INF1 Tudo coisas que não prejudica ninguém.
INF2 E recebeu aquela lentura.
INF1 Ah, pois foi. Isso foi. Pois foi.
INF2 Veio, começou a…
INF1 Pois foi.
INF2 Encheu-se de febre, pôs-se-lhe uma pneumonia.
INF1 Não vê o… Não vê a Não vê o Ernestino da Esmeralda que morreu de se deitar além no lameiro?
INF2 Ficava tudo lisinho. Só que ele andasse para não ficar paralítico.
INF1 Morreu tuberculoso.
INF2 Secava-se, [pausa] nunca mais trabalhava aquele homem. Ai, meu Deus! E nós já tínhamos gastado tanto dinheiro. Depois o homem disse assim: "Arranjem nove gobos da ribeira".
INF1 É verdade.
INF2 "O senhor vai por a ribeira e leva logo nove gobos". Que era: três e três, seis, e três, nove. Cada dia três.
INF1 São umas pedrinhas que há assim lisinhas, chamamos-lhe nós gobos. É [vocalização] de andar na água, vão-se arrebolando, vão-se arrebolando, chamamos nós gobos.
INF2 Aqueles gobos da ribeira. Ainda lá andam alguns. Agora já lá está fraco.
INF1 Pois.
INF2 E depois o meu Epaminondas veio logo, trouxe os gobos. Logo na primeira noite Logo na primeira noite que fizemos os defumadoiros, nesse dia já falou melhor.
INF1 Já dormistes?
INF3 Boa tarde.
INQ Boa tarde.
INF2 E depois vai o senhor doutor, diz ele assim: "Então rapaz"…
INF3 Então, passou bem, minha senhora?
INQ Bem, muito obrigada, como está senhor Emanuel?
INF2 "Eu não sei o que é que me para aí fizeram".
INF1 Quem é que disse?
INF2 "Ah"! Boto-lhe a mão ao braço: "Tu estás doido? Ó senhor doutor, não faça caso do que ele lhe diz. Ele é doido. Ele não sabe o que diz. Diz para aí parvoíces".
INF1 Era com a febre, era com a febre.
INF2 Mas é que eu não queria que o doutor percebesse.
INF1 Que soubesse.
INF2 Senão, eh!… "Ai"… Quando se ele foi embora, "Ai, o que tu ias fazer"? "Não sei". "Tu não dizes mais nada". O doutor. O doutor era então, eu sei lá!
INF1 Que ele não cria, não era? Era o doutor Esaú, não era?
INF2 Olha, e depois fazíamos logo…
INF1 Era o senhor doutor Esaú?
INF2 Não. O doutor Ernesto velho.
INF1 Ai, o doutor Ernesto velho. Ui, e ele então! Isso é muito bom homem, muito boa pessoa, mas…
INF2 Ao fim dos três defumadoiros [pausa] parece que se foi embora…
INF1 Ai, ainda é cedo! Que vais fazer agora à lameira? Então só ainda são… Ainda não são três horas!
INF2 Ora, afinal das contas…
INF1 Ainda tens tempo de ir à lameira.
INF2 Depois não querem crer que há bruxas! Toda a vida as houve!
INF1 Queres água? Bota-las sozinho? [vocalização] Ainda tens tempo.
INF2 E a gente E a gente sabe perfeitamente como é estas coisas. [pausa] Mas muitos não querem crer! "Hi! Olha, já foram à benta. Já foram à feiticeira"! Procuramos nós a nossa saúde, queremos lá saber de… Nós não é para fazermos mal! É para procurarmos [pausa] o nosso a nossa saúde!
INF1 É fresquinho, Emanuel, queres?
INF3 Não.
INQ Pois.
INF1 Oh! Fui eu buscá-lo…
INF2 Se ensinassem para fazer qualquer uma porcaria que desgraçasse uma pessoa, isso é que é pecado! Agora, ora, umas palavrinhas, [pausa] mais isto, mais aquilo, e a gente…
INF1 Não foram ao moinho.
INF2 Sarar?! Ah!
INF3 Foram.
INF2 Uma vez…
INF1 Diz que que é muito simpático o Elói, que lhe ensinou tudo.
INF2 Vou-me confessar.
INF3 Ai, o Elói, o Esopo, é.
INF2 Fui-me confessar…
INF3 É um tipo É um tipo muito simpático.
INF2 Uma vez fui-me confessar. E o senhor padre disse-me assim: "A senhora é curandeira crendeira"? Risos "Nem sou curandeira crendeira, nem deixo de o ser. Quero crer num ar, ou num quebranto, ou um olhado". "Ai, tire-se dessa ideia. Isso é a fé que a senhora tem mas isso não vale nada". Então se ele é a fé, pois sem fé também nós não nos salvamos.
INF1 Olhe, o meu Emanuel já passou por isso. Pois, diz que a fé de Deus nos salve!
INF2 Se ele é a fé, é com aquela fé que a gente tem, se não fosse também então sem fé também nós não nos salvávamos.
INF1 Três horas, vês que ainda é cedo?
INF2 Disse-lhe eu assim.
INF3 Vou molhar as rolas de farinha.
INF1 Vais lá botá-la agora?
INF2 "É agora"! Por lhe dizer isto, faria se lhe dissesse: "Ai, eu desfaço isto"!
INF1 Vai lá mais logo, pela fresquinha. Fica mais fresquinho. Mais à noitinha.
INF2 Nem padres, nem doutores, a gente não lhe pode confessar isto. Não é pecado. Deus deixou tudo no mundo!
INF1 Ai, isso foi. Isso é verdade.
INF2 Deus deixou tudo no mundo. Tudo no mundo há-de aparecer.