INQ1 E então agora a seguir?
INF2 Limpa-se.
INF1 Limpavam, ju-, ju- ajeitavam aquilo – hum? –, começavam a limpar com o vento.
INF2 Quando fizesse vento, jogava-se a palha.
INF1 O vento ne- O vento, nesse tempo estava sempre da maré.
INQ1 Rhã-rhã.
INF1 Da maré era aqui do lado, aqui do lado, daqui deste lado. E então calhava calhava…
INQ2 De que lado é? Do lado do, do poente?
INF1 Do lado daqui do [vocalização] poente.
INQ1 Pois.
INF1 Acarreava-se as tais forquilhas – hã? –, e a gente [pausa] jogávamos sempre a palha, o triguinho pelo para o lado do vento.
INQ1 O que era fazer isso?
INF1 Era, era, era…
INQ1 Era fazer o quê ao trigo?
INF1 Era aventejar. Aventejar o trigo. Pois. [pausa] Toca de aventejar. Depois de o trigo estar todo a palha tirada, [pausa] pois, era padejado. Com uma pá, toca de dar à pá.
INQ2 Só com uma pá?
INF1 Pois. Só com uma pá. Uma pá e [vocalização] uma pessoa com uma vassoura, varrendo as palhas.
INQ2 Como é que se chamava essa vassoura?
INF1 É uma É uma vassoura.
INQ1 Não dizia?…
INQ2 E o que é que se dizia?…
INF1 Vassoura. Vassoura de lantisco.
INQ2 E o que é que se dizia que essa pessoa estava a fazer com a vassoura?
INF1 Essa pessoa estava varrendo, limpando. Estava limpando o trigo das palhas. Pois. Ou estava limpando as palhas do trigo, vamos assim. Estava limpando as palhas do trigo.
INQ2 Pois.
INQ1 As palhas do trigo.
INF1 Pois.
INQ2 Não há nada que se dissesse que era conhar?
INQ1 Conhar, ou?…
INF1 Não. Co- Conhar não.
INQ2 Com a vassoura?
INQ1 Conha?
INF1 Não. Não. É varrer. Varrendo as palhas do trigo.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Pois. E [vocalização]…
INQ2 E outra com uma pá?
INQ1 Depois…
INF1 Era padejar o trigo. Padejando. Toca de padejar. [pausa] E depois de o trigo estar todo padejado…
INQ2 E quando padejava o que é que saía?
INF1 Saía munha. Saía munha e pó. [pausa] Pois. Pois. E a gente depois [vocalização] de estar todo padejado – o trigo estava num cavalo; estava num num co-, pois, num ca-, chamamos-lhe um mon-, um monte ou um cavalinho de trigo; chamava-se-lhe um cavalinho de trigo.
INQ2 Assim tudo de cogulo?
INQ1 Assim…
INF1 Pois. Assim, por aí afora.
INF2 Um moitão.
INQ2 Ai assim ao comprido?
INF1 Assim Assim uma tira, uma tira assim por aí afora.
INQ2 Ah!
INQ1 Sim.
INF1 Era. Porque a gente ia padejando…
INQ1 A meio da eira? É a meio da eira?
INF1 Pois, a meio a meio da eira. Pois. Era o cavalinho de trigo.
INQ1 Ah, já sei.
INF1 E depois de estar com esse cavalinho feito, [pausa] tínhamos então o tal arneiro, que era um…
INQ1 Que era como?
INF1 Era duas pessoas. Um arneiro. Um arneiro todo tapado em buraquinhos por baixo [pausa]. Um arneiro grande feito em numa folha de zinco, com uns arcos em ferro cruzados por baixo, para o para a folha não, não não baixar, não, ser ser mais resistente e por fora era a madeira.
INQ1 Rhum-rhum.
INQ2 E era como? Um rectângulo ou redondo?
INQ1 Devia ser muito grande, não?
INF1 Não, era redondo.
INQ2 Era redondo.
INF1 Era redondo. Não era rectângulo.
INQ2 E tinha alguns sítios onde se pegar, ou não?
INF2 Tinha. Umas asas.
INF1 Uma, uma, uma Pegar, pegava a gente por baixo. E havia uns que tinham asas.
INF2
INQ1 Mas devia ser muito grande, para ser duas pessoas a fazer!
INF1 Pois. Ti-, ti- Tinha umas cordas.
INF2 Pois.
INF1 Tinha umas cordas. Era umas cordas. Aquilo era furado, aquilo era assim, e depois tinham assim um buraco, aqui tinha outro, e aqui assim levava uma corda, e o fulano agarrava aqui numa corda deste lado e agarrava outro daqui e punham ali. E a gente depois, vá… Duas pessoas iam a prantar trigo para dentro do joeiro, do pois, do arneiro, [pausa] e a gente toca de arneirar.
INQ1 Do arneiro.
INF1 Toca. Hum? Aquilo é Aquilo dava uma parte interessante. Arneirar o trigo!
INF2 Pois é.
INQ2 Pois é.
INF1 Arneirar. Toca de arneirar.
INF2 Eu hoje Hoje, se for a fazer isso, ninguém sabe…
INF1 Não.
INF2 A malta que há aí, ninguém sabe .
INQ2 Pois não.
INF1 Ninguém sabe arneirar. Pois.
INF2 Ninguém sabe já como isso é feito.
INF1 Depois de o trigo todo posto lá para dentro, aquilo ficava num monte de trigo.
INQ1 Pois.
INF1 Pois. E depois pegavam…
INQ2 Quando arneiravam o que é que saía?
INF2 Saía a pedra. Uma pedra grada.
INF1 Ficava Ficava… Dentro Dentro do arneiro, ficava a pedra [pausa] e ficava o casulo do trigo.
INF2 É isso.
INQ1 Ah!
INF1 Chamava Chamava-lhe a gente os cachos.
INF2 É isso.
INF1 Pois.
INQ2 Ficavam também alguns bocados de trigo que não estavam?…
INF2 Pois.
INF1 Pois. Ficavam…
INQ2 Que tinham ainda o grão agarrado, não?
INF1 Ficavam, ficavam.
INF2 Tinha.
INF1 Eram os tais cachos que ficavam assim bocados de espigas de trigo, ficavam os coisos. E depois aquilo ia lá para um para um moitão…
INF2 E depois ia lá para a outra eirada, depois para debulhar-se…
INF1 E depois E depois deitava para a outra eirada. Mas depois…
INQ2 Hã, o que era uma eirada? É o mesmo que o calcadouro?
INQ1 Calcadouro?
INF1 É o mesmo que é o calcadouro.
INQ2 Rhum-rhum.
INQ1 Ah!
INF1 Pois. É uma eirada.
INF2 É isso.
INF1 Pois. E depois disso, [vocalização] a gente, de ter o trigo todo todo a monte – era um monte de trigo; depois era um monte de trigo –, e sabe o que é que as pessoas faziam? Pegavam na pá, [pausa] voltavam-lhe assim em roda, passando assim com a pá em volta, faziam-lhe um risquinho, faziam-lhe outro ao meio, e depois faziam com a pá assim por aí acima, [pausa] pela parte de cima faziam-lhe uma cruz.
INF2 Faziam. Afeitavam…
INF1 Assim, afeitavam, faziam-no assim. E depois pegavam na pá e em cima do monte de trigo, [pausa] atanchavam-no até ao fundo.
INQ1 Ente-…
INF1 Mesmo na ponta do biquinho de trigo, atanchavam-no até ao fundo. E depois dali [pausa] iam medir aquilo a dedos, já sabiam quantos alqueires dava.
INQ2 Ah!
INQ1 Ah! Sei! Que giro!
INQ2 Era a medida para saber…
INF1 Era a medida para saber se dava
INQ1 Era a medida para saber.
INF1 se dava um… Chamavam-lhe um quarteiro, ou se dava um trinta alqueires, ou dois quarteiros, ou dava três quarteiros ou se dava um moio de trigo.
INQ1 Sim.
INF1 Um moio de trigo era sessenta alqueires.
INQ1 Sim.
INF1 Pois.
INQ2 E o quarteiro eram vinte?
INF1 Um quarteiro eram quinze.
INQ2 Quinze alqueires.
INQ1 Quinze, pois.
INF1 Pois. São quinze alqueires.
INQ2 Portanto, um qua-, quatro quarteiros davam um moio?
INQ1 Davam um moio?
INF1 Davam um moio, pois.
INQ1 Pois. Ai que engraçado!
INF1 E era isso. E depois, pronto. Depois de estar ali metido, metiam faziam em sacos, sacos de cinco alqueires.