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LUZ16

Vale Chaim de Baixo, excerto 16

LocationVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
SubjectO sobreiro e a cortiça
Informant(s) Cirilo Ciro Cloé
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Como é que tira a cortiça?

INF1 A gente racha a cortiça.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Pois. A gente chegamos ao duma sobreira [pausa] Primeiramente, a cortiça [vocalização] as cortiças, [vocalização] ainda hoje ainda hoje se vierem pessoas fazer, calhando, a maior parte delas não sabem.

INQ1 Rhum.

INF1 Tira-se um trinco à cortiça. E é ali que a gente : a cortiça tem que ter nove anos. Ter nove ou ter dez, não é?

INQ2 Pois.

INF1 Se a gente tira com dez, pois [pausa] A cortiça está ali, como é que a gente sabe se ela tem nove, se tem dez?

INQ2 Pois.

INF1 Ou se tem onze? [pausa] Pois não. Tiramos um trinquinho à cortiça e depois Temos uma faquinha afiadinha, vamos ali e cortamos na cortiça. Pois. E depois de cortar na cortiça Aquilo a cortiça tem Se tem dez anos, tem dez linhas; [pausa] se tem onze anos, tem onze linhas. Pois.

INQ2 É assim que conhecem.

INF1 Pois. E a gente vai ali e às vezes aquilo não descobre bem, está a compreender? Se a gente não se descobre bem, a gente molha assim o dedo [pausa] e esfregamos assim na cortiça. [pausa] Hum?

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Pronto. Depois ali olhamos-lhe. Depois ali contamos: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove. [pausa] contamos dez linhas, ou nove linhas.

INQ2 Pois.

INF1 Pois. tem nove linhas. [pausa] se tira.

INQ1 Pois.

INF1 Pois. Agora não. Agora prantam um cinco, ou prantam um quatro, ou prantam um três, conforme é, conforme a era, pronto. "Olha, é duma era de mil novecentas e tantas"!

INF2 Mas é os que andam por .

INQ2 Pois.

INF1 E eu: "Olha, tem tantos anos"! Pronto, é chegar ao e tirar.

INQ2 Tirar, pois.

INF1 Não tem ciência nenhuma, aquilo! [pausa] De agora não tem ciência!

INQ2 Claro.

INF1 Quando chegarem ao duma sobreira

INF2 Pois.

INF1 Pronto, um vai ali! O que tinha ciência era às vezes ter que contar as linhas.

INQ2 Pois.

INF1 Que a gente às vezes malhávamos-se ali um belo pouco [pausa] a contar as linhas.

INF2 Pois.

INF1 E eles então fazem o seguinte agora: marcam logo as sobreiras que é para, que é que é para não não ter esse empate, não ter

INF2 Hoje . Pois.

INQ2 Pois.

INF1 Ser uma coisa Gastam o dinheiro logo, o que haviam de O tempo que os homens estavam ali à espera de contando aquilo Agora não. Agora enfiam-lhe a coisa e pronto.

INQ2 Põem a data, pronto. Põem a era.

INF1 Põem a data e tiram. Pois.

INQ2 Pois.

INF1 Naquele Naquele tempo era assim tudo.

INQ1 Então

INQ1 E depois como é que tirava?

INF1 Depois tirava-se. Depois a gente rachava. Ao meio do, da sobreira [pausa] Ao meio da sobreira, fazíamos um redondo em roda [pausa] da sobreira.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Com o machado, íamos ali cortando, fazíamos em roda. Depois de ter, cortávamos para baixo [pausa] em três ou quatro pranchas, não é?

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Arredávamo-las. [pausa] Depois deixávamos uma da parte da frente na parte da frente não se tirava e rachávamos por acima outra vez. [pausa] Pois. Rachávamos por acima e abríamo-la. E essa que ficava da parte da frente ficava ali. Pois. Abríamos aquela para para os lados, metíamos ali uns bocadinhos de cortiça dum lado, outros bocadinhos de cortiça do outro. [pausa] Quando a gente éramos sozinhos, íamos para cima depois, fazíamos o corte por cima nas pernadas, cortávamos as pernadas, fazíamos os cortes como havia de ser, empurrávamos as as pernadas para o chão, outras também do outro lado, e depois chegávamos ali ao do Às vezes estava uma pessoa por baixo. Quase sempre. E depois logo o resto aquilo saía tudo que era uma beleza! E essa folha que ficava ali na frente, que era para a gente subir para cima.

INQ2 Ah!

INQ1 Era para ajudar à?

INF1 Pois, era para a gente subir. E [vocalização] E hoje não. E hoje vão ao duma sobreira e levam uma escada.

INQ2 Pois, pois, pois.

INF2 Pois, hoje não.

INQ2 Então e essa, essa da parte da frente era a última a tirar?

INF1 Era a última a tirar.

INQ2 Pois.

INF1 Era a última a sair.

INQ2 Pois. Exactamente.

INF1 Pois.

INQ1 E depois o que é que faziam à cortiça que, que saía para fora?

INF1 [vocalização] Depois a cortiça, andavam os ajuntadores.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 A gente A gente era marchar de sobreira em sobreira.

INQ1 Ah!

INQ2 Pois.

INF1 Ver onde é que ela estava.

INQ2 Pois, pois.

INQ1 E os ajuntadores, que é que faziam?

INQ1 Que é que faziam?

INF1 Os ajuntadores iam , ajuntavam-no com uma corda. Traziam uma saca [pausa] assim por cima da cabeça, ao feitio de barrete.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Pois, ao fim duma saca feitio de barrete , enfiavam uma saca na

INQ1 Sim, sim.

INF1 Pegavam numa saca na cabeça e tinham uma corda com um cãimbro, um pau, assim [vocalização] uma coisa.

INF3 Um garrocho.

INQ1 Um pau de bico.

INF1 Um garrocho, pois. Tinha uma ponta por cima, depois estendiam a corda no chão, punham ali as folhas ali em cima, ali conforme [vocalização] conforme às vezes podiam Levavam um feixe de quatro, cinco arrobas, conforme, às vezes. Outras vezes levavam duas. Aquilo era conforme a cortiça que estivesse. Levavam as cordas, levavam para o roleiro.

INQ1 Para o rodeleiro?

INF1 P- Para os roleiros.

INQ2 Para o roleiro.

INQ1 Ah, para o roleiro!

INF1 Faziam roleiros.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 Faziam roleiros de cortiça, quer dizer, juntavam um moitão na barraquinha, era um roleiro de cortiça. Pois.

INQ2 Rhum-rhum.


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